Cidades

Colegas de taxista morto violentamente reclamam de perigo na rodoviária

Funcionário de uma central, que trabalhava à noite, não resistiu depois de sofrer agressões, ao reagir a um assalto. Um dos envolvidos no crime é menor e foi apreendido. O outro fugiu

postado em 12/05/2014 09:01
Boaventura em imagem de arquivo pessoal: excelente profissional
O assassinato do taxista Boaventura Alves Neto, 63 anos, revoltou os colegas de profissão. Funcionário de uma central de rádio táxi, Boaventura fazia a maior parte de suas corridas à noite. Era rotina parar às 3h, separar R$ 0,70 e tomar um copo de café na Lanchonete Tupã, localizada na plataforma D da Rodoviária do Plano Piloto. Na madrugada de ontem, foi a última vez. Testemunhas relatam que o taxista retornava para o carro após terminar de tomar o café, quando dois homens o abordaram. Ele reagiu ao assalto e iniciou uma briga com os assaltantes. Em meio às agressões, Boaventura caiu e bateu a cabeça.

A dupla continuou a golpeá-lo no chão. O taxista ficou tonto, ensanguentado e morreu a poucos metros de onde a confusão teve início. O motorista de caminhão Expedito Rocha, 63, também é cliente da lanchonete. Gosta de tomar café pelas manhãs e observar o movimento. E não aprova o que vê. ;Aqui é muito perigoso, principalmente quando está cheio. A bandidagem está solta;, diz. Um funcionário do local, que não quis ser identificado, lamenta a morte do trabalhador, mas não se surpreende. ;Ele tomava café toda madrugada aqui. Era gente boa e virou vítima;, diz. ;Trabalho há cinco anos aqui, essa rodoviária é triste;, afirma.

O também taxista Raimundo Pereira, 62, não conseguiu conter as lágrimas. ;É mais um que se vai. Tem polícia, mas não tem lei;, lamenta. Perguntado se está mais perigoso dirigir táxi hoje em dia, ele generaliza a questão. ;Não é problema só de taxista. É de jornalista, de professor. Não tem jeito, aqui está uma desordem total;, continua, antes de explicar que nunca trabalhou à noite. ;São 26 anos de praça. Desde o começo, deixei claro que só rodaria de dia;, lembra, citando a cautela.

Após o espancamento de Boaventura, a dupla tentou fugir. Um deles foi capturado. O suspeito tem 17 anos e foi levado pela Polícia Militar à Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA). O outro, até o fechamento desta edição, continuava foragido. De acordo com os familiares do taxista, o enterro será hoje no Campo da Esperança, entre as 12h e as 13h. Até o fechamento desta edição, não tinham confirmado o horário do velório.

Profissional exemplar
Quem convivia com a vítima lembra de um homem tranquilo. O presidente da Cooperativa dos Condutores Autônomos de Brasília (Coobrás), Leopoldo Rodrigues Ferreira, afirma que Boaventura tinha mais de 15 anos na mesma central de rádio. ;O Boaventura vivia exclusivamente de táxi e trabalhava à noite para aumentar os rendimentos. Era um excelente profissional, um companheiro que morreu em trabalho;, diz. ;Vamos providenciar o funeral;, promete.

O colega de profissão e de café Luiz Pereira da Silva, taxista de 64 anos de idade e 40 de praça na Rodoviária, lamenta a perda. ;Conhecia o Boaventura há mais de 15 anos, ele não dava problemas para ninguém;, conta, antes de relatar experiências próprias com a violência na Rodoviária. ;No mês passado, fui assaltado duas vezes aqui e só estou vivo por sorte;, diz.

Em abril, Luiz foi abordado por dois homens às 9h no ponto de táxi na plataforma inferior mais próximo da parte Sul. Eles o amarraram, pegaram o dinheiro conseguido no dia anterior e o fizeram dirigir até os condomínios da quadra 23 do Lago Sul. ;Oito dias depois, fui raptado de novo e deixado em Samambaia;, relata.

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