Cidades

Apagão cria oportunidades

A mesma escassez de mão de obra que dificulta o crescimento da economia abre chances de contratação em vários setores, como construção civil, indústria e comércio

postado em 15/08/2010 08:55
O apagão da mão de obra qualificada no Distrito Federal serve como impulso para quem está à procura de um espaço no mercado de trabalho. Em junho, a capital do país registrou a menor taxa de desemprego dos últimos 16 anos. Mesmo assim, há um batalhão de 200 mil pessoas à espera de oportunidade em todo o DF. Especialistas sustentam que, diante do cenário atual, este é o momento para conquistar uma vaga. Os setores que mais necessitam de pessoas qualificadas são a construção civil, o segmento de tecnologia da informação, o comércio varejista e o setor de serviços.

O mínimo de especialização, aliado a habilidades nas relações humanas ; que extrapolam qualquer formação acadêmica ;, pode ser suficiente para garantir um emprego. A vontade de aprender e a capacidade de lidar com diferenças continuam sendo um importante diferencial. Toda semana, empresários de todos os setores batem à porta da Rhaiz, consultoria em recursos humanos. Querem ajuda na busca de profissionais preparados para exercer diversas funções, das mais simples às mais elitistas. ;A situação é extremamente grave;, afirma a psicóloga e sócia-diretora da empresa, Carmen Cavalcanti.

Alunos de engenharia civil estão sendo sondados nas instituições de ensino, antes mesmo de concluírem o curso. Na semana passada, representantes da Petrobras estiveram na UnB à procura de engenheiros recém-formados, por exemplo. ;Brasília vive um boom da construção civil. Não se encontra na cidade engenheiros aptos para supervisionar obras;, exemplifica.

A ânsia pela tal estabilidade oferecida pelos concursos públicos acentua a dificuldade em encontrar bons profissionais disponíveis no mercado. ;Por conta disso, existe uma zona de conforto. A expectativa que as pessoas têm em relação ao trabalho em Brasília costuma estar vinculada a um certo comodismo;, observa Carmen. ;Não estou dizendo que não há grandes nomes na área pública. Mas a iniciativa privada exige energia, cabeças pensantes. Não está em busca de gente com o objetivo apenas de obter excelentes salários e poucas horas de trabalho;, reforça.

O fenômeno da falta de mão de obra especializada provoca reflexões sobre o mercado de trabalho. Para o economista do Dieese Tiago Oliveira, a situação pode estar relacionada aos salários oferecidos. ;Os empresários nunca vão reconhecer isso. Mas, muitas vezes, exige-se um nível de qualificação que não corresponde ao que eles se propõem a pagar;, pondera Oliveira, também preocupado com a realidade no DF. ;Que economia vamos construir, se os bons vão para o concurso público ou mudam de cidade?;, questiona.

Postos vazios
Na MGarzon Eugênio Inteligência Imobiliária, há pelo menos 50 vagas abertas para corretores e cargos de gerência. Mas a responsável pela área de recursos humanos da empresa, Daniele Bahia, não consegue preenchê-las. O mercado imobiliário nunca teve tão aquecido na capital federal, e a previsão é que o número de empreendimentos lançados não pare de crescer. No entanto, falta gente preparada ou mesmo disposta a aprender. ;Vemos muitos candidatos acomodados. Querem ganhar dinheiro e pronto. Se falamos da necessidade de estudar já complica;, afirma.

De olho nas carências do mercado, instituições de ensino abrem cursos específicos para preparar mão de obra. A União Educacional de Brasília (Uneb) criou no ano passado a especialização em gestão e negócios imobiliários. A procura foi tanta que será preciso abrir pelo menos mais uma turma, segundo o diretor Pedro Ivo Hermida. ;Nosso portfólio é montado depois que observamos as lacunas do mercado da cidade;, diz. Segundo ele, empresários de todos os setores o procuram para demandar novos cursos. ;O curso de gestão de negócios em eventos, que está com inscrições abertas, é um exemplo.;

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação