Cidades

Vigia é espancado por baderneiros em Samambaia

Depois de ligar para a polícia e não ter a demanda atendida, morador da cidade enfrenta grupo que fazia festa diante da casa dele. Agredido, sofreu fissura no crânio

Luiz Calcagno
postado em 11/01/2011 07:46
Na segunda noite sem dormir por causa do som alto e após três ligações para a Polícia Militar que não resolveram o problema, um vigia de 57 anos, morador do Conjunto 11 da QR 429, em Samambaia Norte, decidiu enfrentar ele mesmo os baderneiros que faziam festa em frente à casa onde mora. Com uma faca na mão, por volta da 1h30, ele entrou no meio do grupo, que respondeu à ameaça do senhor com cadeiradas de ferro. O vigia levou a maioria dos golpes na cabeça, ficou inconsciente e, após cair no chão, foi chutado diversas vezes até que o filho e o genro pediram para os agressores pararem e levaram a vítima para o Hospital Regional de Samambaia (HRSam).

Hematomas no rosto do vigia: os agressores só pararam de bater após a intervenção de parentes da vítimaA cena de brutalidade aconteceu no último domingo. O som alto e a festa, que seria regada a álcool e drogas, recomeçaram depois que o homem foi socorrido. O vigia levou 12 pontos, sofreu uma pequena fissura no crânio e ficou com um olho roxo. Ele reconhece que não devia ter enfrentado os agressores. Mas também aponta omissão da Polícia Militar. ;Eu liguei para eles às 21h, às 21h30 e depois das 22h. Liguei para o 190 mais de 10 vezes. Eu falhei. Simplesmente não aguentei. Mas o que mais me indignou foi a ausência da polícia. Era 1h, ninguém tinha vindo e minha casa estava tremendo com a música;, relatou.

O vigia acredita que, se a polícia tivesse aparecido ao menos uma vez, o incidente poderia ter sido evitado. Ele contou ainda que, na sexta-feira, um grupo ficou com o som alto até tarde da noite. No sábado, outro grupo estacionou na quadra. Segundo testemunhas, os baderneiros teriam ligado o som à fiação elétrica por meio de uma gambiarra. Um dos responsáveis pela festa seria traficante e vizinho da vítima. ;Eles usam drogas direto aqui. Eu não quis registrar ocorrência porque fui ao local com uma faca. Estava muito nervoso. Não sou disso. Todo mundo na vizinhança me conhece. Me sinto horrível com isso. É muito revoltante;, desabafou.

Ele ressaltou que não quer brigar. Só não quer perturbação. O senhor é vizinho de parte dos agressores e provavelmente irá encontrá-los na rua em algum momento. Questionado, disse que não teria problemas, mas que também ;não havia nada a se fazer;. ;Minha família ficou muito assustada. Minha filha, meu filho, minha mulher, todo mundo. Quero é que não me provoquem. Claro que vou encontrá-los novamente. Moramos na mesma rua. Não posso simplesmente largar minha casa. Mas seria melhor se eu tivesse o apoio da polícia;, concluiu.

Tráfico
As festas ocorrem na quadra semanalmente. O local também é ponto de uso e tráfico de drogas, principalmente maconha e crack. Viciados e traficantes ocupam a quadra de esportes, muitas vezes, no começo da tarde. Uma comerciante que não quis se identificar disse que também chamou a polícia na noite do espancamento. ;Sempre que tem algum problema, a gente chama, mas eles nunca vêm. Só que dessa vez Local do espancamento, no Conjunto 11 da QR 429: ponto de tráficotiraram sangue de um senhor. Não veio nenhuma viatura antes nem depois. Aqui é tudo liberal demais. Quem fuma maconha não respeita nem as crianças;, contou.
O também vigia Rafael Alves contou à reportagem que as drogas fazem parte da rotina dos moradores.

Segundo ele, o uso de entorpecentes na quadra é dividido em turnos. ;À tarde é a maconha e à noite é o crack. Os viciados sentam embaixo das árvores e o pau quebra;, disse. De acordo com Rafael, os viciados usam varas para roubar roupas e tênis nos varais dentro das casas. ;Na semana passada, eles roubaram um fogão da casa do meu irmão. Geralmente grupos de quatro ou cinco cercam mulheres e as forçam a dar dinheiro. A gente nem registra mais ocorrência porque não acontece nada depois;, reclamou.

O delegado-chefe da 26; Delegacia de Polícia (Samambaia Norte) disse que a situação da QR 429 não é diferente de várias outras quadras da cidade. Ele afirmou também que é crucial que a população registre ocorrência e cobre um retorno das autoridades. ;Fizemos uma operação na QR 209 em conjunto com a Polícia Militar para combater o tráfico há algumas semanas e vamos estendê-la a toda a nossa área. O trabalho é feito em cima das ocorrências. Não deixamos os registros abandonados;, garantiu.

Segundo o comandante do 11; Batalhão de Polícia Militar de Samambaia, tenente coronel Lima Filho, a PM não pode atender os pedidos do vigia porque todos os carros estavam ;empenhados; em outros trabalhos. ;De fato isso ocorreu e, quando é assim, recomendamos que os moradores aguardem. Vamos apurar o que aconteceu;, afirmou Lima Filho.

Crescimento
A primeira apreensão de crack no Distrito Federal ocorreu em 2006, quando a Polícia Civil recolheu pouco mais de 2g da droga. Em 2007, a quantidade apreendida cresceu para 0,5kg. A partir de então, a circulação das pedras tomou conta da capital do país. Entre 2007 e 2009, por exemplo, cresceu mais de 800%. Hoje, difundido em toda a região, é um problema social.

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Agressão no posto
O oficial da Aeronáutica Anísio Oliveira Lemos, 46 anos, foi espancado após ir à loja de conveniência do posto de combustível BR da 214 Sul para pedir que um grupo baixasse o som. As agressões ocorreram em 15 de maio de 2010, um sábado, e o militar também havia procurado a polícia por diversas vezes, sem receber retorno. Os agressores foram indiciados por tentativa de homicídio. Um dos homens que espancou Anísio chegou a enforcá-lo e depois fingiu que o ajudava, quando a mulher da vítima e um vizinho chegaram para prestar socorro.

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