Cidades

Proprietários de alambiques tentam conquistar os brasilienses

postado em 13/09/2011 08:00
O empresário Luiz Henrique, com fábrica em Salinas (MG), pretende investir este ano R$ 500 mil em divulgaçãoOs produtores de cachaça do Brasil estão de olho no público do Distrito Federal. A aposta é que o destilado, alvo de campanhas de valorização na última década e atualmente vendido como artigo sofisticado e gourmet, encontre boa aceitação do público brasiliense em razão do elevado poder aquisito e gosto por produtos de grande valor agregado. Um primeiro passo a fim de garantir a conquista do mercado local será dado hoje. Um total de 20 empresários do DF participarão de uma rodada de negócios em que 33 fabricantes do país apresentarão e defenderão os méritos de suas marcas. A intenção é que sejam fechados acordos de fornecimento com bares, restaurantes e hotéis.

O Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac), representante de alambiques em todo o território nacional, não tem dados sobre o volume atual de vendas do produto em Brasília e região, mas estima que seja uma fatia mínima dos 1,2 bilhão de litros, que correspondem à capacidade instalada de 40 mil proprietários de alambiques do Brasil. Os fabricantes que apresentarão seus produtos no encontro de negócios, promovido pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), são principalmente de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Haverá também alambiques de Goiás. Todos usam sistema artesanal e são certificados pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro). A produção do Distrito Federal não é considerada de destaque justamente pela ausência do selo.

Além de não ser forte na fabricação de cachaça, o DF não figura entre os maiores centros consumidores do país, que são São Paulo, Pernambuco, Rio de Janeiro, Bahia e Minas Gerais. Por isso mesmo, representantes do segmento acreditam que há um potencial inexplorado de comercialização.

Dificuldade
A produtora Daniela Vilaça, dona das marcas Prosa e Viola da Terra, de Morro da Garça (MG), pretende aproveitar as oportunidades de uma praça ainda longe de estar saturada. ;A expectativa é abrir portas, criar um primeiro canal de conversas;, afirma ela, certa de que conseguirá fidelizar compradores entre a população do DF. ;Há demandas daqueles que têm contato com meu produto em viagens, mas ainda existe dificuldade em encontrar distribuidor;, relata. Daniela, que produz 30 mil litros anuais, diz ter capacidade instalada para fabricar 60 mil litros. ;Para mim, é muito interessante abrir espaço em um outro estado agora;, comenta. A Prosa, marca envelhecida três anos em barris de carvalho, sai por R$ 40 a R$ 45 o litro. A Terra de Minas, menos nobre, é armazenada um ano em tonéis de jequitibá, e custa de R$ 20 a R$ 25.

Luiz Henrique Morais Penutt, que fabrica em Salinas (MG) as marcas Beija Flor, Asa Branca, Salivana e Indaiazinha, diz não ter tido tempo de se inscrever para a rodada de negócios do Sebrae. No entanto, quer investir R$ 500 mil ainda este ano e R$ 700 mil em 2012 na divulgação e na inserção de seu produto em Brasília. ;Vamos intensificar os esforços em campanhas de marketing. O projeto é entrar no DF e em Goiás;, diz. Hoje, Penutt vende a distribuidoras locais somente 12 mil litros de uma produção de aproximadamente 700 mil litros anuais ; ou seja, 1,7%. O envelhecimento de suas cachaças varia de dois a nove anos. Consequentemente, elas custam entre R$ 17 e R$ 200 (veja Para saber mais).

A mineira Jaqueline Calvo, que comanda em Piranguinhos (MG) a produção da cachaça Dedo de Prosa participará do encontro com empresários do DF e espera conquistar mais clientes além dos dois estabelecimentos que já atende em Brasília, a Cachaçaria Água Doce e o Empório da Cachaça. ;Estou à procura principalmente de um distribuidor atacadista;, conta.

Carlos Alberto dos Santos, diretor técnico do Sebrae, acredita que a bebida ganhará espaço no Distrito Federal. ;A cachaça se sofisticou e é equivalente ao uísque como destilado;, afirma. Carlos Eduardo Lima, presidente do Ibrac, é da mesma opinião. ;O Distrito Federal é um mercado interessante, pois você tem pessoas do Brasil todo. A cachaça é uma bebida que ainda encontra resistência em alguns estados;, diz.

Para saber mais
Fatores de qualidade

Diversos fatores contribuem para que uma cachaça seja considerada de qualidade. Um é o tipo de cana de açúcar utilizado. A espécie mais adequada é a java. Outro critério é a fermentação, que deve ser 100% natural, sem aditivos químicos. Por fim, o cuidado na hora de destilar a bebida. É preciso descartar o líquido extraído no início, álcool muito forte, com excesso de metais. A extração feita no fim da destilação, muito aguada, também deve ser jogada fora. O produto obtido na metade do processo, apelidado de coração da cachaça pelos produtores, é o melhor. Há que se levar em conta também o tempo de maturação: quanto mais velha a bebida, mais valorizada.

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