Cidades

A casa fala: os afetos poéticos dos autógrafos de Chiquinho Livreiro da UnB

Série de reportagens multimídia do Correio mostra as relações afetivas entre as casas e os brasilienses

postado em 24/03/2013 07:30
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O acervo, a placa, a reportagem e a única obra sem autógrafo
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[SAIBAMAIS]Foi o jornal que conduziu o piauiense Francisco Joaquim de Carvalho para a leitura densa e prolongada dos livros. O jovem Chiquinho saía pelas quadras de Sobradinho oferecendo seu produto, folhas de papel transmitindo as notícias do mundo. Rapidamente, o jornaleiro aprimorou a velha técnica de gritar as manchetes aos ventos. Aproximava-se dos possíveis clientes e avisava-os de que na edição daquele dia havia assuntos de seu interresse. ;Se o cara da farmácia gostava de futebol, eu dizia que tinha notícia do Pelé, por exemplo. Se o da padaria gostava de religião, eu contava que o jornal estava cheio de matérias sobre o papa. Se o outro se interessava por violência, eu mostrava a página de polícia.;




O carvalho do autógrafo poético de Cora
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Logo, a técnica mambembe se mostrou extremamente bem-sucedida. Chiquinho ganhou uma bicicleta por ter sido o jornaleiro que mais vendeu exemplares num só mês, 500. O número era razoável para a modesta publicação, o Diário de Brasília, já extinto. Pouco tempo depois, foi trabalhar com dona Chica, dona da banca de revistas da Universidade de Brasília. O adolescente de 15 anos chegava à UnB às 6h, punha cem exemplares de jornal na cabeça e ia para a entrada norte do Minhocão esperar pelos alunos, professores e funcionários da universidade. Vendia o Correio Braziliense, a Folha de S. Paulo, o Jornal do Brasil, o Estadão e os periculosos O Pasquim, Coojornal, Opinião e Movimento, tabloides que enfrentavam o regime militar.

O Dorian Gray do Chiquinho
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Eram anos de chumbo, mas o garoto vindo de Picos para Brasília aos 8 anos nem se dava conta da gravidade do momento. ;Se o pessoal da ditadura me prendesse, eu não ia nem saber por que estava sendo preso.; Viriam mais perigos pela frente. Depois de quatro anos na banca da dona Chica, Chiquinho foi trabalhar na memorável Livraria Galilei, no Conic, ponto de encontro de intelectuais de esquerda. No dia do lançamento do livro de um anistiado político, a livraria recebeu um telefonema avisando que havia duas bananas de dinamite. A polícia foi chamada, e os explosivos, localizados.

Àquela altura, Chiquinho já estava fisgado pelas letrinhas impressas. Mas foi o contato intenso com o então editor da revista Víbora, Nelson Abrantes, que deu contornos definitivos ao destino do futuro livreiro. ;Ele falava tanto de livros, o dia inteiro, que eu tinha pesadelos à noite.; Quando saiu da livraria de Abrantes, Chiquinho já estava preparado para ser um livreiro. Teve a ideia de voltar ao colo da UnB. Comprou um pequeno estoque de livros, bateu à porta do Centro Acadêmico de Economia e pediu para guardar na sala do CA seu modestíssimo acervo. Durante o dia, saía vendendo as obras de mão em mão e pegando encomenda de novos títulos. Até que mudou a gestão do centro acadêmico e o livreiro ambulante perdeu o lugar.

Série de reportagens multimídia do Correio mostra as relações afetivas entre as casas e os brasilienses

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