Cidades

Suspeito de participar de execução vai a júri

Guilherme Goulart
postado em 23/03/2010 08:23
Começa hoje o julgamento de um dos acusados de envolvimento no assassinato de um jovem de 25 anos no Plano Piloto. Inácio Soares de Jesus, 30 anos, o Lalá, será julgado pelo Tribunal do Júri de Brasília por conta do primeiro caso confirmado de execução relacionada com o tráfico e o consumo de crack (subproduto da cocaína) na capital do país. O crime ocorreu em julho de 2008 em uma invasão na altura da 912 Norte. A vítima se viciou no entorpecente e, segundo as investigações realizadas pela 2; Delegacia de Polícia, na Asa Norte, roubou dinheiro dos traficantes para saldar uma dívida de droga.

O réu está preso no Complexo Penitenciário da Papuda desde agosto de 2008. Responde a processo por participação em homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, tortura e impossibilidade de defesa da vítima) e ocultação de cadáver. Testemunhas do crime ; as namoradas dos criminosos presenciaram a cena ; revelaram que, além de Lalá, dois homens e dois adolescentes tiveram envolvimento no assassinato. Valtemar Silvestre Ferreira de Almeida, 24 anos, o Caçula, e Márcio Rodrigues dos Santos, 36, o Jamaica, serão julgados em separado.

Os investigadores da 2; DP levaram cerca de 30 dias para localizar o corpo da vítima e prender os acusados. A apuração revelou uma morte marcada por brutalidade e crueldade. O jovem de 25 anos sofreu uma série de torturas antes de ser executado com cinco tiros em 10 de julho de 2008. A polícia encontrou o corpo abandonado em uma vala no meio da mata. Estava em avançado estado de decomposição. Tanto que o reconhecimento formal da vítima teve de ser realizado por meio de exame de arcada dentária.

A investigação apontou que o homicídio ocorreu por causa de um roubo para pagar dívida de R$ 1,1 mil com traficantes de uma boca de fumo de crack montada em meio ao cerrado. Entre eles, os cinco acusados. O morador da Asa Norte era frequentador assíduo do lugar, mas consumiu mais droga do que poderia comprar. Em uma das idas ao local, viu onde um dos criminosos guardava o dinheiro. Voltou sem ser visto e furtou a quantia. A dependência do entorpecente era tanta que usou as mesmas notas para saldar a dívida. Só não sabia que um dos donos da boca de fumo fazia marcações nas cédulas.

Espancamento
O jovem acabou amarrado em uma árvore. Recebeu socos, pauladas e coronhadas. Ainda tentou fugir, mas acabou perseguido e encurralado na mata. Segundo a polícia, Caçula é o principal suspeito de tê-lo assassinado a tiros. Por medo, os familiares da vítima não dão entrevista e pedem para manter o nome do jovem em sigilo. Caso seja condenado pelo Tribunal do Júri de Brasília às penas máximas previstas pelo homicídio e a ocultação de cadáver, Lalá será punido com 33 anos de prisão em regime fechado. A defesa dele sustenta que não existem no processo provas suficientes para condená-lo.

O segundo caso de morte por dívida de crack na capital do país ocorreu na área central de Brasília. Uma jovem de 18 anos morreu assassinada a pedradas em um terreno baldio, no Setor Bancário Norte. O crime ocorreu na madrugada de 4 de novembro de 2008. A investigação do caso ficou por conta da 5; Delegacia de Polícia (área central), que confirmou o envolvimento da vítima com o crack(1). A moça se prostituía com frequência para manter o vício. Há informações de que cobrava apenas R$ 20 para manter relações sexuais na zona central da cidade. Trocava o dinheiro por pedras.

1 - Crescimento
A primeira apreensão de crack no DF ocorreu em 2006, quando a Polícia Civil recolheu pouco mais de 2g da droga. Em 2007, a quantidade apreendida cresceu para 0,5kg. A partir de então, a circulação das pedras tomou conta da capital do país. Entre 2007 e 2009, cresceu mais de 800%.

O número
R$ 1,1 mil

Quantia que teria sido roubada pela vítima dos traficantes e que teria provocado o homicídio

Memória
Epidemia na capital

O assassinato do jovem morador da Asa Norte ocorreu antes mesmo da série de reportagens publicadas pelo Correio sobre a epidemia do crack na capital do país. Desde dezembro de 2008, o jornal denuncia o avanço do tráfico e o uso da droga na área central de Brasília, em Taguatinga e Ceilândia. As primeiras reportagens revelaram que a zona central do Plano Piloto estava tomada por traficantes e usuários das pedras. Regiões como o Setor Comercial Sul e o Setor de Diversões Sul (Conic) apareciam como os principais pontos de distribuição e consumo. Em 9 de janeiro do ano passado, o jornal mostrou que o comércio do crack saía da região central e avançava sobre a Asa Norte, local onde em julho de 2008 o jovem de 25 anos perdeu a vida. A reportagem se concentrou nas quadras 314 e 315 Norte e descreveu o movimento de traficantes e viciados entre as residenciais e as comerciais. A partir de então, outra sequência de reportagens aprofundou o tema. Em 2 de janeiro deste ano, o Correio voltou a mapear a Asa Norte e identificou pelo menos seis pontos de comércio e uso do entorpecente na região. Nos dias 11 e 17, o jornal descreveu o avanço do entorpecente nas áreas rurais e urbanas localizadas no Entorno do Distrito Federal, além de São Sebastião. (GG)

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