Cidades

Desperdício e burocracia atacam a saúde pública

postado em 27/04/2010 07:58
Rosso esteve no estoque da Secretaria de Saúde: remédios no fim da validade e equipamentos encaixotadosLotes de medicamentos próximos do vencimento e equipamentos encaixotados por falta de parecer, ou porque não tiveram o patrimônio registrado pelo GDF. Foi essa a realidade encontrada ontem pelo governador Rogério Rosso ao visitar o Parque de Apoio da Secretaria de Saúde, no Setor de Indústrias Gráficas ; onde fica o estoque do órgão. Antes da visita, o governador passou a manhã despachando no Hospital Regional da Asa Norte (Hran).

;As instalações para medicamentos e equipamentos são ruins e não permitem que o funcionário trabalhe direito. Milhões de reais comprados pelo DF precisam de apoio e controle;, afirmou ao governador ao constatar pilhas de caixas de um lote de medicamentos que vence em maio de 2010 ainda no estoque da Secretaria de Saúde. Outro problema é a falta de pareceristas para avaliarem e liberarem equipamentos. Os profissionais responsáveis pela liberação são médicos da própria secretaria que, além de suas funções, devem averiguar se as aquisições feitas pelo GDF atendem as normas exigidas para os seus respectivos usos. Entre os equipamentos parados por conta da burocracia estão 30 bisturis eletrônicos no valor total de R$ 252 mil. ;Pedi providências para o secretário de Saúde para que, ainda nesta terça-feira, os pareceristas venham aqui liberar esses equipamentos;, afirmou o governador. Também estão no estoque um refrigerador, duas incubadoras neonatais, oito aparelhos de raios X, além de equipamentos industriais (Leia quadro).

Segundo o secretário de Saúde, Joaquim Barros, apenas em abril, 5 mil equipamentos foram liberados para unidades hospitalares. Isso graças a uma força-tarefa. De acordo com o prazo fixado por Rosso, os equipamentos ainda no estoque devem estar nos hospitais até o fim desta semana. ;Vamos nomear os coordenadores ou pareceristas para que tudo seja feito o mais rapidamente possível;, destacou Barros.

Nomeações
O governador Rogério Rosso ainda não terminou a composição do primeiro escalão de seu governo, mas antes que isso ocorra terá de substituir um dos primeiros cargos a serem definidos. Rosso deslocará a delegada Adryani Fernandes Lobo da Companhia de Desenvolvimento Habitacional (Codhab), para onde havia sido nomeada, para uma subsecretaria de Cidadania e Justiça. Quem assumirá o lugar da delegada que nem chegou a tomar posse é César Melo ; ele já participava do governo. A troca ocorreu, segundo informou a assessoria de imprensa do GDF, em função de um problema de saúde de Adryani.

Até as 20h30 de ontem, a cúpula do governo ainda discutia a formação de governo. Até esse horário, o Diário Oficial do DF estava em aberto. Um dos cargos debatidos entre o governador e seus principais aliados era o de secretário de Obras. O presidente do PMDB no DF, Tadeu Filippelli, deve indicar Davi Matos para a pasta. Para a Secretaria de Educação, discute-se a possibilidade de o PDT apresentar o nome de Marcelo Aguiar, que no governo de José Roberto Arruda foi secretário de Educação Integral. Até o fechamento desta edição, os nomes, no entanto, não haviam sido confirmados oficialmente.

Dentro de um acordo no qual os distritais aliados terão voz na composição de governo, o deputado Cristiano Araújo (PTB) sugeriu quatro nomes para a Secretaria de Trabalho. Um deles é o do próprio tio, o atual administrador do Paranoá, Artur Nogueira. Ele foi nomeado para comandar a administração pelo ex-governador José Roberto Arruda, em janeiro do ano passado. Nogueira é irmão da mãe do distrital. O candidato à vaga é empresário e filiado ao mesmo partido do sobrinho. Nas eleições indiretas, Cristiano não votou na chapa encabeçada por Rosso.

Colaboraram Lílian Tahan e Luísa Medeiros


Sem uso

Confira lista com alguns equipamentos que permanecem no estoque da Secretaria de Saúde:


Seis notas no valor de R$ 200 mil em equipamentos industriais e material médico hospitalar não específico da área biológica, como fogões e liquidificadores industriais, a serem liberados para Santa Maria. O parecerista da Secretaria de Saúde responsável por avaliar os equipamentos não hospitalares, como nesse caso, foi exonerado em fevereiro deste ano e não foi substituído.

Trinta bisturis eletrônicos no valor total de R$ 252 mil também estão no estoque há três meses por falta de parecer, que deve ser dado por um médico especialista do órgão que exerce a função.

Um refrigerador usado para análises laboratoriais aguarda há quatro meses liberação, mas falta o registro de tombamento ; uma simples placa afixada no material que indica o número do patrimônio do GDF.

Duas encubadoras neonatais que aguardam perícia e registro de tombamento desde outubro de 2009.

Três aparelhos de raios X fixos, quatro de teto e um móvel, que aguardam desde abril de 2009 que a estrutura no Hospital Regional de Brazlândia, para onde serão destinados, seja concluída.


Análise da notícia
Ideologia x pragmatismo

O Partido dos Trabalhadores no DF vive uma crise típica dos partidos quando têm ao alcance das mãos a perspectiva de poder, que quase sempre é entregue pelos eleitores aos candidatos e partidos considerados mais fortes ; leia-se: com mais tempo de televisão, mais dinheiro para a campanha e mais popularidade. Numa ponta do dilema, está o risco de incoerência aos princípios ideológicos. O PT fez oposição às duas últimas administrações, das quais o PMDB foi peça da engrenagem. Na outra ponta do ser ou não ser governo, petistas imaginam que se aproximar do grupo da situação é o caminho mais objetivo para vencer as eleições. Afinal, avaliam, de que adianta tanto apego aos princípios partidários se puritanismo nem sempre está entre os critérios determinantes numa disputa por votos? Se vencer a corrente mais apegada aos argumentos pragmáticos de um pleito, ela terá como respaldo a postura da direção nacional do PT, que, há oito anos, divide o trono com o PMDB, primeiro para chegar ao poder e depois como tática de sobrevivência no comando. (LT)

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