Cidades

Preços de imóveis usados no Guará e Cruzeiro superam os de Águas Claras

postado em 05/07/2011 08:00
No Lago Sul, um dos bairros mais nobres da capital federal, os preços dos imóveis ainda são os mais altos em números absolutos...
Os preços médios de imóveis usados em regiões como Guará e Cruzeiro superaram os observados em Águas Claras e, em alguns casos, também deixaram para trás valores cobrados nas áreas mais nobres do Plano Piloto. Para especialistas ouvidos pelo Correio, os números do último boletim mensal do Sindicato da Habitação do Distrito Federal (Secovi-DF), referentes a maio, refletem a pulverização do superaquecido mercado imobiliário local e o freio da valorização de casas e apartamentos no centro de Brasília, após o boom dos últimos cinco anos.

O Secovi considera Brasília as asas e os lagos Sul e Norte, além do Sudoeste. Nessas localidades, os valores absolutos dos imóveis ainda lideram o ranking de preços. Em relação ao preço do metro quadrado, no entanto, o boletim do sindicato aponta, em maio, situações inusitadas. O Cruzeiro aparece com o preço mais alto: R$ 4 mil, contra R$ 3.726 em Brasília, no segundo lugar. O metro quadrado de apartamentos de três quartos no Guará (R$ 5.225) só é menor do que o encontrado no Plano Piloto (R$ 7.863). A tendência, estima o mercado, é que os dados se aproximem ainda mais.
... mas no Cruzeiro, a melhoria das construções elevou o valor do m²
A escalada de preços no Cruzeiro não espanta o vice-presidente do Secovi-DF, Ovídio Maia. Ele destaca que o padrão das casas tem melhorado bastante, o que ajuda a aumentar a velocidade de venda e valorizar o bairro. Há casas sendo completamente demolidas para dar espaço a novas residências. ;Os anúncios de venda não duram muito tempo;, comenta Maia. Além disso, o tamanho dos terrenos no Cruzeiro é bem menor do que nos lagos Sul e Norte e nas quadras 700. ;Quanto menor a área, maior o preço do metro quadrado;, reforça o vice-presidente.

Localização
Diretor de uma das mais tradicionais imobiliárias do DF, Paulo Baeta acredita que o aumento dos preços no Cruzeiro se deve à localização privilegiada, bem próximo do Eixo Monumental. O fato de o bairro ser pequeno, com pouca oferta de imóveis, também contribui para o cenário indicado pelo boletim do Secovi, na opinião dele. ;O mercado percebe que, de modo geral, a questão do trânsito está cada vez mais sendo levada em conta. Quem tem condições faz o possível de morar perto do local de trabalho;, acrescenta Baeta.

A tese é reforçada pelo diretor comercial de outra imobiliária, Adriano Cancian. Ele sustenta que por conta do caos no trânsito, o brasiliense tem procurado chegar mais perto do Plano Piloto. E quanto mais perto do Plano, mais caro o imóvel. É isso que explica, segundo Cancian, os preços do Guará e do Cruzeiro ultrapassarem os de Águas Claras. Ele argumenta, ainda, que os valores encontrados no Guará se explicam pela limitação da oferta. ;Não há mais espaço para construção de novas casas;, diz. Para ele, a margem de crescimento de preço é maior fora do Plano Piloto.

Os representantes do mercado têm ojeriza à palavra estagnação, mas reconhecem que o boletim do Secovi confirma a previsão de acomodação dos valores dos imóveis usados no Plano Piloto. ;Estamos muito longe da estagnação. Não podemos confundir. O que há é um certo ajuste na taxa de crescimento;, afirma o presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do DF (Ademi-DF), Adalberto Valadão. O Secovi-DF acredita que, apesar do crescimento menor, a valorização dos imóveis se manterá na casa dos dois dígitos este ano.

Bairro de servidores
O Cruzeiro, na época bairro do Gavião, começou a ser habitado durante a construção de Brasília, em sua maioria, por servidores públicos federais transferidos do Rio de Janeiro. Nos anos 1960, o bairro avançou rumo à consolidação. Na década de 1970, foi inaugurado um conjunto de prédios com quatro andares, que recebeu a denominação de Cruzeiro Novo.

Crescimento demográfico
Em cinco anos, estima-se que a população da cidade, criada em 1969 para abrigar servidores públicos e funcionários do Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), aumente em 60 mil pessoas, o que representará uma expansão populacional de 50%. Nos últimos anos, a cidade mudou de fisionomia: as ruas se alargaram, prédios foram erguidos e as residências passaram a dividir espaço com o comércio.

Valorização crescente
Mesmo com o trânsito cada vez mais caótico e os insistentes problemas de infraestrutura, Águas Claras não para de lançar empreendimentos com preços de metro quadrado em ascensão. Números da imobiliária Lopes Royal obtidos pelo Correio revelam que entre maio de 2008 e o mesmo mês deste ano foram comercializadas 42 projeções, totalizando 11.619 unidades ; a maioria de um quarto (3.890). Os lançamentos movimentaram R$ 4,5 bilhões.

O levantamento da imobiliária indica que o valor médio por empreendimento é de R$ 108 milhões e o da unidade, R$ 390 mil. O preço do metro quadrado de apartamentos de um quarto chega a R$ 6.480, de dois quartos a R$ 6.100 e de três quartos a R$ 5.800. O diretor comercial da Lopes Royal em Águas Claras, Rogério Oliveira, conta que, em junho, houve mais dois lançamentos, número que somente não foi maior por conta da mudança de governo.

A troca de comando na administração regional dificultou a liberação de projetos. ;É algo natural, mas a emissão dos alvarás de construção ficou comprometida;, diz Oliveira. A valorização dos imóveis, porém, não retraiu, segundo ele. O mercado de Águas Claras tem atraído pequenos investidores. ;Não são aquelas pessoas que compram o andar inteiro. Trata-se um público que já mora bem e resolveu comprar outro imóvel para revender ou alugar;, explica.

Entre os moradores do bairro, o levantamento aponta que mais da metade deles têm menos de 50 anos. ;Os filhos da classe média de Brasília que nasceram no Plano Piloto, mas não conseguiram se manter ali, descobriram Águas Claras;, comenta o diretor comercial. Muitos, pondera ele, escolheram a cidade porque podem pagar menos e morar em condomínios fechados, com área de lazer completa e, teoricamente, mais segurança.

Águas Claras ganhou destaque depois que começou a ser considerada o maior canteiro de obras da América Latina. Livre das restrições impostas no tombado Plano Piloto, logo virou o paraíso das empreiteiras e recebeu apelidos como o novo Eldorado e a Abu Dhabi brasileira. Com cerca de 600 edifícios prontos, muitos com mais de 20 andares, é a região administrativa que mais tem cara de metrópole. Pelo menos 135 mil pessoas vivem na cidade, incluindo moradores de Arniqueira e Areal.

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