Cidades

Cerca de 500 pessoas moram em um acampamento na área verde do Monumental

Vilarejo erguido por movimentos sociais a 150m do gabinete do governador chama a atenção pela organização e pela mordomia. Há comércio, chuveiro elétrico e brinquedoteca. GDF deu prazo até segunda-feira para que os grupos deixem o local

postado em 02/10/2015 06:00

Na Praça do Buriti, os sem-terra criaram o Setor Comercial, onde há posto de saúde e tesouraria


Quem passa com frequência em frente ao Palácio do Buriti se acostumou com manifestações na porta da sede do governo. Mas, há duas semanas, um acampamento erguido a 150m do gabinete do governador Rodrigo Rollemberg chama a atenção pela estrutura. Na Praça do Buriti, cerca de 500 pessoas vivem em uma espécie de vilarejo. Trata-se de um aglomerado de gente que reivindica a questão fundiária. São 11 movimentos, entre os quais estão o Movimento dos Sem-Terra (MST) e a Frente Nacional de Lutas Campo e Cidade (FNL), misturados ao Fórum Distrital de Política de Reforma Agrária.


No fim da tarde de ontem, cerca de 150 pessoas do acampamento foram até o Buriti em busca de agilidade na reforma agrária. Fecharam uma via do Eixo Monumental e saíram com promessa do GDF, mas não sinalizaram a desocupação do local. O governo quer que eles saiam até a próxima segunda-feira.

Com a variedade de participantes, as demandas também são diversas. A principal é a reivindicação de terras. ;Somos todos agricultores. Queremos uma chácara para cada família;, disse um dos coordenadores do Fórum, Thiago Silva. Mas outros temas são abordados em atos públicos. Na última quarta-feira, parte dos militantes invadiu o prédio da Terracap em um protesto contra a grilagem de terras públicas. ;Queremos mostrar que o fortalecimento da agricultura familiar só beneficia a população, pois geram-se empregos, produzem-se mais e melhores alimentos, além de movimentar a economia local;, explica Tatiano Tavares, integrante do Movimento de Luta pela Terra (MLT).

Para manter a mobilização, os sem-terra armaram uma estrutura adequada às necessidades básicas das famílias. A começar pela organização. Os movimentos se dividem nas responsabilidades em áreas como saúde, segurança e infraestrutura. Tudo diante do Buriti. Na parte central do acampamento, uma rua improvisada, apelidada de Setor Comercial, oferece serviços diversos. Há um posto médico, no qual pessoas com conhecimento de enfermagem prestam atendimento. Em casos de gripes e dores de cabeça, são oferecidos medicamentos fitoterápicos, manipulados com ervas plantadas numa pequena horta medicinal. Em situações graves, os atendentes encaminham os pacientes para hospitais. No postinho, há camisinhas gratuitas. O calçadão abriga, ainda, a Secretaria do Fórum, onde há uma tesouraria. Mais adiante, foi montada uma brinquedoteca, com cuidadoras.

No vilarejo improvisado, é possível comprar de sabonetes a roupas ; as bancas são administradas pelos movimentos. Cada um tem direito a uma ;loja;, e parte dos ganhos é repassada para o grupo. Uma regra deve ser respeitada por todos: a venda de bebidas alcoólicas só é permitida à noite, quando são realizados os eventos culturais. Há apresentações de música e dança e contação de histórias. Um momento é considerado especial. Chamada de ;mística;, a reunião promove a memória de militantes que deram a vida pela questão agrária. ;É especial, pois serve para motivar a nossa luta. E mostra para os mais novos a importância de estarmos aqui;, contou Maria da Conceição Pereira, da FNL.
O cuidado com os mais jovens é tratado como prioridade. Mesmo no acampamento, os líderes fazem questão de convocar palestrantes e professores para aulas de agroecologia, economia, política e outros temas.

Grife carioca

Pouco antes da hora do almoço, o cheiro de comida toma conta do local. Cada movimento tem uma cozinha própria, para ;facilitar a logística;, conta Tatiano Tavares, do MLT. Em algumas, há fogões a gás e geladeiras. Em outras, as panelas ficam sob o fogo a lenha. Parte dos mantimentos é doada por sindicatos e ONGs. Algumas vezes, em troca de apoio em atos de outras classes. Muitos ficam de protesto em protesto até ;conseguir melhores condições de vida para a sociedade;, informou a agricultora Regina Barbosa Silva. Segundo ela, fazer volume nas manifestações alheias é uma forma de ;fugir das condições de vida primárias;. Outra parte dos alimentos, principalmente frutas e verduras, é trazida dos assentamentos.

A higiene também recebe atenção especial. A CUT alugou banheiros químicos, e há uma caixa d;água, abastecida pelo encanamento da rua que serve para uma pia e um chuveiro elétrico. Esse último é bastante disputado. Em alguns momentos do dia, filas são formadas e cabe ao bom senso do usuário o tempo do banho quente. ;Pregamos o uso consciente da água e a solidariedade com os colegas;, atestou Maria da Conceição.

Entre uma atividade e outra, os manifestantes reservam tempo para lazer. Gambiarras permitem a ligação de tevês e rádios. Para quem gosta de atividade física, uma quadra de vôlei foi montada em um espaço de areia. Mas não há esporte mais praticado do que o dominó.

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