Cidades

Há 40 anos em terreno, integrantes da etnia calon comemoram regularização

Eles vivem acampados próximo à DF-440, em Sobradinho, onde há 65 pessoas morando. Eles ainda lutam para conseguir viver com dignidade e longe do preconceito

postado em 28/08/2015 08:47
Os panos floridos, usados como decoração, contrastam com a toalha de mesa branca do altar improvisado e os trajes claros do padre. A estrutura foi montada embaixo de uma tenda, com cadeiras de plástico acomodadas no chão de terra. O sol quente e o vento seco não parecem incomodar os convidados, ainda que homens vistam calças jeans, camisas vistosas e botas pesadas; e mulheres, coloridas saias até os pés. As famílias das duas crianças a serem batizadas vieram de Bela Vista, em Goiás, apenas para fazer a cerimônia no local. ;Significa tudo para mim, eu me sinto mais à vontade entre pessoas da mesma cultura que eu;, diz Shirlene Silva Rocha, 24 anos, madrinha do pequeno Ariel Ruã, que acabou de receber as bênçãos do padre. Para comemorar, um abundante almoço é oferecido aos presentes. Algumas das moças mais jovens dançam por perto, rodando as saias longas e movendo os braços com suavidade.
Os ciganos moram em condições precárias nos seis hectares que formam o acampamento: é comum faltar água, porque eles dividem um poço artesiano com o Condomínio Serra Verde
Leia mais notícias em Cidades

Batizados são algumas das celebrações mais frequentes no acampamento da Associação Nacional das Etnias Ciganas (Anec), localizado ao lado do Condomínio Serra Verde, próximo à DF-440, em Sobradinho. Há cerca de dois meses, a comunidade conseguiu regularizar o terreno ocupado junto ao Governo do Distrito Federal, depois de 40 anos de luta. Ao todo, seis hectares foram cedidos, divididos com outro assentamento de ciganos próximo, o Núcleo Rural Córrego do Arrozal. Vítimas de preconceito há séculos, os moradores da área enxergam a doação das terras como um grande avanço em qualidade de vida e uma forma de ajudar a conservar as tradições. Eles reclamam, no entanto, das muitas carências ainda não superadas. Além de viver em barracos, os ciganos contam com serviços precários de água e eletricidade, não têm banheiros, o acesso à educação é escasso e faltam oportunidades de trabalho.

Cerca de 65 pessoas moram no acampamento da Anec. Roupas estendidas no cercado, cozinhas improvisadas e algumas hortas se espalham entre as tendas cinzas. A maioria dos ciganos trabalham como autônomos, muitos vendendo panos de prato e roupa de cama de porta em porta. Para manter viva a cultura da etnia, a maioria veste roupas típicas. Alguns homens, inclusive, têm dentes de ouro ou prata, visíveis enquanto conversam em chibe, dialeto próprio dos ciganos. ;Este lugar é um sonho, onde podemos viver de acordo com nossos costumes. Achei que nunca conseguiríamos algo assim;, diz um dos integrantes da comunidade, Arthur Prado da Silva, 58 anos. A mistura comum entre os brasileiros, porém, também é evidente. Um carro ao fundo toca sertanejo, enquanto moradores assam carnes numa churrasqueira. Entre os residentes do assentamento, há católicos, evangélicos e espíritas.
A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique aqui.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação