Cidades

Psicólogos vão avaliar se filha da mulher que matou cão também sofreu abuso

Enfermeira espancou o animal no apartamento da família, em Formosa (GO). Barbárie foi gravada por vizinho e levada à polícia, que deve indiciar a mulher por crime ambiental e por expor a filha a constrangimento.

postado em 17/12/2011 08:07
A sessão de espancamento ocorreu em 13 de novembro, quando foi registrada por um vizinho da agressora: a filha da mulher assistiu a todo o absurdo e as imagens acabaram na internet há dois diasUma enfermeira de 22 anos protagonizou cenas chocantes de maus-tratos contra seu animal de estimação, um cachorro da raça yorkshire, em Formosa, cidade goiana a 80km de Brasília. A mulher espancou o pequeno cão na frente da filha, de aproximadamente 3 anos, no apartamento da família, em Formosinha, bairro da cidade. Toda a agressão, que culminou na morte do animal dois dias depois, foi gravada por um vizinho e resultou na abertura de um inquérito policial, além de enorme repercussão nas redes sociais. A enfermeira deve ser indiciada por crime ambiental e por expor a criança a constrangimento, delito previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Apesar de a agressão ter ocorrido em 13 de novembro, quando a polícia recebeu um DVD com as imagens, o vídeo foi colocado na internet há dois dias e, até o fechamento desta edição, já tinha mais de 630 mil acessos. A gravação dura 3min26s e mostra a mulher chutando o animal em várias partes do corpo, inclusive na cabeça. Ela age calmamente, sem gritar. A criança assiste a toda a cena em um canto da varanda e parece assustada com o que vê. O cachorro, de pequeno porte, tenta escapar das agressões, mas acaba submetido a mais golpes. Agonizante, o cão é aprisionado em um balde virado para baixo, quando a gravação termina.

[SAIBAMAIS]Após tomar conhecimento do conteúdo do vídeo, a Polícia Civil deslocou uma equipe de policiais militares e de bombeiros ao apartamento. Os agentes de segurança encontraram o animal ainda vivo e o encaminharam para um hospital veterinário da Prefeitura de Formosa, mas, dois dias depois, o yorkshire morreu. Quem assiste à barbárie dificilmente acredita no que afirma o perfil da enfermeira no Twitter: ;Sou uma pessoa tranquila, amo meu maridão, meus filhos e meus cachorrinhos. Enfermeira por amor;. No mesmo site, ela escreveu: ;Estão dizendo por aí que sou uma monstra? Vocês não sabem o que eu passei com aquela peste;.

Crimes
A acusada chegou a ir até o Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops) e esperava assinar apenas um termo circunstanciado, conforme relata o delegado Carlos Firmino. A pena para maus-tratos de animais no Brasil é branda e prevê detenção de três a seis meses ou multa, sendo a sentença aumentada em um sexto se o animal morrer. Mas, como toda a ação se desenrola na presença de uma criança, para os policiais a enfermeira infringiu o Art. 232 do ECA, que considera crime a exposição de um menor de idade a constrangimento e vexame e prevê pena de 2 a 3 anos de prisão.

A Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente e o Ciops querem saber se, além do animal, a criança também foi alvo de abusos. Uma equipe de psicólogos vai avaliar a menina. Caso quaisquer maus-tratos sejam detectados, a capacidade da enfermeira em ser a guardiã da criança poderá ser questionada na Justiça. Carlos Firmino explicou que as partes e as testemunhas estão sendo ouvidas e que a mulher deverá ser a última a prestar depoimento formalmente, antes do indiciamento.

Informalmente, no entanto, ela conversou com as autoridades e disse estar passando por um ;dia ruim, momento difícil, problemas na família e crises nervosas;. ;Independente do que for, não justifica a violência contra o animal nem a exposição da criança ao fato. Ela achou que não fosse acontecer nada;, disse Firmino. A previsão é de que o inquérito seja concluído em 10 dias e encaminhado à Justiça, mas antes passa pelo Ministério Público de Formosa. A Promotoria da Infância e Juventude aguardará as apurações para se manifestar. O Conselho Regional de Enfermagem de Goiás divulgou nota lamentando a brutalidade e pedindo a apuração dos fatos, mas explicou que a enfermeira só poderia ser punida pelo órgão se houvesse cometido infrações ligadas ao exercício profissional.

Repercussão
O vídeo circulou em redes sociais, jornais e emissoras de televisão de todo o Brasil. Um perfil no Twitter pedindo a prisão da enfermeira foi criado. Defensores de direitos dos animais organizaram uma petição pública para pedir punição à acusada. Em Formosa, o assunto era o mais comentado do dia. Entre os vizinhos da mulher, que mora com a filha e o marido, o sentimento era de perplexidade diante dos fatos. Aqueles com quem o Correio conversou não se lembram de ouvir gritos ou barulhos que denunciassem sofrimento por parte do cão. Ninguém foi visto ontem na casa da suspeita.

De acordo com uma moradora do prédio, a mulher nunca apresentou sinais de agressividade. É descrita como boa mãe e tranquila, apesar de ser reservada. ;Acho que o que ela fez foi muito errado e por isso ela tem que dar explicações à Justiça. Mas dizer que ela pode perder a guarda da menina é exagero;, comentou uma das vizinhas.

Entidades de defesa dos animais se mobilizaram em busca de punição para a agressora. A Associação Protetora dos Animais no Distrito Federal (Proanima) enviou um documento cobrando providências do Ministério Público de Goiás, na tarde de ontem. Para a diretora financeira da instituição, Ariadne de Castro, a acusada deve ser punida. ;Ela tem que responder pelo crime de maus-tratos. Nada justifica o que ela fez. Se não tinha condições de ter o cachorro, que procurasse outras formas de resolver o problema;, disse.

Opinião do internauta
Leitores do Correio comentam a reportagem sobre os maus-tratos ao cão:

Moisés Carvalho
;Realmente, são lamentáveis as cenas presenciadas pela criança, numa demonstração de intolerância, falta de amor e carinho, e de desprezo pela vida. Como pode uma enfermeira tratar um ser vivo com tanta frieza e crueldade? Como pode sentir-se indiferente ao sofrimento imposto ao animal?;

;Aline Pozzi
;Se esta desequilibrada é mesmo uma enfermeira, o Conselho de Enfermagem deveria investigar como ela está trabalhando, pois poderá fazer o mesmo a um paciente;

Andrea Sousa
;Chocou o país todo! O Brasil precisa rever as leis que punem esse tipo de crime cruel e covarde. Quem deveria proteger espanca, tortura e mata? É tão cruel e absurdo que não recomendo que assistam ao vídeo, mas que exijam punição máxima a essa insana;

Raquel Reis
;Enfermeira, esposa de um médico. Ainda zombou das pessoas no Twitter. Quem é o verdadeiro animal?;

Wellington da Silva Mota
;Tive a infelicidade de ver o filme e não tenho dúvidas de que uma pessoa dessa deve ser presa e ainda afastada do filho, pois, se é capaz de matar um animal tão pequeno e frágil, o que é capaz de fazer com o filho em um momento de fúria?;

Gabriel Xavier
;Cadeia nela e proteção para o filho, para que não cresça com esse exemplo de vida;

Colaboraram Leilane Menezes e Roberta Abreu

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