Cidades

DF registra quase dois sequestros relâmpagos por dia e assusta brasilienses

postado em 13/11/2011 08:19
Após ser levada por bandidos, a aposentada Marisa* vendeu o carro e não dirige mais: medo constante
Após passar cerca de duas horas em poder de criminosos, *Marisa, 69 anos, decidiu vender o carro. Vítima de sequestro relâmpago no último dia 24, a aposentada mudou os hábitos radicalmente (leia depoimento na página 30). O episódio de violência a fez desistir de dirigir, sair à noite e ir a locais públicos sozinha. Até as visitas à casa da filha passaram a ser feitas com menor frequência.

Ela faz parte de um grupo cada vez maior de brasilienses que abriu mão de uma rotina em nome da segurança. O medo se justifica pela quantidade de homens e mulheres levados por marginais em saídas de bancos, próximo a bloco residenciais ou em áreas de comércio. Dados da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) indicam que, nos primeiros nove meses de 2011, 470 pessoas foram mantidas reféns por bandidos após serem abordadas em locais públicos. Média de quase duas ocorrências por dia.

Embora as autoridades insistam em dizer que a maior parte desses casos são ocorrências de roubo com restrição de liberdade, para essas pessoas, que ficaram minutos ou horas em poder dos bandidos, elas foram vítimas de sequestro relâmpago. Apenas nos últimos 30 dias, levantamento feito com base em matérias publicadas pelo Correio mostra que 12 cidadãos entraram para as estatísticas ao terem sua liberdade cerceada por ladrões, indicadores que consolidam o delito de sequestro relâmpago como um dos mais comuns na capital.

Diferentemente de outras formas de violência, como o homicídio, em que há incidência maior em cidades mais carentes, a modalidade criminosa prevista no artigo 158 do Código Penal Brasileiro (CBP) ocorre em todas as regiões administrativas. Prova de tal pulverização é que, no último dia 3, três mulheres se tornaram reféns de jovens armados no Lago Norte, no Guará e no Riacho Fundo 2, respectivamente bairros de classe alta, média e baixa. Nos três episódios, as vítimas não conseguiram registrar ocorrência devido à greve da Polícia Civil. Para piorar, apenas três dos sete envolvidos nos crimes foram identificados e presos. Os outros quatro continuam foragidos.

O medo de acabar nas mãos de gente mal-intencionada fez com que os moradores de Brasília passassem a tomar mais precauções nas tarefas do dia a dia. Numa observação mais atenta na saída de uma movimentada agência bancária da Asa Norte, percebe-se a preocupação dos usuários. Uma senhora de 49 anos, após fazer uma transação bancária, espera um táxi dentro do banco. Para aumentar sua segurança, ela anda sempre com uma amiga. A mulher tem motivos de sobra para redobrar a vigilância pessoal. Há 10 meses, a sobrinha dela foi sequestrada quando chegava em casa, na 103 Norte. A jovem de 23 anos foi deixada em Planaltina de Goiás. ;Se a gente deixar para confiar na polícia, certamente nos tornaremos vítimas. O que tento fazer é evitar usar carro ao máximo, sempre sair com alguém e evitar lugares com pouca iluminação. Foi a soma disso tudo que contribuiu para que minha sobrinha fosse sequestrada. Graças a Deus, tudo acabou bem;, disse a servidora pública aposentada pelo INSS, que não quis se identificar.

Fico desesperado até em parar o carro para abastecer. Minhas pernas tremem quando eu me lembro do que aconteceu porque eu tinha certeza de que eles iam cumprir a promessa de nos matar. Só quem passa por isso sabe do que eu estou falando;
Marcelo*, 23 anos, estudante

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