Cidades

CEB pede ilegalidade da greve dos funcionários que teve início no dia 3

Roberta Machado
postado em 09/11/2011 06:37
Wesley Costa não pôde ligar o forno elétrico da padaria onde trabalha, na Asa Norte. O estabelecimento calcula o prejuízo em R$ 500
A greve dos funcionários da Companhia Energética de Brasília (CEB) completa hoje uma semana. Aumentam os transtornos dos usuários com as quedas recorrentes de energia neste período chuvoso. Desde o último dia 3, os serviços de manutenção da rede elétrica do Distrito Federal seguem em ritmo de plantão, e a paralisação não tem previsão para terminar. Sem possibilidade de negociação, a companhia acionou os advogados da companhia para encerrar a paralisação. Ontem, a CEB pediu à Justiça a decretação de ilegalidade da paralisação. Representantes do sindicato se reúnem hoje, às 15h, com a Secretaria de Administração no Palácio do Buriti.

Conforme o Sindicato dos Urbanitários do Distrito Federal (STIU-DF), ontem a companhia acumulava cerca de 1,2 mil reclamações de clientes. Com a diminuição do número de atendimentos, apenas um sexto delas foi resolvido antes do fim do dia. Áreas como Asa Norte, Riacho Fundo, Setor O e Taguatinga passaram horas sem energia.

Parte da Asa Norte amanheceu sem luz na manhã de ontem, causando dor de cabeça e prejuízos aos moradores e ao comércio local. Nas quadras 700, a energia elétrica acabou por volta da 1h, e só retornou às 14h. Prejudicada, uma padaria da 714/715 Norte não tinha pães para os clientes pela manhã. ;Quando eu cheguei para trabalhar, às 3h30, estava tudo escuro. Não pudemos ligar nenhum forno, porque é tudo elétrico;, contou o auxiliar de padeiro Wesley Costa. A padaria contabilizou um prejuízo de R$ 500, e teve de convocar os trabalhadores a retornar no período da tarde para recuperar o atraso na produção.

Wesley contou que passou a madrugada e parte da manhã cobrando explicações da CEB, mas o atendimento levou mais de 12 horas para chegar. Assim como ele, Marliene Guimarães, 48 anos, moradora do Riacho Fundo, passou horas tentando, sem sucesso, contato com a companhia. Devido a um curto-circuito causado pela instalação de uma linha telefônica, o fornecimento de energia foi interrompido por volta das 10h30 de segunda-feira. O problema foi resolvido somente depois das 12h de ontem. ;Todo mundo ligou para a CEB, e eles diziam que não podiam resolver por conta da greve. Não pude medir minha pressão à noite, e a comida da geladeira estragou;, reclamou Marliene.

Um quarteirão do Pistão Sul, em Taguatinga, também ficou sem luz na tarde de ontem. Depois que um caminhão derrubou um poste no local, técnicos da CEB cortaram a energia para evitar acidentes. Porém, devido à greve, o conserto não pôde ser feito. As lojas ficaram sem luz desde as 13h, e até a noite de ontem o serviço ainda não havia sido restabelecido.

Atendimento
A analista de crédito Cleide Santos, 35 anos, moradora do Setor O, em Ceilândia, há cinco dias sofre com quedas constantes de eletricidade. Segundo ela, a luz retorna e cai desde sexta-feira, prejudicando a rotina da família. Eles contabilizam oito ligações para a CEB, mas ainda não foram atendidos. ;A luz está falhando, e a geladeira não tem mais força. Tivemos de levar a comida para a casa da minha sogra, e também estamos tomando banho lá;, lamentou. O problema atingiu diversas casas na mesma rua, e vários vizinhos já pediram a presença de um técnico da companhia. ;Eu fico indignado. Eles têm direito à greve, mas precisam cobrir emergências como essa;, apontou o marido de Cleide, o motorista Nelson da Silva, 42 anos.

O diretor do sindicato da categoria, Geová Pereira, nega que o atendimento da companhia tenha sido prejudicado pela greve. ;É claro que tem um impacto. Mas está tudo dentro do patamar normal do período de chuva. Outro dia, tínhamos mais de 2 mil reclamações;, justificou. De 42 equipes, apenas 18 estão trabalhando nas ruas do DF.

Enquanto o sindicato exige aumento de 30% e abono salarial de R$ 7 mil, a companhia lida com uma dívida de R$ 877 milhões, agravada por um prejuízo mensal de R$ 14 milhões. Com as negociações paralisadas, os 940 funcionários da CEB devem manter a greve por tempo indeterminado. ;Assim como não vamos recuperar a empresa em um ano, não podemos recuperar os salários imediatamente. Fizemos uma proposta realista, que não prejudica os investimentos que precisam ser feitos para melhorar o serviço;, argumentou Mauro Martinelli, diretor de Engenharia da CEB.


Impasse
Os funcionários da CEB avaliaram como injusta e rejeitaram a proposta aumento salarial de 7,29% a 30% feita pela companhia, no último dia 3. Os índices seriam, segundo a empresa, suficientes para repor a inflação e parte da defasagem dos rendimentos dos concursados aprovados no ano passado. Para o sindicato, somente um terço dos trabalhadores teria aumento real, com prejuízo para os técnicos que têm rendimentos menores.

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