Cidades

Brasília pulsa vida escondida no subterrâneo do Plano Piloto

Lugares em que o brasiliense nem percebe que está enterrado, mesmo fazendo parte do dia a dia têm vida cultural e política

postado em 24/05/2015 08:00 / atualizado em 19/10/2020 15:25

Técnico em mecânica do metrô há oito anos, Alexandre Magno do Nascimento conta que, há alguns anos, ele e dois colegas viram uma estranha aparição. Nunca mais falaram a respeito
Numa cidade construída de peito aberto para a via láctea não haveria de ter subterrâneos. Mas, se até o céu se esconde na noite, Brasília também existe debaixo da terra. Existe, se movimenta, desagua, reluz, dança, namora, joga, confessa, reza, vê peças de teatro, controla todo o Exército brasileiro, fuma crack e se esconde da polícia. Há um Plano Piloto debaixo do Plano Piloto, com arquitetura e urbanismo modernos, Lucio Costa, Oscar Niemeyer, rios de dinheiro e magotes de ouro.

Na garagem do QG do Exército, um dos maiores painéis de Athos Bulcão:  518m² de área
Debaixo dos pés do Plano Piloto, existem ruas, igreja, museu, teatro, restaurante, túneis, kits, lojas e, claro, o metrô. A nave da Catedral Metropolitana fica no subsolo. A Plataforma Rodoviária brinca de sobe e desce com a superfície da Terra. Senadores e deputados entram no Congresso por um hall enterrado no chão. A presidente Dilma Rousseff, como todos os seus antecessores, veem filmes numa sala de cinema subterrânea.



Os subterrâneos do Plano Piloto preservam uma das maiores obras de Athos Bulcão — um painel de 518m² em azul-petróleo e verde-oliva com fundo branco. Fica na garagem do Quartel-General do Exército, obra de Oscar Niemeyer no Setor Militar Urbano. É um Athos que recebe, todos os dias, o comandante da força militar e alguns poucos oficiais e convidados. Está muito bem preservado o painel, à exceção de plaquetas que foram grudadas em azulejos para identificar a quem é destinada a vaga no estacionamento.

As profundezas de Brasília guardam, em um salão de 10 mil m², ou seja, um hectare, todo o dinheiro do Banco Central, mais as reservas em ouro. É a Caixa-Forte do BC, a caverna a que só alguns bat-funcionários têm acesso. Dez anos atrás, o Correio Braziliense teve permissão para fotografar a entrada do cofre, mas, desta vez, não. Embora o tesouro esteja guardado 30 metros abaixo da superfície do Eixinho Leste, a segurança do BC ficou escabreada depois que, dez anos atrás, bandidos perfuraram um túnel de 78m de comprimento e 4m de profundidade, para furtar (e não roubar, porque não houve violência física) 3,5 toneladas de cédulas de papel, mais ou menos R$ 164 milhões na sede do BC de Fortaleza.

Se não se pode visitar a Caixa-Forte do BC, é possível deleitar-se com a maior pepita de ouro já encontrada no Brasil e, talvez, no mundo. E ela está cinco andares acima do cofre do Brasil. Fica no Museu de Valores da instituição, no primeiro pavimento abaixo do solo, que o elevador identifica como -1 (menos 1). É uma pedra de cor escura, entre o cinza e o preto, de aproximados 57kg, volume que restou da peça de 150kg retirada de Serra Pelada pelo garimpeiro Júlio de Deus Filho (conta-se que ele morreu numa briga de bar). Seu grau de pureza: 99,9%.

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