Cidades

Apesar de acordo coletivo ter definido 8% de reajuste, greve continua

Rodoviários continuam parados em Águas Lindas e Santo Antônio do Descoberto. Em Valparaíso, assembleia prevista para a madrugada de hoje define os rumos da paralisação na cidade

Luiz Calcagno, Adriana Bernardes
postado em 28/07/2011 08:00

Em Valparaíso, motoristas e cobradores se reuniram em frente à garagem da empresa para pressionar os colegas e impedi-los de trabalhar
A greve de motoristas e cobradores de ônibus de Águas Lindas (GO) e Santo Antônio do Descoberto (GO) está mantida por tempo indeterminado. Os trabalhadores de Valparaíso (GO) fazem assembleia às 4h de hoje para votar os rumos do movimento. A decisão foi tomada no início da noite de ontem e vai de encontro ao que foi decidido na audiência do processo de dissídio coletivo no Tribunal Regional do Trabalho de Goiânia. Perante a Justiça, os empresários e os sindicatos da categoria assinaram a homologação do acordo coletivo com 8% de reajuste a partir de 1; de agosto. Acertaram também o aumento para o próximo ano.

Pela manhã, os pontos de ônibus amanheceram lotados nas três cidades atingidas pelo movimento. Ônibus, vans e carros fizeram transporte pirata a preços abusivos. Em frente às garagens, grevistas fizeram piquetes para tentar impedir colegas de trabalhar. Sem se identificar, motoristas da empresa e colegas da Viação Santo Antônio, do grupo Amaral, que também opera na cidade, queixaram-se da qualidade e da idade da frota, de horas extras a pagar e até de desembolso de dinheiro em caso de assalto. As empresas amanheceram de portas fechadas.

O acordo feito no Tribunal Regional do Trabalho de Goiânia saiu após mais de três horas de negociação. Na mesma sala, havia representantes dos dois sindicatos dos rodoviários ; o oficial e o que representa os ;dissidentes; ;, das empresas de ônibus, além do procurador-chefe do Ministério Público do Trabalho, Januário Justino Ferreira, e do presidente do TRT da 18; Região, o desembargador Mário Sérgio Bottazzo. Esse último é o mesmo que decretou a ;abusividade; da greve na noite da última terça-feira. ;Se a greve já era ilegal, com o acordo homologado é mais ilegal ainda. Espero que a decisão seja cumprida e que eles parem com o movimento imediatamente;, afirmou o magistrado.

Em Águas Lindas, alguns passageiros recorreram a veículos piratas

Polícia Federal
A pedido do promotor Januário Ferreira, a multa por dia de paralisação subiu de R$ 20 mil para R$ 100 mil. A princípio, a multa será para o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) no DF, José Eudes Oliveira da Costa, representante dos dissidentes, e para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Terrestres de Passageiros e Cargas do Município de Águas Lindas (Sinditrans-AL), Ronilton Gonçalves. Além disso, o promotor vai pedir hoje ao superintendente da Polícia Federal de Goiás que abra inquérito a fim de apurar a possível ;infiltração de pessoas alheias ao sindicato; para promover o movimento grevista. ;Já que ninguém assume, vamos apurar a ação de baderneiros na greve.;

Em assembleia realizada às 19h de ontem, em Águas Lindas, os rodoviários da cidade e de Santo Antônio do Descoberto votaram por continuar de braços cruzados. ;Os grevistas não aceitam nem sequer que o sindicato negocie em nome deles, imagine assinar um acordo coletivo;, ponderou José Eudes. Segundo ele, uma liminar obtida ontem no Fórum de Valparaíso garante a legalidade do movimento com a restrição apenas de realização de piquete na porta das garagens.


Eu acho...
Rodoviários continuam parados em Águas Lindas e Santo Antônio do Descoberto. Em Valparaíso, assembleia prevista para a madrugada de hoje define os rumos da paralisação na cidade;Os rodoviários merecem um salário digno. Mas esses movimentos atrasam muito a nossa vida. Faz uma hora que eu estou na parada e não consigo pegar um ônibus. O transporte público ainda tem os problemas de superlotação e frota antiga. Se outras empresas pudessem operar em Valparaíso, as coisas iriam melhorar. A cidade cresceu muito e o sistema não está mais dando conta.;
Alleni Kelly Mendonça,
28 anos, auxiliar administrativa, moradora de Valparaíso (GO)




Rodoviários continuam parados em Águas Lindas e Santo Antônio do Descoberto. Em Valparaíso, assembleia prevista para a madrugada de hoje define os rumos da paralisação na cidade;Preciso ir para um canteiro de obras em Águas Claras. A greve está complicando minha vida. Não dá para saber se vamos conseguir chegar ao trabalho. Aqui, a situação é a seguinte: ou pegamos um ônibus caindo aos pedaços, com passagens caras, ou um pirata, irregular, em tempos de greve. Não temos escolha nem segurança.;
Ronaildo Inácio da Paes,
30 anos, engenheiro, morador de Águas Lindas (GO)



ANÁLISE DA NOTÍCIA

Empregos em jogo

GUILHERME GOULART

A greve dos rodoviários de parte do Entorno atinge diretamente a população. Carentes de infraestrutura, saneamento básico, saúde, educação e segurança, os moradores das cidades vizinhas ao Distrito Federal vivem hoje a possibilidade de perder o emprego. Se não há transporte público por conta da paralisação de motoristas e cobradores, o funcionário fica sem alternativa para se apresentar no trabalho.

E, se já enfrenta problemas de contratação por morar em lugares distantes e com tarifas de ônibus mais caras, fica, agora, à mercê da boa vontade do patrão.

Os rodoviários de Águas Lindas, Valparaíso e Santo Antônio do Descoberto têm o direito de reivindicar por melhores salários e condições de trabalho.

Os veículos conduzidos pela categoria, por exemplo, são velhos e não oferecem segurança. Alguns têm mais de uma década de uso.

Mas colocar o problema na conta de quem depende de transporte público soa como covardia, ainda mais porque os grevistas não avisaram sobre o movimento com 72 horas de antecedência nem mantiveram 30% da frota a serviço dos passageiros. Há outros meios para se obter conquistas. Um deles é o diálogo.

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