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Projeto arquivado em 2011 prevê instalação de barreiras no Eixão

DER resgata plano que prevê a instalação de barreiras no Eixo Rodoviário. Iphan e especialistas discordam da intenção

Adriana Bernardes
postado em 07/07/2015 06:05

DER resgata plano que prevê a instalação de barreiras no Eixo Rodoviário. Iphan e especialistas discordam da intenção


A proposta de separação do Eixo Rodoviário por muretas ; motivo de polêmica e de um amplo debate entre 2008 e 2011, quando se decidiu pelo arquivamento do projeto ; voltou a ser cogitada pelo governo. Com o argumento de que é preciso garantir a segurança viária, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) resgatou um documento em que o então superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico e Nacional (Iphan), Alfredo Gastal, sugere um modelo de segregação com barreiras do tipo New Jersey ao longo da via e, entre elas, um canteiro verde. A atual gestão do Iphan-DF discorda da instalação.

O custo da obra é estimado em R$ 13,8 milhões, dinheiro que, segundo o diretor-geral do DER, Henrique Luduvice, o órgão não tem em caixa. Além disso, ressalta que a execução dependeria de uma decisão de governo. ;É obrigação do poder público se antecipar aos problemas. E a realidade de Brasília mudou;, disse, referindo-se ao início da operação do BRT Sul pelo Eixão. ;Hoje, a colisão de um carro particular com outro tem uma repercussão. Mas você imagina se isso acontece com dois BRTs lotados?;, cita. De acordo com Luduvice, também está na mesa para debate a redução da velocidade dos atuais 80km/h para 70km/h.

Se realmente sair do papel, as muretas serão colocadas onde hoje é a faixa presidencial. No centro, haverá plantas. E, ao longo da rodovia, estão previstas seis passagens de emergência para o Corpo de Bombeiros, unidades policiais e ambulâncias. Metade delas ficará na Asa Sul e a outra, na Asa Norte.

Apesar de o argumento para a retomada da proposta ser a garantia de segurança aos motoristas, as estatísticas de acidentes fatais nos últimos 10 anos na rodovia revelam tendência de estabilidade desde 2008. No ano passado, houve cinco casos de ocorrências com mortes no Eixão, contra 14 em 2006. Na última década, somente em 2013, a estatística subiu para 13 casos (veja quadro).

Em nota, o Iphan-DF defende que a questão da segurança viária é mais complexa e somente a colocação de muretas não vai resolver, sobretudo quanto ao número de acidentes. O instituto classificou as barreiras como ;inúteis e que serviriam apenas para dividir o espaço da cidade já segmentado;. E que o documento assinado por Gastal deixa claro que o projeto teria que ser submetido a aprovação do instituto.

Para o Iphan, a solução para diminuir as mortes no Eixão ;passa pela mudança de mentalidade urbana, mudando-se a lógica rodoviarista que impera na cidade;. Uma saída, segundo o órgão, seria transformar o eixo rodoviário em uma via humanizada e amigável para o pedestre. ;Entende-se que a primeira medida seria a redução da velocidade;, completou o texto.

Retrocesso

Especialistas também discordam da medida. A arquiteta e urbanista Tânia Batella, integrante da Pró-Federação em Defesa do DF, classifica como um retrocesso o projeto para colocar muretas no Eixão. Para ela, a ideia fere o tombamento e deixa de lado ações importantes, como campanhas de educação no trânsito. ;Pesquisas apontam que o cercamento como justificativa para a segurança não favorece o cidadão. É a mesma situação no trânsito. Devemos cobrar do Estado que cumpra o seu dever e não esse tipo de intervenção;, defendeu.

Sobre a ideia de humanizar o Eixão, ela defende que a cidade foi estruturada em cima de eixos rodoviários e, como a via nasceu sem nenhuma atividade no entorno, deve permanecer assim. A urbanista cobra também do atual governo uma gestão democrática. ;Estão retirando do fundo do baú projetos vencidos e superados e isso é lamentável. A proposta interfere na área tombada e não foi aprovada pela sociedade;, criticou.

Para o arquiteto Carlos Magalhães, a ideia de colocar muretas no Eixão é absurda e não funcionou em outras cidades, como o Rio de Janeiro. ;Na Avenida Brasil, colocaram a barreira e as pessoas pulavam. Fizeram uma maior e as pessoas passavam, até colocarem uma tela. Daqui a pouco, vão eletrificar essa mureta. Tem que barrar de outra forma, isso é questão de educação;, comentou.

Doutor em engenharia de transportes e professor universitário, José Leles de Souza explica que as muretas de fato reduzem o risco de colisões frontais, substituindo-as por batidas com objeto fixo e com outros veículos que circulam na mesma direção. ;A pessoa perde o controle por excesso de velocidade ou porque não tem condições de pegar o volante por estar alcoolizada, por exemplo. E isso se combate com fiscalização e educação do motorista;, acredita.

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