Cidades

Motoristas e especialistas sugerem investimentos no controle de tráfego

Adriana Bernardes
postado em 24/11/2011 06:30
Os gargalos no trânsito são comuns em praticamente todas as capitais, inclusive em Curitiba, cidade modelo de mobilidade no Brasil. A diferença é que na capital do país sucessivos governos negligenciaram a política de trânsito e de transportes de massa. Não conseguem nem sequer colocar ordem no sistema coletivo de passageiros. A população conhece bem a consequência disso e se vê obrigada a traçar estratégias para escapar dos engarrafamentos.

Motoristas ouvidos pelo Correio afirmam ter passado mais de duas horas em trechos que poderiam ser feitos em menos de cinco minutos. O secretário Alex Almeida, 32 anos, trabalha no Ministério da Previdência Social. Morador do P Sul, em Ceilândia, faz o percurso até o emprego em 40 minutos. Em dias de manifestações, ele se prepara para enfrentar o triplo do tempo dentro do carro. ;Passo quase duas horas no trânsito quando há protesto. Nessas ocasiões, faço rotas alternativas;, relata o funcionário terceirizado. ;Não dá mais, tem que se programar. Entro às 8h, mas saio às 6h30 de casa para cumprir o horário. A Esplanada é o centro do poder, mas deveria haver um local específico para manifestações.;

A engenheira de transportes e professora da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Eva Vider compara as vias com as veias do corpo humano. Quando uma artéria fica obstruída pela gordura, o fluxo de sangue fica comprometido. O mesmo, segundo ela, acontece com as ruas. ;Cada faixa tem
capacidade para escoar 1,8 mil automóveis por hora. Se uma delas fica obstruída por acidente, por exemplo, os órgãos de trânsito precisam agir rápido para liberar a via, reduzindo o mais rapidamente possível a retenção;, explica.

Sob esse ponto de vista, a saída é o investimento em monitoramento das vias, com câmeras e com controle do tráfego, a partir de um centro de controle operacional. Em caso de engarrafamento, os órgãos de trânsito precisam estar preparados para acionar equipes de socorro, guinchos e helicópteros o mais rápido possível. ;Não é um investimento barato. Mas calculados os custos de congestionamento por conta do consumo de combustível, da perda de tempo, do estresse e dos acidentes, o investimento é muito mais barato;, garante.

Projetos
Em um dia de manifestação na Esplanada dos Ministérios, por exemplo, o servidor público Erni Cristiano Germendorff, 55 anos, leva duras horas para percorrer um trecho de dois quilômetros. Segundo ele, o tráfego é difícil inclusive em dias normais. ;Além de organizar o trânsito, o governo deveria oferecer transporte público. Onde moro é impossível vir de ônibus para o trabalho;, reclamou o morador do Setor Habitacional Jardim Botânico.

Parte do problema se resolve com a ajuda do helicóptero Sentinela, do Departamento de Trânsito (Detran). Todas as manhãs, a aeronave sobrevoa a cidade e identifica os pontos de retenção e os locais de acidente. As informações são mandadas para a Central Integrada de Atendimento e Despacho (Ciade) da Secretaria de Segurança Pública, que as encaminha para equipes em terra.



Nas principais metrópoles do mundo, o caos no trânsito foi enfrentado com investimento em transporte de massa, acompanhado de campanhas para desestimular o uso do carro. Em Brasília, muito pouco se fez nas últimas décadas. Mestre em transportes e professor de engenharia civil do Centro Universitário da Fundação Educacional Inaciana (FEI/SP), o professor Creso de Franco Peixoto resume assim as soluções para um trânsito eficiente: investimento em transporte de massa e incentivo ao uso de bicicleta e de caminhadas (leia Palavra de especialista).

[SAIBAMAIS]O GDF tem projetos que seguem tendências mundiais. Entre eles está a implantação do Veículo Leve sobre Pneus (VLP), a criação de faixas exclusivas para ônibus, a ampliação do metrô, os investimentos em ciclovias e os projetos para a compra de GPS para ônibus ; esse último permitirá o controle de horário dos veículos. Alguns deles começaram a ser colocados em prática, como a construção de corredores de ônibus. Outros estão em fase de licitação, como as instalações de GPS e de um centro de controle operacional.

Dívidas e apreensão

Os problemas de transporte em Planaltina se agravaram em junho deste ano, quando oficiais de Justiça compareceram à garagem da cooperativa, em Planaltina, com uma ordem de recolhimento dos 100 ônibus da organização em função de uma dívida de R$ 60 milhões com o Banco de Brasília (BRB). O débito tem origem em 2008, ano em que a Coopatram contraiu um empréstimo de R$ 21 milhões com a instituição financeira. Mas um outro problema da entidade afetou diretamente o pagamento das parcelas. Em abril, o Detran apreendeu 26 carros da Coopatram porque estavam com o IPVA atrasado. Com menos veículos, o faturamento caiu e dificultou o pagamento do empréstimo. Como a Coopatram venceu a licitação para operar em Planaltina, no Vale do Amanhecer e em Arapoanga, é preciso que a Justiça determine a falência da empresa para que o governo possa chamar a segunda colocada no certame para assumir o serviço.

Eu acho...
;Todos os dias, passo de carro por aqui e sempre vejo ônibus quebrados, lotados e sucateados. O transporte no Distrito Federal é horrível, e essa região é ainda mais prejudicada pela falta de opção. Para nós, motoristas, um protesto como esse é um transtorno. Já perdi quase toda a manhã parado aqui. Você não sabe quando vai conseguir sair. Mas não deixa de ser válido. Do jeito que as coisas estão, a população só consegue resolver desse jeito.;

José Henrique Silva Maciel,técnico de atividades rodoviárias, morador de Planaltina

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação