Cidades

Pacientes, amigos e funcionários elogiam legado de Campos da Paz

Para todos, o maior presente deixado é o tratamento igualitário e a dedicação integral à saúde dos pacientes

postado em 27/01/2015 06:21
Visionário e humanista, Aloysio Campos da Paz Júnior tinha sonhos baseados no coletivo, no social e no bem ao próximo. Buscava a ética e a seriedade. Viveu oito décadas e deixou uma obra de referência mundial em saúde pública. O carioca de alma brasiliense, sempre questionador e crítico, muitas vezes considerado rígido ao extremo, mostrou ser viável tratar pacientes em um sistema gratuito de qualidade. Sem distinção, cuidou de políticos a pessoas de baixa renda. Foram eles que se juntaram à família ; dona Elsita, esposa; três filhos, Isabella, Priscilla e Aloysio; e quatro netos ; nas duas cerimônias de despedida, por onde passaram cerca de 3 mil pessoas ao longo do dia.

O velório e o sepultamento foram prestigiados por autoridades da República, várias delas ex-colegas de trabalho ou ex-pacientes do médico e pesquisador

O velório de Campos da Paz começou pouco depois das 10h, na unidade do Sarah Centro, na Asa Sul. De lá, às 14h, o corpo foi levado para o Cemitério Campo da Esperança e enterrado por volta das 17h30, na Ala dos Pioneiros. No momento do sepultamento, a saudade se transformou em depoimentos emocionados. ;Sonhei o sonho dele e ele sonhou o meu;, disse uma das pacientes, que discursou em voz alta. Uma das filhas do médico, a musicoterapeuta Isabella Cristina Coelho Campos da Paz, 47 anos, ressaltou os ensinamentos deixados pelo pai: ;Ficam o humanismo, a ética, a seriedade e o comprometimento com o trabalho. O foco está nas futuras gerações. Que os médicos hoje em processo de formação pensem no coletivo e não sejam individualistas. Meu pai nunca buscou isso. Ele era visionário. Viveu 800 anos em 80.; Para o governador Rodrigo Rollemberg (PSB), ;dr. Campos da Paz foi um dos grandes brasileiros da sua geração. Uma contribuição enorme à medicina e ao humanismo e uma perda irreparável para Brasília;.



Pacientes também fizeram questão de retribuir o carinho recebido por Campos da Paz, entre eles Jorge Fireman, 37 anos: ;Eu sou filho do Sarah;. Morador de Maceió (AL), ele entrou pela primeira vez na unidade três meses depois de ser atropelado quando andava de bicicleta, em 2003. ;Tive uma lesão medular e só mexia os olhos. Vim fazer o tratamento em Brasília e aqui tive atendimento humanizado. Conheci doutor Campos na unidade do Lago Norte e ele sempre foi divertido, brincalhão. Ele aparecia no refeitório, nos alojamentos, perguntava se estava tudo bem;, lembra.

Naim Sudré, paciente desde 1967:

O aposentado Naim da Silva Sudré, 58, tem paralisia cerebral e, desde 1967, era acompanhado pelo médico. Foi operado por dr. Campos ainda no Hospital de Base. Depois, começou a reabilitação no Sarah. ;Um momento marcante foi quando ele disse que implantaria um sistema de saúde de referência. Falou que fecharia a clínica particular dele e se dedicaria exclusivamente ao projeto. Ele marcou minha vida não apenas como médico, mas como pessoa;, destacou Naim.



[SAIBAMAIS]Reverência ao mestre
Um homem dedicado, com pulso firme, mas com o coração do tamanho do legado que deixa para a saúde brasileira. Com essas qualidades, funcionários da Rede Sarah definem Aloysio Campos da Paz. O tratamento igual para todos talvez tenha sido o principal motivo que levou médicos, enfermeiros, seguranças, auxiliares administrativos e de limpeza a se enfileirarem durante toda a manhã de ontem no hall do teatro da unidade da Asa Sul para participar do velório do fundador da rede. Nas rodas de conversa, não havia choro ou lamentação, mas sim elogios e boas lembranças do médico que dedicou a maior parte da vida dentro dos corredores dos hospitais.

Campos da Paz não diferenciava os funcionários. Para ele, todos eram iguais e, em suas funções, exerciam papéis de fundamental importância. Muito mais do que um patrão, o ortopedista e fundador da rede é definido pelos funcionários como um mestre, um humanitário e um médico que lutava pelos seus ideais ; o principal deles, tratar todos com qualidade. Ele acumulou amigos dentro da profissão. Entre eles, a neurocientista Lúcia Willadino Braga, a quem confiou a presidência da rede, há 20 anos.

Atencioso e rígido
Pouco antes de o caixão ser retirado do hall do teatro para seguir ao Campo da Esperança, por volta das 14h, Caçula Souza leu em voz alta uma carta em que falava sobre sua relação com Dr. Campos. Durante 15 anos, entre 1980 e 1995, ela foi secretária do médico. Deixou o posto para se aposentar. ;Mas entrei no Sarah muito antes, em 1972, como paciente, por causa de um acidente de carro. Mesmo depois das cirurgias, ficava sempre aqui no hospital, até um dia em que ele falou que era para me contratarem como secretária dele. Nunca vi alguém se dedicar como ele. Lembro dele como uma pessoa generosa, amiga, verdadeira, honesta e com o pulso bem firme, rígido;, conta.

Caçula entregou a carta à família de Campos da Paz. ;Escrevi hoje (ontem), em gratidão por todo o tempo em que trabalhei ao lado dele. Onde ele estava, eu estava também. Às vezes, brigava comigo, mas logo estava tudo bem, pois era muito íntegro.; O último encontro dos dois foi no ano passado, na unidade da Asa Sul. ;Ele me contou que um médico americano, que a gente conhecia e vinha muito aqui, tinha ficado viúvo. E o Dr. Campos falou para ele viajar. Esse médico viajou e encontrou uma ex-namorada durante a viagem.;

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