Cidades

Fazer cursos, quase uma expedição

Formações mais específicas em turismo de aventura são escassas em Brasília. Resta aos interessados qualificar-se no exterior ou esperar a vinda dos grandes nomes internacionais

postado em 25/04/2010 21:01
Quando o assunto é turismo de aventura, prática apenas não basta. É preciso qualificação para ganhar dinheiro na área e transmitir segurança aos clientes. O descuido de alguns condutores pode causar riscos durante a atividade. Para colaborar nessa escalada, até a tecnologia entra em ação. O Ministério do Turismo, em parceria com a Associação Brasileira das Empresas de Turismo de Aventura (Abeta) e o Sebrae Nacional, desenvolveu o programa Aventura Segura. Por meio da iniciativa, os profissionais têm acesso aos cursos de competências mínimas de um condutor e de primeiros socorros. Ambos são gratuitos e feitos a distância.

O programa já capacitou mais de 4,8 mil condutores e também é oferecido de forma presencial em 16 destinos; o mais próximo de Brasília está na Chapa dos Veadeiros (GO). Baseado em regras da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), o curso oferece um conhecimento inicial para aqueles que querem atuar como condutores. As competências específicas precisam ser adquiridas em outros treinamentos, ainda escassos no Distrito Federal.

Taís Arantes, coordenadora de cursos da Abeta, revela que, em breve, o projeto passará a oferecer as capacitações mais aprofundadas. Outro projeto previsto é o Bem Receber Copa 2014, que vai preparar os profissionais para receber os estrangeiros que chegarão ao país por conta do campeonato mundial de futebol. ;É mais uma proposta de qualificação de condutores;, comemora Taís. Confirmada como uma das sedes da Copa 2014, Brasília terá a chance de se tornar a capital de aventuras, apostam os empresários do ramo.

Os hotéis-fazendas também oferecem cursos por meio de parcerias fechadas com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Distrito Federal (Senar). Treinamentos em arvorismo, primeiros socorros e guia em turismo rural são algumas das opções oferecidas. Com duração de até 40 horas, as aulas geralmente são realizadas nas zonas rurais do DF.

Tipo exportação
Enquanto a oferta de qualificações mais específicas é baixa no DF, há muita gente que incrementa o currículo no exterior ou com profissionais de fora do Brasil. Como o instrutor de canionismo Cristiano Fortes. Em 2005, ele conheceu um instrutor alemão filiado à Comissão Internacional de Canionismo e propôs para que ele ministrasse uma aula no Brasil. ;Detalhes como salvamento e protocolo de segurança foram aspectos importantes do aprendizado;, analisa.

Aos 32 anos, o bacharel em educação física pratica o esporte desde os 22. A prática começou quando Cristiano e um grupo de amigos passaram a explorar possíveis locais para a atividade nos arredores do Distrito Federal. ;O praticante é diferente do profissional. Como encontrar cursos no Brasil ainda é muito difícil, a prática intensiva muitas vezes é a opção encontrada pelos praticantes de diversos esportes;, explica.

Assim como Cristiano, muitos condutores possuem formação em educação física. O colega de aventura, o empresário Maurício Martins, concluiu a graduação, mas foi além. Fez também o curso de turismo. ;Toda essa formação ajuda a entender o esporte como um todo;, analisa. Segundo o vice-presidente do Conselho Nacional de Educação Física, João Batista Tojal, a categoria está mais preparada para exercer as atividades ligadas ao esporte. Mas ele acredita que não se deve incluir matérias específicas de esportes de aventura na graduação. ;O profissional adquire a base de tudo na educação física, mas especializações específicas devem ser procuradas fora do curso regular;, afirma.

Para ajudar ainda mais na capacitação de profissionais candangos, Maurício convidou a Comissão Internacional de Canionismo para dar cursos na capital do país. Na função de guia assistente, ele conta que, além da atualização com novas técnicas, a oportunidade ampliará as áreas de atuações dos condutores. ;Quanto melhor o conhecimento, mais diversão o turista tem;, conclui.

Panorama
Formações mais específicas em turismo de aventura são escassas em Brasília. Resta aos interessados qualificar-se no exterior ou esperar a vinda dos grandes nomes internacionais

Cadastro único para ficar mais seguro


Assim como em Brasília, em outras cidades, muitos praticantes de esporte de aventura acreditam estar habilitados a conduzir turistas. Sem uma entidade nacional de cadastramento, os profissionais se organizam em federações ou comissões. Mesmo com as iniciativas de organização, ainda é difícil identificar se, durante o passeio, você está ou não sendo conduzido por um profissional qualificado.

Para evitar acidentes e problemas com condutores e instrutores sem capacitação, o senador Efraim Moraes (DEM-PB) apresentou, em 2005, um projeto de lei que prevê a criação de uma administração do desporto, onde os profissionais deveriam comprovar sua qualificação e operação com equipamentos. O projeto aguarda aprovação no plenário do Senado para que possa ser encaminhado para a Câmara.

Segundo a assessoria do senador, passaria a ser de responsabilidade do Departamento de Qualificação de Certificação de Produção Associada ao Turismo, vinculado ao Ministério do Turismo; e Departamento de Esporte de Base de Alto Rendimento, vinculado ao do Ministério do Esporte, definir as regras para a certificação dos profissionais.

Mas o coordenador de qualificação e certificação do Ministério do Turismo, Luciano Paixão, explica que ainda não existe um cadastro que unifique os condutores de turismo de aventura. ;Por enquanto, temos o programa Aventura Segura para a capacitação de profissionais e empresas. Dessa forma, temos um cadastro das empresas que fazem parte desse programa;, explica. Como opção, ele indica aos profissionais que façam parte do Cadastur, um sistema de cadastro de pessoas físicas e jurídicas que atuam na cadeia produtiva do turismo.

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