Cidades

Pioneiro conta como se fixou no DF e criou a família no Gama

Entre as figuras ilustres que conheceu, estão Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro

postado em 20/04/2014 07:10
Entre as figuras ilustres que conheceu, estão Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro

Era 30 de outubro de 1959. A inauguração da capital se aproximava e as notícias que chegavam diziam respeito a uma cidade em construção, rica em oportunidades e pronta para abrigar brasileiros dos quatro cantos do país em busca de uma vida melhor. O baiano Onésio Nunes tinha 18 anos e morava na roça, no interior do estado, em Barreiras. A vontade do pai era que ele continuasse por lá para cuidar da propriedade da família. Ele não queria. Sonhava com uma vida melhor. Um dia à noite, a contragosto dos parentes, arrumou as malas e fugiu de casa. Seu destino era Brasília, mas a cidade, distante 600km, era mais longe do que parecia. Somente entre sua residência e o ponto em que passaria o pau de arara responsável por trazê-lo até o DF, foram 50km de caminhada. Depois, mais oito dias de viagem na caçamba de um caminhão improvisado, dividindo espaço com pelo menos outras 30 pessoas, até chegar ao Planalto Central.



O desembarque foi na Praça Velha, em Planaltina. ;Nem sandália eu tinha. Desci descalço e me deparei com um lamaçal enorme;, lembra. Ali mesmo, um homem já oferecia emprego. De prontidão, foi contratado para ajudar na construção do Ministério da Fazenda. ;Ajudei a levantar a Esplanada;, assegura. Depois de 60 dias ininterruptos de trabalho, encontrou um primo, que trazia boas novas. Conseguira um emprego de servente para Onésio, na construção do Bloco 8 ; atual F ; da 208 Sul. Com a obra concluída, no começo de 1960, convidaram-no para ser porteiro do prédio. Até aquele dia, o jovem nunca tinha nem sequer pisado numa sala de aula. Não sabia ler e escrever. ;E lá estava eu, matuto interiorano, agora responsável por receber as primeiras mudanças dos integrantes do alto escalão governo federal que vinham do Rio de Janeiro. Naquele bloco, pude ficar amigo de grandes homens, como Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira, Gabriel Passos, entre tantos outros;, conta. ;Darcy era uma pessoa especialíssima, carismática e atenciosa;, acrescenta o pioneiro.

Quem trabalhava nos blocos, antes e depois de suas construções, morava em um acampamento na quadra ao lado, na 207 Sul. ;Nossa residência era um barraco de madeira;, lembra. Ele destaca a precariedade do espaço. ;O banho era coletivo. Não tínhamos estrutura para nada.;

Contratado pelo extinto Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado (Ipase), em 1965, foi transferido para a parte burocrática do órgão situado no Setor de Autarquias Sul. Ele deixou a portaria do bloco com seus colegas de profissão e tantos outros moradores devido à ditadura militar. ;Dava muito problema. Os militares iam com frequência até o prédio atrás dos políticos que lá residiam;, recorda. Ele fala do medo diário que viviam. ;A repressão era grande.;

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