Cidades

Em 1963, uma poesia para Juscelino Kubitschek

postado em 21/04/2010 11:57
Em 1963, quando tinha apenas seis anos, Lélia Góis decorou uma poesia com sete estrofes escritas em quase duas páginas completas. Tudo tinha que sair perfeito, afinal, ela iria proclamar os versos para comemorar o aniversário de Juscelino Kubitschek, assistida por centenas de pessoas. ;Fiz até curso de proclamação para sair tudo perfeito;, conta.

A pouca idade não decepcionou os presentes na cerimônia realizada no Clube Unidade Vizinhança, na Asa Sul. Emocionado, o então presidente do Brasil abraçou a menina e disse: ;Obrigado, linda poesia;. Enquanto Lélia entregava uma corbélia de flores à JK, uma outra pessoa marejava os olhos de alegria por ver aquela cena. Era Luis Cardoso Góis, pai de Lélia e apaixonado pelo trabalho realizado pelo presidente e pela própria pessoa de Juscelino.

;Ele trabalhava no comitê de Juscelino e presenciar aquele momento foi como ter realizado um sonho;, relata Lélia. Hoje, com 50 anos (e alguns mais como prefere dizer) ela é psicóloga, mãe de três filhas e faz questão de repassar o amor pela cidade para as gerações seguintes. Com orgulho, ela não esquece as aulas que teve na infância e fez questão de proclamar toda a poesia de Madalena Correia para a reportagem do Correio, sem esbarrar em qualquer som ou entonação. ;Lembro de tudo e faço questão de repassar essa história. A poesia mostra o trabalho dos pioneiros e a esperança que Brasília trouxe para todo o país;, ressalta.

Confira o texto:

Brasília

Eu vi Brasília!
A Cida menina!
A cidade criança!
A cidade milagre!
A cidade esperança!
Eu vi Brasília!

Ritmo de aceleração
Retalham-se terras nuas
Em avenidas e ruas,
Lastra-se a obra em projeto,
Os gigantes de concreto
Pipocando no sertão;
E sangra a terra vermelha,
Rubra como a centelha,
Evola-se fina poeira
Em torno da construção.
Eu vi Brasília!

De noite como de dia,
Sua bárbara melodia
Ecoando na amplidão.
Sinfonia do trabalho:
Cantam pedras, tinem ferros,
Martela sonoro o malho,
Ao longe atroam berros,
Geme esmagado o cascalho
Sob o rolo compressor,
Rangem máquinas, turbinas,
Metralha o britador,
Zunem e silvam usinas,
Trepidam rodas da estrada.
Por todo o imenso planalto,
Geme na voz de contralto
A sereia agoniada.
Gritos, apitos, descargas
Guindastes levantam cargas
Estrepitam caminhões,
Despejam aos cem, aos mil,
Para intérminos serões.
Trabalhadores da noite,
Enquanto dorme o Brasil,

Enquanto, na noite, dorme
Tranqüilo o Brasil enorme,
Brasília está desperta,
Brasília não dorme não;
Pulsa, palpita, lateja
Como um grande coração
Eu vi Brasília ao luar!

Naquela vasta amplidão
De horizontes sem montanha,
Avultam ; visão estranha ;
Esqueletos de armação,
Assim, imensos, distantes,
Como fantasmas gigantes.

E no veludo da noite,
A luz da lua azulada,
Qual rara jóia cintila
O Palácio da Alvorada.

Eu vi Brasília!

A cidade menina!
A cidade criança!
A cidade milagre!
A cidade esperança!

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