Cidades

Ari Cunha: Visto, lido e ouvido há 53 anos

Assinada por Ari Cunha, a coluna publicada diariamente desde a inauguração de Brasília é uma das mais tradicionais do país

postado em 18/05/2013 07:09

Ari Cunha (D) com o presidente JK durante o 18º aniversário do Catetinho, em 1974
;Escrevo para dar asas aos dedos.; O mote tem sido o mesmo há mais de cinco décadas para Ari Cunha. O jornalista e vice-presidente institucional do Correio Braziliense tem acompanhado a rotina e lutado por uma cidade melhor há recém-completos 53 anos na coluna Visto, Lido e Ouvido. Não só a publicação tem a mesma idade de Brasília, mas é, muito provavelmente, a coluna mais longeva da imprensa brasileira. Ao longo dos anos, o instrumento serviu para defender, provocar e inspirar moradores e governantes da capital brasileira.

Essa história começou com a história de Brasília. Cumprindo a promessa de Assis Chateaubriand a Juscelino Kubitschek de que se a cidade fosse inaugurada em 21 de abril de 1960 os Diários Associados estariam aqui, Ari veio escolher o terreno e acompanhar a instalação do Correio e da TV Brasília. Nos primeiros dias, morou em um acampamento de madeira para ver de perto a colocação de tijolo por tijolo do edifício que abrigaria as redações dos dois veículos de comunicação.

Modesto, Ari conta que começou a escrever a coluna por observar de perto a rotina de Brasília. ;A gente via o desconforto das pessoas com algumas coisas. Comecei a colocar isso em pílulas, que são mais rápidas de ler. Acabou tendo repercussão. Pautamos muitos jornais;, afirma. Nada mais natural para ele do que conhecer em minúcias o cotidiano, os problemas, as belezas e os bastidores da evolução da capital. Ari chegou a tempo de testemunhar de perto a transformação de um canteiro de obras em uma cidade moderna, sem par no mundo, pensada por Oscar Niemeyer e Lucio Costa.

Humor e ousadia
Por isso mesmo, quando via desfeitos pela cidade afora, não hesitava em publicar suas críticas. Com isso, claro, conquistou alguns desafetos, inclusive durante a ditadura militar. Mas os admiradores vieram em número bem maior. ;Antigamente, eu era um incitador. Hoje, sou mais um bombeiro;, explica, rindo . Aos 85 anos, ele ensina, em ótimo humor, que ;muito atrevimento é danoso a qualquer um;. Desde 1998, a filha Circe Cunha auxilia o pai a selecionar e a escrever a publicação. ;O Ari deveria estar no Livro dos recordes. É dele a única coluna que nasceu com uma cidade e existe até hoje;, argumenta o amigo Silvestre Gorgulho, ex-secretário de Cultura do DF.

O jornalista com Oscar Niemeyer, arquiteto responsável pelos principais monumentos da capital

A fórmula não passou por alterações drásticas ao longo das décadas. Naturalmente, acompanhou as mudanças advindas da evolução tecnológica e dos projetos gráficos desenvolvidos pelo jornal. Aliás, o próprio Ari incorporou a modernidade no dia a dia. Tem dois smartphones, digita os textos no computador e fica atento ao noticiário na internet. Seu compromisso é entregar até as 14h o que propôs para a edição do dia seguinte. ;Continuo trabalhando, sim. Todos os dias. Quando o sujeito veste o pijama, morre de tédio;, arremata.

Perfil

Pioneiro da notícia
José de Arimathéa Gomes Cunha nasceu em 22 de julho de 1927, na cidade cearense de Mondubim. Filho de Eva e Raimundo Gomes de Pontes Cunha, descobriu ainda criança a habilidade para a escrita e a notícia. Aos 16 anos, em 1944, foi contratado como revisor da Gazeta de Notícias, de Fortaleza, e, depois, trabalhou no jornal Estado. A bordo de um navio, deixou a Região Nordeste em 1948 em direção ao Rio de Janeiro, onde começou carreira no Bureau Interestadual de Imprensa e no International News Service. Por muito tempo, escreveu a crônica política para vários jornais representados pelo escritório. Trabalhou com Carlos Lacerda, Joel Silveira, Heráclito Sales, Paula Job, Prudente de Moraes Neto, Etiene Arregui Filho, Irineu Sousa e outros destacados jornalistas da época.

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A experiência na cobertura também valeu a convivência com políticos de peso, como João Mangabeira, Luiz Viana Filho, Café Filho, José Bonifácio de Andrada, Bias Fortes, Israel Pinheiro, Juscelino Kubitschek. Contratado pela New Press, chefiou a redação em São Paulo durante 10 anos, antes de se transferir para o Última Hora, ao lado de Josimar Moreira de Melo e Samuel Wainer, onde desenvolveu o conhecimento da parte técnica de jornais. Em julho de 1959, passou a fazer parte dos Diários Associados, ajudado pelo amigo Paulo Cabral e contratado por Edilson Cid Varela, gerente do periódico O Jornal. A Ari Cunha foi confiada a reforma da Folha de Goiaz, em Goiânia, onde permaneceu até setembro.

Uma vez na Região Centro-Oeste, a ele foi incumbida a missão de vir a Brasília para estabelecer na nova capital o Correio Braziliense. Em 1981, Ari Cunha foi eleito condômino dos Diários Associados. Além da vida intensa na imprensa, ele investiu na vida pública. Em 1961, presidiu a Comissão de Incentivo à Iniciativa Privada, ligada diretamente ao gabinete do então prefeito de Brasília, Paulo de Tarso Santos, ao tempo de Jânio Quadros na Presidência da República. Entre 1986 e 1987, atuou como vice e presidente do Banco Regional de Brasília (BRB), durante o governo de José Aparecido de Oliveira. Em 1990, assumiu o cargo de vice-presidente dos Diários Associados, cargo que ocupa até hoje. Do casamento com a professora de enfermagem Maria de Lourdes Lopes Cunha, o jornalista teve quatro filhos: Ari, Eliana, Raimundo e Circe.

Assinada por Ari Cunha, a coluna publicada diariamente desde a inauguração de Brasília é uma das mais tradicionais do país

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