Cidades

Com sistema carcerário falido, Entorno registra aumento da violência

postado em 19/10/2011 11:00
A sensação de impunidade tem dominado cada vez mais o Entorno do Distrito Federal. Com cadeias sem estrutura e superlotadas, muitos presos que cometem crimes considerados menos graves têm ganhado a liberdade diariamente, conforme o Correio mostrou na edição de ontem. Soltos, voltam a cometer crimes, como furtos, cujos registros aumentaram 186% este ano.

Segundo dados da Segunda Seção do Estado-Maior Geral da Polícia Militar de Goiás, de janeiro a setembro deste ano, 1.402 residências foram alvos de ladrões nas cidades do Entorno. No mesmo período do ano passado, o número ficou em 490. A escalada desse tipo de crime encontra respaldo não só no sistema carcerário falido, mas também na falta de policiais para atender toda a demanda. Em Valparaíso de Goiás, por exemplo, onde 237 casas foram furtadas este ano e sete estupros registrados, 130 PMs trabalham em seis viaturas para fazer a ronda em 42 bairros do município. Mas eles nem sempre conseguem chegar em todos os lugares perigosos e esburacados da cidade.

A viatura dos policiais é um Palio, veículo inapropriado para perseguições em setores com muitos quebra-molas e buracos, segundo admitem os próprios policiais. ;Estamos fazendo milagre. A maioria dos bandidos não fica presa. Não tem justiça. Ninguém quer saber de trabalhar. A profissão aqui é furtar e ganhar o Bolsa Família. Quando a gente prende um meliante, ele fala rindo que não vai dar em nada;, contou o comandante do 20; Batalhão da PM, Alberto Carlos Clemente da Silva.

Pelas ruas do bairro Pacaembu, é difícil encontrar um comércio que não tenha grade. A região é considerada uma das mais perigosas de Valparaíso e conhecida pelo tráfico de drogas. Dono de um mercado, Gilvan Melo, 37 anos, já foi assaltado 10 vezes na última década. Numa delas, os bandidos se passaram por clientes e atiraram contra a mulher dele, após ela correr ao perceber que estavam armados. ;Eles atiraram, mas por sorte as duas balas acertaram as barras de ferro;, contou Gilvan.

O número de roubos a comércio aumentou 15% em relação ao ano passado nas oito cidades do Entorno; o total passou de 514 para 594 no período analisado (veja quadro).

Aos 68 anos, um comerciante da Rua Americana do Brasil, em Luziânia, já foi assaltado 19 vezes no mesmo ponto. Só este ano, ele teve três armas apontadas para a cabeça em assaltos. Há 15 dias, sofreu um infarto e está internado em um hospital da cidade. A mulher dele, de 75 anos, está traumatizada.

;Eu também já adoeci por conta desses sustos. Nós ficamos com muito medo. Da última vez, o bandido furou o meu marido com uma faca. Era para pegar no pescoço, mas acertou no braço porque ele se defendeu com as mãos. O bandido estava drogado e falou que não queria só assaltar, mas matar;, contou a comerciante.

Assassinatos

O total de homicídios também cresceu este ano no Entorno (22%). Luziânia lidera o ranking das cidades mais violentas, com 115 assassinatos. A média é de 12 mortes por mês. Juliete de Lima Oliveira, 17 anos, é uma das vítimas da brutalidade e da impunidade que dominam a região. Ela foi morta em abril com um corte profundo no pescoço, às margens da BR-040, no sentido Luziânia/Cristalina. Laudo da polícia técnica revelou que a moça foi abusada sexualmente.

Dois homens foram presos, mas eles negam autoria do crime. A irmã da adolescente, Juliana de Lima Oliveira, 20 anos, e a mãe, Maria Soares de Lima, 55, não acreditam em justiça. ;Uma hora eu sei que eles vão pagar. Nunca me conformo com a morte da minha filha, mas não espero nada da Justiça humana. Daqui uns dias, eu sei que eles estarão soltos e matando mais gente. Condenado é só quem morre ou a família da vítima;, desabafou Maria, ao lado das fotos de Juliete e imagens de Nossa Senhora Aparecida.

Aumento da renda

O Bolsa Família é um programa de transferência direta de renda que beneficia famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza. O programa mais de 12 milhões de famílias em todo o território nacional. A depender da renda per capita, do número e da idade dos filhos, o valor do benefício vai de R$ 32 a R$ 242.

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