Cidades

Mulheres já ocupam 10% das vagas nas portarias dos prédios da capital

Atenciosas e responsáveis, elas conquistaram a confiança dos síndicos e moradores

postado em 19/06/2011 16:11
Simone está na guarita do Bloco I da 212 Norte há quatro anos: fase das piadinhas já foi superadaO visitante chega ao prédio e, em vez de um porteiro, se depara com uma mulher dentro da guarita, controlando quem entra e sai do edifício e atenta às câmeras de segurança. Enquanto a moça cumpre várias tarefas simultâneas, ele, desatento, pergunta: ;A senhora pode chamar o porteiro, por favor?;. O visitante fica surpreso com a resposta: ;O senhor está falando com ele;. A cena ocorreu recentemente em um bloco residencial da Asa Sul. O engano se justifica. Comandar a portaria, até pouco tempo, estava entre as funções consideradas típicas deles.
Alguns empregadores alimentam a ideia de que, pela força física, homens impõem mais respeito. Esse conceito, porém, começa a perder espaço nessa profissão. De acordo com dados do Sindicato dos Trabalhadores em Condomínios e Imobiliárias (Seicon), há, em média, 10 mil porteiros no Distrito Federal. Desses, pelo menos 10% ; mil ; são mulheres. Vestidas em ternos pretos e de salto alto, elas são as responsáveis por guardar a segurança dos lares de milhares de famílias em todo o DF.

Na 212 Norte, as profissionais do sexo feminino têm a preferência dos síndicos. Três prédios da região são cuidados por porteiras. Os administradores dos condomínios garantem: o serviço melhorou com a chegada delas. ;Mulheres, em geral, são mais atenciosas, responsáveis. Elas prezam pelo emprego, afinal, há mais vagas para homens do que para elas nessa área;, afirma o síndico do Bloco I da 212 Norte, Flauzino Gonçalves. Apesar de zelarem pelo bem-estar dos moradores, é preciso diferenciar as tarefas exercidas por elas das realizadas por seguranças. ;Se alguém chegar aqui armado querendo assaltar, nenhum dos dois poderá evitar. Essa não é a função do porteiro. Ele é um guardião, precisa vigiar constantemente, identificar estranhos;, esclarece Gonçalves.

Há quatro anos, a agente de portaria Simone Ferreira da Silva, 32 anos, passou a trabalhar no Bloco I da 212 Norte. O primeiro cargo foi o de faxineira, e ela logo recebeu uma promoção. ;No começo, tive de aguentar as piadinhas dos colegas. Eles achavam até que eu estava envolvida com o patrão. Puro preconceito. Mas respeito a gente dá para receber. Hoje, todos me tratam com igualdade;, diz Simone. Moradora de Santa Maria, ela sai de casa cedinho, às 5h, e pega um ônibus lotado. Antes das 7h30, ela já está no trabalho. Cumpre escala de 12 horas e folga 36 horas, ou seja, trabalha dia sim, dia não. ;Nós, mulheres, somos capazes de tudo;, garante.

Bons exemplos
O prédio em que Simone trabalha conta ainda com uma zeladora, Maria Benilde dos Reis, 44 anos, moradora de Sobradinho, que festeja ao ver as conquistas femininas. ;Lá em casa, eu troco lâmpada, faço todo o serviço pesado. Temos uma presidente mulher. Homens dão problema demais: bebem, perdem a hora, faltam ao serviço e arrumam rabo de saia para se distrair;, brinca a zeladora.

Em frente ao Bloco I da 212 Norte fica o edifício K, também com uma mulher na portaria. Lá, o nome da encarregada pelo serviço é Cláudia Costa Brito, 36 anos, moradora de São Sebastião. É ela quem, há 10 anos, autoriza as entradas e monitora o movimento. Cláudia é a mais experiente porteira da quadra. ;Os moradores gostam muito da ideia de ter uma mulher na portaria. Mas, infelizmente, a gente ainda sofre preconceito. Tem gente que pensa: ;Elas não vão conseguir.;;

Perto dali, no Bloco H, é Sirlei Roman Ros, 41 anos, que vive no Varjão, a responsável por atender os condôminos e visitantes. Ela começou a trabalhar por convite de uma moradora. Antes de ser porteira, Sirlei era atendente em uma loja. ;O trabalho que tenho hoje é gratificante, porque demanda muita responsabilidade e confiança. A mulher precisa, ao mesmo tempo, ser séria e simpática;, ensina Sirlei.

A presença dessas profissionais é vista hoje em várias regiões do DF. No Centro de Atividades do Lago Norte, também há mulheres nas guaritas. Rosecleide Izibro da Silva, 25 anos, é uma delas. Está há seis anos no cargo e é o braço direito da síndica. ;Nunca tive problema. Nós atendemos melhor as pessoas, somos mais organizadas, conversamos melhor. Só temos vantagens e competência;, diz, orgulhosa. Nas horas de folga, Rosecleide faz faxinas. Com o esforço, já conseguiu comprar um carro. O salário da categoria é em média, de R$ 650.

Apesar desses exemplos, segundo o diretor do Seicon, Paulo Inácio Cardoso, a maior parte dos patrões ainda procura por homens. ;Quem pensa desse jeito ainda não conhece a força das mulheres. Elas dão de 10 a zero em muitos homens por aí, usando só a força intelectual;, elogia. A síndica do Edifício Porto do Lago, localizado no Lago Norte, Maria Nilza Guimarães, defende a contratação feminina. ;Temos uma mulher trabalhando conosco e já pensamos em contratar várias outras.;

O trabalho que tenho hoje é gratificante, porque demanda muita responsabilidade e confiança. A mulher precisa ser séria e simpática, ao mesmo tempo;

Sirlei Roman Ros

Os moradores gostam muito da ideia de ter uma mulher na portaria. Mas infelizmente a gente ainda sofre preconceito. Tem gente que pensa: elas não vão conseguir;

Cláudia Costa Brito

Nós atendemos melhor as pessoas, somos mais organizadas, conversamos melhor. Só temos vantagens e competência;

Rosecleide Izibro da Silva

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