Cidades

Com ELA, Geriton volta para casa, onde receberá tratamento custeado pelo DF

A internação domiciliar foi conquistada na Justiça. Familiares, entre eles a filha Lara, 5 anos, receberam o mototaxista em Sobradinho II, depois dele ficar um ano em UTI

postado em 01/07/2015 11:46
Geriton, em casa, com os familiares: recepção emocionada depois de 393 dias de espera e luta na Justiça
;Meu pai chegou, quero ver meu pai!”, gritou a pequena Lara, 5 anos, do portão de casa ao avistar a ambulância. No carro, estava o mototaxista Geriton Almeida Lacerda, 31, de mãos dadas com a esposa, Tatiana Buoso Malovany, 33. Com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), ele estava há mais de um ano na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Regional de Santa Maria e lutava para conseguir uma vaga de internação domiciliar custeada pelo governo do DF. A vitória foi confirmada em 22 de junho, quando a família conseguiu o direito de levá-lo para casa. A espera terminou ontem com a volta de Geriton para a residência da família, em Sobradinho II.

As lágrimas de alegria e o sorriso no rosto de cada um dos familiares comprovaram que nenhuma palavra se fez necessária para celebrar o momento. Estavam reunidos os pais, o irmão, a tia, a esposa e os filhos de Geriton. Todos queriam ficar perto do mototaxista. Foram 393 dias de espera e luta na rotina da família. Os parentes receberam o paciente com um cartaz: ;Papai, seja bem-vindo de volta. Estou muito feliz! Te amo muito. Beijo;, escreveu a pequena Lara.

A casa estava toda arrumada e preparada para a chegada de Geriton. No quarto do casal, havia balões vermelhos com a frase ;I love you;. A cama de Geriton e Tatiana deu lugar a outra, de hospital. Mas isso não será um problema para os dois. Nada é melhor do que voltar para casa, garante a esposa. ;Eu o coloquei em uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para ir para o hospital. E, hoje, eu o trouxe de volta para casa, é uma sensação maravilhosa. Vou poder acordar, abrir a porta e vê-lo feliz;, comentou, emocionada. Ela disse estar aliviada pelos filhos, que não vão mais chorar a ausência do pai. ;Vou dormir com a sensação de uma vitória conquistada;, completou.

Hiago, 12 anos, aliás, ficou sem ar ao ver o pai entrar em casa depois de todo esse tempo. Apesar de não poder falar por causa da doença, a emoção de voltar para os braços da família estava estampada no sorriso e no olhar do mototaxista. O que não vão faltar para ele, nessa nova etapa da vida, serão a atenção e o cuidado dos parentes, que também nunca faltaram no hospital.

Justiça

Em 2 de junho de 2014, Geriton foi internado na UTI do Hospital Regional de Santa Maria após uma parada cardíaca e outra respiratória. Desde o primeiro dia, a mãe dele, Rita Almeida Lacerda, 51 anos, fez o pedido pelo home care, como recomendado pela equipe da unidade de saúde. Passados três meses, os funcionários da empresa terceirizada responsável pela internação domiciliar estiveram na UTI para verificar os aparelhos de que Geriton precisava. No entanto, foi necessário que Rita aguardasse por mais de um ano para receber o filho em casa.

Há dois meses, a família de Geriton conseguiu uma liminar que intimava o governo a contratar o serviço de internação domiciliar com todo o suporte necessário para o paciente. A decisão da desembargadora Maria de Lourdes Abreu saiu após recurso da Defensoria Pública do Distrito Federal ao Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios (TJDFT), como revelou o Correio. Na última semana, a Secretaria de Saúde confirmou que Geriton estava inscrito no Programa de Internação Domiciliar da pasta e, de acordo com a direção da área, uma vaga tinha acabado de surgir e ele seria o próximo a ser atendido.

Mesmo após ver o filho em casa, Rita parecia não acreditar no que estava diante dos seus olhos. ;Já não tinha mais esperança de que ele sairia. Gastava R$ 50 por dia para ir até Santa Maria visitá-lo;, disse. ;A partir de agora, é só alegria;, acrescentou o pai, Genival Barbosa de Lacerda, 55 anos. Além do aparelho de respiração, Geriton terá acompanhamento de enfermeira 24 horas por dia e visitas semanais de um fisioterapeuta e de um médico.
Para saber mais

Degeneração de neurônios

A ELA é uma doença rara, neuromuscular e crônica, provocada pela degeneração progressiva de importantes neurônios motores do sistema nervoso central. Eles perdem a capacidade de transmitir os impulsos. A taxa de prevalência, no Brasil, é de aproximadamente 15 casos por 100 mil habitantes.

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