Cidades

Mãe de quadrigêmeos luta para criar filhos com deficiências em Taguatinga

postado em 04/01/2012 06:53
Linda Mar entre Marta e Rebeca (atrás), Davi e Esther, no colo: desempregada, ela conta com auxílio alheio
O olhar triste e cansado da dona de casa Linda Mar Miranda Alves da Silva denuncia o fardo que vem carregando. Aos 51 anos, a mãe dos quadrigêmeos Esther, Marta, Rebeca e Davi encontra força na alegria dos filhos para não desistir. Desempregada, ela dedica todo o tempo a cuidar das crianças, hoje com 10 anos. A história da família é conhecida e comoveu os brasilienses. Em 2000, Linda Mar deu à luz cinco crianças. A pequena Sarah morreu poucas horas depois. Os bebês nasceram com lesão cerebral. Os três primeiros têm pernas mais curtas e dificuldade no aprendizado. Esther teve paralisia cerebral e está numa cadeira de rodas.

Pouco mais de um ano após a última visita do Correio, Linda Mar abriu novamente a porta de sua casa, em Taguatinga Sul. Bem arrumados, comportados e com um enorme sorriso no rosto, os quatro irmãos dividiam um sofá na sala simples durante a entrevista. Mas era tudo recomendação da mãe. ;Eles são muito bagunceiros;, denuncia Linda Mar. Davi, de voz rouca e poucas palavras, é o mais inquieto. Rebeca e Marta, a todo momento, se olhavam de esguelha. Pareciam tramar alguma coisa. Esther, sem dúvida, é a mais carinhosa. No colo da mãe durante a conversa, a todo momento agarrava seu pescoço e lhe dava um beijo estalado. O carinho se estende aos irmãos, muito atenciosos com ela.

A renda da família vem dos filhos mais velhos, Marcos, 27 anos, e Vanessa, 24. Ele é segurança e ganha um salário mínimo. Vanessa recebe R$ 480 do estágio. Ela ganhou uma bolsa de estudos e faz direito na Católica. Está no nono semestre, falta pouco para concluir o curso. O dinheiro que ganha tem destino certo: aluguel e despesas do lar. ;Não sobra nada para mim;, diz. Ainda assim, estampa um sorriso no rosto que não sai por nada. O sonho da moça é ser delegada federal. ;Este ano, eu vou prestar concurso;, avisa, em tom confiante. Alguém duvida? Devido à lesão, Esther recebe uma aposentadoria pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), R$ 545, para ajudar a bancar o tratamento. O pai dos quadrigêmeos, que foi embora de casa há quatro anos, também ajuda com R$ 300 mensais.

Despesas
O aluguel da casa, de R$ 600, está em dia. Entretanto, os pagamentos atrasados tiram o sono de Linda Mar e dos filhos mais velhos. São quatro contas de água, no valor total de R$ 592, e duas de luz, que somam R$ 581. ;A luz e a água haviam sido cortadas, mas fiz um acordo. Vou pagar aos pouquinhos, e no dia 10 já tenho mais uma a saldar. Mas vai acumular com outras e não tenho esse dinheiro;, lamenta a dona de casa. ;Eu queria poder trabalhar para dar conforto aos meus filhos, mas como faço?; Outro gasto importante é com os medicamentos utilizados por Esther: ;São mais de R$ 500 por mês;.

As crianças, alheias aos problemas, só querem brincar. São brincadeiras simples, sem muitas exigências. Desde que nasceram, os pequenos não saíram de casa, a não ser para ir à escola ou ao Hospital Sarah Kubitschek, onde fazem tratamento. ;Eles não conhecem o shopping, a Água Mineral ou o Zoológico;, comenta Linda Mar. O Natal na casa da família não teve comemorações, ceia ou presentes. Mesmo assim, os irmãos deixaram o recado para o Papai Noel. As meninas pediram o que toda menina quer: bonecas. Mas Rebeca foi específica. ;Quero uma casa da Barbie;, disse. ;Gostaria também de um notebook para estudar;, lembrou Marta. Davi pediu carrinhos, brinquedo de menino. ;Se ao menos as contas atrasadas fossem quitadas, esse seria o nosso presente de Natal;, completou Vanessa.

Apesar das dificuldades, Linda Mar, que se define ;uma galinha com os pintinhos;, agradece a Deus pelos filhos. ;Quando chega 18h, já estão todos na minha cama. A gente conversa, ri. Não tenho do que reclamar, mas que é cansativo, é;, desabafa. A única ajuda de fora que a mãe recebe é de uma grande amiga. Mas não em dinheiro. Zoraide Neves de Queiroz, 51 anos, doa tempo, atenção e dedicação. ;Sempre que ela precisa de mim, venho. Ajudo a levar as crianças a consultas ou fico com os três enquanto ela leva a Esther para o hospital;, conta.

Tratamentos
Com a saúde debilitada, Linda Mar esteve internada durante quatro dias, por conta da pressão alta. ;Estou com gordura no fígado, as rótulas dos joelhos desgastadas e problema no coração. Ando muito cansada.; Poucos dias depois de receber alta, foi a vez de correr para o hospital com Esther. Uma forte convulsão na menina assustou a mãe quando as duas voltavam de uma consulta no Sarah. ;Chegamos em casa, dei banho nela e, quando vi, estava se debatendo. Eu vi minha filha morrer.; Esther nasceu com hidrocefalia. A suspeita é que a válvula que elimina os líquidos da cabeça tenha entupido. Mas, para diagnosticar o que causou o problema, os médicos pediram uma tomografia. ;O exame custa R$ 200. Não sei quando ela poderá fazê-lo.;

Outra situação que preocupa a mãe é o desvio na coluna de Esther. A cadeira de rodas que a menina ganhou de doações a mantém ereta. Mas uma cirurgia para reverter o problema é praticamente descartada. ;Os médicos disseram que, se ela operar, tem 90% de chances de morrer. Mas, se não operar, ela vai envergando;, conta Linda Mar. Porém, Esther só está preocupada em sorrir e ouvir música em um celular que ganhou de presente. E escuta sucessos sertanejos o dia inteiro.

;Precisamos de tudo;, comenta Linda Mar. Além da alimentação e das contas básicas, a dona de casa tem gastos com fraldas e medicamentos para Esther. Ela usa tamanho extragrande de marcas para bebês. ;Tudo o que eles têm é doado, como roupas e calçados;, atenta.

Memória
Inseminação
Os filhos de Linda Mar são fruto de inseminação artificial. Mulher pobre de Samambaia, ela vivia no seu modo simples. Trabalhava como faxineira e, com o salário que ganhava, criava os filhos do primeiro casamento ; Vanessa, à época com 13 anos, e Marcos, 15. Aos 40, já tinha feito laqueadura, mas casou-se pela segunda vez e o marido sonhava ser pai. Naquele tempo, o Hmib tinha um programa que atendia mulheres carentes, mas, que, embora operadas, queriam ser mães mais uma vez. Como o procedimento era de graça para mulheres de baixa condição financeira, Linda Mar autorizou a implantação de cinco embriões em seu útero. Todos vingaram.

Colabore
Para ajudar Linda Mar com fraldas ou alimentos, basta ligar para 3356-4603 ou 8619-9317. Se preferir ajudar com dinheiro, a conta-poupança é a de número 932857-8, agência 008 da Caixa Econômica Federal. No Banco do Brasil, o número da conta-corrente é 14380-4, agência 3605-6. As contas estão em nome de Vanessa Alves da Silva.

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