Cidades

Brasilienses são os que mais aplicam na Bolsa de Valores

postado em 16/10/2011 07:30
Os brasilienses ignoraram as crises globais e nos últimos cinco anos apostaram como nunca no mercado de ações. A corrida à Bolsa de Valores fez o Distrito Federal dar o maior salto do país em relação ao volume de dinheiro investido em papéis. De dezembro de 2006 a setembro deste ano, o montante aplicado pelos investidores da capital federal pulou de R$ 770 milhões para R$ 1,84 bilhão, uma forte expansão de 139%, quase o dobro da média nacional (72,8%) no mesmo período.

O valor médio aplicado por investidor brasiliense, segundo dados da BM, caiu de R$ 114,3 mil para R$ 97,5 mil, mas o número de pessoas que entraram na Bolsa quase triplicou nesses cinco anos. O apetite por ações levou o DF a ultrapassar a Bahia e a ocupar no mês passado um inédito sétimo lugar no ranking de participação do total investido no mercado de ações. A grana dos candangos representava, em setembro, 1,98% dos R$ 92,77 bilhões investidos por pessoas físicas na Bolsa paulista, contra 1,44% no fim de 2006.

O mercado acionário encontra terreno fértil em Brasília. A renda per capita elevada e a estabilidade proporcionada pelo funcionalismo público permitem ao investidor melhor planejamento e diminuem o temor da volatilidade da renda variável. Com chances mínimas de demissão e dinheiro certo no fim do mês, o brasiliense ousa mais. Há no DF 18.876 pessoas com algum dinheiro na Bolsa de Valores. Sete em cada 10 são servidores públicos, segundo representantes das principais corretoras.

Novo pólo
O aumento da procura pelos papéis despertou em grandes grupos financeiros nacionais e internacionais o potencial investidor da capital federal. Atualmente, o número de acionistas minoritários do DF não chega a 1% da população. Pedro Azzam, da Ativa Corretora, acredita que até 2016 Brasília pode igualar ou mesmo ultrapassar Minas Gerais e se tornar o terceiro maior mercado de ações do país. Ficaria atrás somente do eixo Rio-São Paulo, responsável por 59% das pessoas físicas na Bolsa e 73% do valor investido por elas. Em 2006, havia 51 corretores e agentes autônomos autorizados a atuar em Brasília. Hoje, são 149 ; três vezes mais.

No DF, mais do que a velha poupança e a previdência privada, o investimento em imóveis concorre com o mercado financeiro. O destaque no ranking elaborado pelo Correio com base nos números da BMF, no entanto, indica mudanças de paradigma, na avaliação de Azzam. ;A ideia do brasiliense como um povo tradicional e desconfiado pode estar chegando ao fim;, afirma o representante da corretora com sede no Rio de Janeiro e escritório em Brasília desde 2007. O Citigroup Global Markets uniu-se a uma corretora local e na última semana começou a funcionar em uma sala de 170 m; no Setor Hoteleiro Sul, cujo investimento chegou a R$ 500 mil. Para contar com o apoio dos assessores da empresa nas operações, é preciso aplicar pelo menos R$ 20 mil na Bolsa. ;O grupo aposta nas classes A e B da cidade;, diz Bruno Dall;Oca, sócio-proprietário da representante exclusiva do Citigroup no DF.

A possibilidade de enriquecer com a Bolsa ainda atrai muitos aventureiros (veja quadro com dicas). Para o economista Demétrius Borel Lucindo, da Prosper Corretora, o volume de dinheiro aplicado pelos brasilienses supera a média nacional porque, em geral, eles se preocupam mais em conhecer o mercado antes de dedicar parte do salário à gangorra das ações. ;Aqui, os investidores são mais bem assistidos e têm mais acesso à informação se comparado com outras regiões;, afirma.

Há quatro anos, o servidor público Leonardo Marinho, 32 anos, procurou uma corretora de valores e aplicou R$ 5 mil na Bolsa. ;Foi a melhor coisa que me aconteceu;, afirma ele, hoje com R$ 70 mil em ações. Todo mês, Marinho destina 20% do salário para papéis de cinco empresas. O servidor diz que não pretende ficar rico, mas espera garantir a aposentadoria. ;Penso daqui a 10 anos. Se não conseguir independência financeira, pelo menos terei uma boa margem de manobra;, justifica.

Em busca de clientes como Marinho, a maioria das corretoras oferece palestras e cursos gratuitos sobre como investir. Somente uma delas formou cerca de 6 mil investidores em menos de dois anos. Em outra, as aulas reúnem 50 pessoas todo mês. O alto custo de vida em Brasília, contam os representantes, tem motivado o morador do DF a buscar alternativas para aumentar a renda. Grande parte começa aplicando menos de R$ 10 mil em fundos de investimento.

Mulheres já são 1/4
Mais cautelosas e disciplinadas, as mulheres têm se dado bem no mercado de ações. Em setembro, elas respondiam por 12,5% do volume de dinheiro injetado na Bolsa pelos brasilienses. Nos últimos dois anos, a proporção delas em relação aos investidores do DF cresceu de 22,5% para 23,8%. No cenário nacional, as mulheres já representam 24,9% do total.

Prestes a se formar em relações internacionais, Jucyelle Dutra, 29 anos, teve há dois anos uma aula de finanças e descobriu o mercado financeiro. Fez seis cursos e comprou livros para saber melhor o momento certo de comprar e vender ações. ;Ainda não fiquei rica, mas ganhei mais do que perdi;, diz Jucyelle, que começou aplicando parcelas inferiores a R$ 1 mil.

A cientista política Rayssa Vieira, 24 anos, é a única mulher na equipe de 10 pessoas selecionadas para atuar na corretora representante do Citigroup no DF. Passou por duas certificações e se diz apaixonada pelo que faz. Todo mês convence alguma amiga a entrar na Bolsa. ;Quem perde dinheiro com ações é o especulador. Com planejamento e paciência, o investimento é rentável na certa;, garante.

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