Cidades

Preços dos imóveis no DF continuam subindo, mas abaixo da média nacional

postado em 09/09/2011 07:23
O mercado imobiliário brasileiro começa a ceder após o bom resultado dos últimos anos. E o Distrito Federal, sempre imune às turbulências, dá sinais de que também sente os efeitos de uma crise e não é mais o oásis do setor. A valorização dos imóveis em Brasília continua avançando na casa dos dois dígitos, mas já cresce abaixo da média nacional e de quatro das sete capitais pesquisadas pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Entre agosto de 2010 e o mesmo mês de 2011, os preços de apartamentos e casas subiram, em média, 21,2%, metade do percentual registrado no Rio de Janeiro (veja ranking) no mesmo período. Maior apenas do que em Fortaleza e Salvador.

Com base nos números da Fipe, o Correio dividiu o DF em 47 localidades, levando em conta a diferença de preços entre casas e apartamentos e setores de uma mesma região administrativa. Em 25 pontos pesquisados, a valorização supera a média do DF, sendo que 17 apresentaram um incremento acima da média nacional. Em outras 14 regiões, os preços aumentaram nos últimos 12 meses, mas em ritmo inferior à média da capital. E, contrariando o passado recente, os preços caíram em oito áreas e colocaram à prova o superaquecimento do mercado. Imóveis do Lago Sul, do Guará ; com exceção dos apartamentos do Guará II ; e do novo bairro Park Sul, por exemplo, registraram retração no período pesquisado.

[SAIBAMAIS]Hoje, o preço do metro quadrado custa no DF entre R$ 1.054 e R$ 9.649, uma variação de 815%. Em 11 localidades ; o equivalente a quase um quarto do total ;, ultrapassa os R$ 5 mil. O mais caro é cobrado no futuro Setor Noroeste (R$ 9.649), seguido do Sudoeste (R$ 8.757) e das asas Sul (R$ 8.349) e Norte (R$ 7.999). Valores nas alturas também são encontrados na Octogonal (R$ 7.862), no Centro de Atividades do Lago Norte (R$ 7.562) e no Park Sul
(R$ 7.393), apesar de os preços terem recuado 1,4% neste último local. O trânsito intenso próximo aos edifícios em construção, às margens da Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia), ajuda a explicar a inesperada queda no valor dos imóveis luxuosos.

Menos de R$ 2 mil
Na outra ponta, o levantamento mostra nove lugares onde o metro quadrado custa menos do que R$ 2 mil. Com uma desvalorização de 48% em um ano, as casas do Recanto das Emas são as mais baratas do DF (R$ 1.054 o metro quadrado). Ocupam ainda a parte de baixo do ranking o Setor Tradicional de Planaltina (R$ 1.103) e os apartamentos do Núcleo Bandeirante (R$ 1.132). A desvalorização das residências em áreas em que houve um boom de condomínios é normal, na avaliação do presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do DF (Sinduscon-DF), Júlio César Peres. ;Há uma tendência de migração. Como mais casas ficam disponíveis, a oferta aumenta e o preço cai;, explica.

Os representantes do mercado tentam demonstrar naturalidade diante dos números da Fipe. Empresários do setor rechaçam qualquer possibilidade de estagnação nos valores e sustentam o discurso de que os imóveis ainda são a melhor opção de investimento. A desaceleração ou mesmo o recuo de preços não inibem, segundo eles, o cenário de aquecimento. ;Claro que ao longo do tempo a demanda por habitação vai sendo suprida. É natural que haja um processo de acomodação, mas a valorização continua;, afirma o presidente da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do DF (Ademi-DF), Adalberto Valadão.

Para o pesquisador da Fipe Eduardo Zylberstajn, a variação de preços na capital do país reflete uma tendência natural de mercado. ;As regiões do DF se comportam de maneira bem heterogênea. Se os valores já subiram muito em determinado local, pode-se esperar desaceleração;, diz. O Lago Sul ilustra o comentário do pesquisador. Em agosto de 2010, o metro quadrado na área mais nobre do DF valia R$ 4.069. Um ano depois, o preço recuou 6,4%, chegando a R$ 3.809. Na península norte, o valor dos imóveis do Centro de Atividades não deve mais crescer tanto. O metro quadrado saiu de R$ 7.087 para
R$ 7.562 no mesmo intervalo de tempo, variação positiva de 6,7%, bem abaixo do observado em anos anteriores.

Valadão, da Ademi-DF, reforça que as oscilações do custo do metro quadrado estão em consonância com a lógica de mercado. ;O esperado é a grande valorização de imóveis menores e de menor preço. Em contrapartida, a tendência é de alta menos acentuada em áreas mais nobres, como o Noroeste;, compara. De fato, há mais investidores interessados nos apartamentos de um e dois quartos. Como consequência, a demanda por esse tipo de imóvel é maior, o que inflaciona os preços. ;O imóvel menor tem melhor liquidez de aluguel. Os maiores, de três e quatro quartos, são comprados geralmente por quem pretende morar;, acrescenta o presidente do Sinduscon-DF, Júlio César Peres.

Infraestrutura
Em junho deste ano, o Correio mostrou que o Noroeste cresce em dois ritmos. Enquanto as empreiteiras erguem esqueletos às pressas, as obras de infraestrutura do governo engatinham. A preocupação é que, assim como ocorreu no Sudoeste, os primeiros empreendimentos fiquem prontos ; no segundo semestre de 2012 ; e os compradores não encontrem condições adequadas para morar.

Investidor adota cautela

O engenheiro civil Filipe de Oliveira, 28 anos, comprou dois apartamentos para investir em Ceilândia. O metro quadrado dos imóveis valorizou 61% em dois anos, mas ele anda desconfiado da aposta. Aguarda o ;habite-se; para saber se fez um bom negócio. A expectativa seguirá até o fim deste ano, quando o documento do primeiro apartamento fica pronto. O segundo está previsto para julho do ano que vem. ;Espero conseguir vender bem, mas ainda não sei, o ciclo ainda não fechou;, afirma, cauteloso. Até lá, Oliveira decidiu não mais comprar imóveis. Prefere esperar o resultado dos primeiros investimentos para saber se vale a pena. ;Os preços estão muito caros. A gente sabe que, em alguns casos, a supervalorização está fora da realidade;, completa.

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