Cidades

Fábrica de refrigerante é multada por despejar produtos químicos em córrego

Empresa foi punida por despejar produtos químicos no Córrego Riacho Fundo. Ibram indeferiu o recurso contra a penalidade. Moradores da Granja Modelo garantem que o problema existe há pelo menos cinco anos

postado em 20/12/2011 08:00
Ibram constatou que os resíduos eram típicos de refrigerantes
O Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do Distrito Federal (Ibram), órgão vinculado à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), multou a Brasal Refrigerantes em R$ 747,8 mil por despejar produtos químicos no Córrego Riacho Fundo. O problema, detectado em setembro, afeta os moradores da Granja Modelo, área rural localizada no Riacho Fundo 1. O mau cheiro é a principal reclamação da comunidade. A Brasal entrou com um recurso contra a multa, mas a ação foi negada pelo Ibram. Segundo o instituto, ao processo ainda cabe recurso em segunda instância na secretaria.

Há pelo menos cinco anos, cerca de 70 famílias que vivem na Granja Modelo reclamam da poluição no local. Uma vala de concreto passa ao lado de casas e, segundo os moradores, despeja os resíduos no córrego. ;As famílias ficam muito perto dessa vala. Todas as vezes que vamos até lá, elas se queixam do forte cheiro dos produtos químicos, de óleo diesel;, diz o chefe de gabinete da Administração Regional do Riacho Fundo 1, Dalton Paranaguá. O pintor Luiz Antônio Campos, 43 anos, mora a cerca de 10m da vala, por onde passa uma forte enxurrada de cor marrom. ;É uma carniça, fede o dia inteiro. Tem dia que não dá nem para dormir;, reclama. O pintor é casado e tem uma filha de cinco anos. Ele contou que o odor causa dores de cabeça e enjoos na família. ;Parece que os produtos ficam acumulados e eles (fábrica) soltam tudo de uma vez;, suspeita. Segundo os moradores, há ocasiões em que o esgoto transforma o córrego em espuma.

O diretor de Fiscalização do Ibram, Aldo César Vieira Fernandes, confirma que as denúncias existem há alguns anos. Mas, durante as visitas dos técnicos do órgão, os lançamentos de resíduos no córrego nunca eram flagrados. ;Somente este ano, pudemos comprovar;, diz. Segundo ele, uma varredura com a colaboração da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) constatou o efluente industrial. ;A análise comprovou que os resíduos eram típicos de refrigerante e autuamos a fábrica;, explica.

Preocupação
De acordo com Aldo Fernandes, o problema foi resolvido. ;Fizemos uma vistoria com técnicos da fábrica e da Caesb após a autuação e não constatamos mau cheiro no local. Entende-se que o problema foi sanado;, completa. A suspeita de que outros odores sentidos pelos moradores possam ser de ligações clandestinas não está descartada. ;Temos contra a Brasal apenas a comprovação do resíduo químico. Fizemos a autuação com segurança.;

Sem nenhum tipo de proteção, a vala preocupa os pais. ;Não deixo minhas filhas chegarem perto. Se cair alguém ali, já era. A força da água é muito forte. Com a chuva, ela já transbordou;, conta Cosmo Pereira, 33, que trabalha com serviços gerais. Ele mora na área há 10 anos e afirma que o mau cheiro sempre existiu. ;Parece óleo queimado, esgoto;, avaliou. Segundo ele, reclamar não adianta. ;A gente não resolve isso. Já passamos para a administração, que foi até lá. Tomara que resolvam logo.;

Para o secretário de Meio Ambiente, Eduardo Brandão, a atitude da empresa em recorrer à da penalidade surpreende. ;A fábrica tem um discurso socioambiental. Eles tiveram uma atuação proativa para resolver a questão. Não pensávamos que recorreriam.; Segundo ele, a questão das multas ambientais pode se arrastar por muito tempo. ;O ideal é que a empresa faça benefícios no local como um tipo de compensação. Gostaríamos muito que, se foi um acidente, além de reparar, ajudem a corrigir os danos causados;, avaliou.

Em nota, a Brasal Refrigerantes, que tem sede em Taguatinga, esclareceu que o vazamento foi causado por uma rachadura em uma manilha subterrânea da empresa. Segundo a Brasal, o problema foi identificado e a rede reparada. A empresa afirmou ainda que não há ligação clandestina na rede e que a manilha que compõe o sistema de ligação da rede pluvial da empresa à rede pública é devidamente autorizada, antes mesmo da instalação da fábrica no local. A Brasal informou também que ainda não foi notificada sobre o indeferimento do recurso que apresentou contra a multa.

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