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Prainha do Gama está entregue às moscas

Comunidade local se ressente do abandono em que se encontra o parque recreativo da cidade, que, após quatro décadas funcionando como ponto de lazer, hoje virou um local sem nenhuma segurança

postado em 26/05/2010 08:46
Pouco depois de surgir no cenário nacional, o Distrito Federal ganhou seu primeiro parque ecológico, criado em 1961, no Gama. A entrada era gratuita e os frequentadores tinham à disposição 744 hectares de área verde, tanques de água corrente, um córrego cristalino e muitos pontos de cerrado intocado. Durante mais de 40 anos, gente de todas as cidades próximas passou por lá em busca de sombra e água fresca. Desde 2002, porém, o espaço caiu no esquecimento. O governo pretende revitalizar o parque e, segundo o Instituto Brasília Ambiental (Ibram), o plano de manejo ambiental deve ser concluído em junho. Até lá, o Parque Recreativo do Gama, popularmente conhecido como Prainha, continuará a ser o resquício de um cenário paradisíaco arruinado pela poluição, pela falta de segurança e pelos problemas fundiários que marcam o DF.

Vista geral do Parque da Prainha, como é conhecido na cidade: a água, antes cristalina, hoje exala mau cheiroNa memória do professor de geografia Francisco Paiva, 48 anos, a Prainha de 30 anos atrás era um ponto de encontro(1) dos moradores, com árvores frondosas e areias brancas. ;E uma água puríssima. Dava para ver uma moeda no fundo do córrego;, recorda, referindo-se ao Córrego do Alagado, que margeia o parque.

Em meados de 2002, chegou a funcionar como clube, e o empresário que passou a explorar o local melhorou a estrutura do restaurante, da lanchonete, reformou e instalou uma bomba nas duas piscinas e criou um canal de escoamento para que as águas das piscinas fossem vertidas para o Córrego do Alagado. Mas uma varredura nos contratos, feita pela Secretaria de Administração de Parques e Unidades de Conservação do DF, Comparques, então responsável pelo local, considerou o contrato ilegal. Ao perder a concessão, o empresário retirou boa parte das melhorias que implementou. A administração do parque voltou para as mãos do governo e nenhuma reforma na infraestrutura foi feita desde então.

Perigo à vista
Quem cruza a guarita, completamente depredada e pichada, tem de enfrentar uma estrada de terra esburacada, em meio ao mato alto que cerca a reserva. Apenas as trilhas ecológicas e o Centro de Educação Ambiental, que recebe alunos, professores e pesquisadores, estão disponíveis. As piscinas estão secas, o córrego exala mau cheiro e, como o parque se situa na divisa entre DF e Goiás, é afetado pela criminalidade dos bairros limítrofes. ;Virou um ponto de desova de veículos, assalto e tráfico de drogas;, relata Hugo Gutemberg, administrador dos Parques do Gama. Os funcionários não recomendam que ninguém circule sozinho pela mata. A área de reserva biológica do Gama, contígua ao parque, está sendo invadida por posseiros. No quadro de funcionários, constam cinco responsáveis pela limpeza e pela manutenção das construções erguidas dentro da área verde, 12 vigilantes, sendo três por turno, três agentes de parques, o administrador e um assessor.

A Prainha nunca teve um plano de manejo ambiental. ;O ideal é que, assim que o parque fosse criado e registrado em cartório, já pudesse dispor desse planejamento. Não sei por que demorou tanto neste caso, mas já deveria estar pronto;, avalia a diretora de Administração de Parques do Ibram, Eliana Fortis. Ela explica que, após a conclusão do plano, o espaço será transformado em parque distrital, regido pelas mesmas regras dos parques nacionais, que permitem apenas pesquisas, caminhadas em trilha e visitações guiadas.

Segundo Eliana, haverá um trabalho para retirar as invasões da área de reserva biológica. As construções serão revitalizadas e novas vias de acesso serão abertas. Serão instalados ainda um circuito inteligente e a Praça da Vitalidade, onde pessoas da terceira idade poderão se exercitar. Uma passarela será construída dentro da poligonal do parque e um grupo de funcionários do Ibram já desenha o projeto de um novo centro multiuso.

A qualidade da água também preocupa a equipe que cuida do local. Eles atribuem seu mau estado a uma fábrica de bebidas do Gama, que passou a despejar substâncias no afluente do córrego; ao Presídio Feminino do Gama, Colmeia, que elimina despojos no local; e à Estação de Tratamento de Água e Esgoto (ETE) de Santa Maria.

Segundo o superintendente de Operações e Tratamento de Esgoto da Caesb, Carlos Eduardo Pereira, a Estação de Santa Maria faz tratamento em nível terciário, que, além de retirar dejetos orgânicos e matéria em suspensão na água, elimina as algas. ;O córrego retornou à vida, há peixes, o nível de oxigênio é alto;, garante. Pereira sustenta ainda que tanto a cervejaria quanto o presídio ajustaram seus sistemas e lançam apenas esgoto tratado no córrego, com impacto reduzido ao meio ambiente. Mas adverte: ;Em nenhuma situação é possível tomar banho perto de áreas de esgoto tratado;.

1 - Tema de música
Em outubro de 2009, o tema do 25; Festival de Música Popular do Gama foi a revitalização do Parque da Prainha. Além de artistas locais, o evento contou com shows das bandas Raimundos e Plebe Rude, da dupla Zé Mulato e Cassiano e do músico Paulinho Pedra Azul. A intenção era chamar atenção para um dos principais pontos de lazer do Gama, que atualmente funciona em situação precária.

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