Cidades

Polícia investiga morte de lutador de jiu-jitsu golpeado durante aula

Familiares acusam a rede pública de negligência. Eles tentaram internar o esportista por quatro vezes, mas só conseguiram quando ele perdeu a capacidade de fala e, em seguida, a consciência

Luiz Calcagno
postado em 06/10/2015 14:31
Um praticante de artes marciais levou um golpe de estrangulamento e morreu após tentar atendimento por quatro vezes em hospitais públicos do Distrito Federal. O martírio de Napoleão José Alves Mourão Júnior, 32 anos, e da irmã de criação dele, a técnica em laboratório Maria Orlanda Alves dos Santos, 47, começou em 23 de setembro, dois dias após o treinamento do esportista, na academia de luta Jurandir Team Fight (JTF). Na data, eles procuraram o Hospital Regional de Taguatinga (HRT). Embora ele sentisse fortes dores de cabeça e dormência em um dos braços, foi mandado de volta para casa.

Maria conta que eles até conseguiram entrar no processo de triagem, mas a enfermeira informou que não tinha médico para atendê-lo e que o problema não era grave. Eles voltaram para casa mas, na quinta-feira, o problema persistia e Napoleão tentou atendimento no Hospital Regional de Ceilândia. ;Fomos na ortopedia, eles nos encaminharam para um clínico que pediu uma tomografia de crânio e descartou a possibilidade de acidente vascular cerebral (AVC);, conta.

Apesar da insistência dos profissionais de saúde dos hospitais públicos em dizerem que Napoleão estava bem, a saúde do artista marcial se agravava. No sábado seguinte ao treino, (26/10) ele tinha dificuldades para andar e para segurar objetos. Acompanhado de familiares, voltou ao HRT e foi atendido, coincidentemente, pela mesma enfermeira. Dessa vez, para conseguir que ele fosse recebido, parentes deram entrada pela ortopedia. O médico que o atendeu, no entanto, o encaminhou para um clínico.

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De acordo com Maria, uma médica o atendeu e pediu uma nova tomografia. ;Quanto ele saiu do exame, nem se levantou da maca. Ali mesmo, entortou a boca, e não conseguia falar ou se mover. Eu pedi ajuda. Os profissionais da radiologia o levaram para o box de emergência. Lá, disseram que ele não era grave e o jogaram, de maca, para o corredor novamente. Fui desesperada à sala da médica, mas ela falou para aguardarmos os resultados dos exames;, lembra.

Napoleão esperou até a troca de plantão para receber um parecer. Foi encaminhado de ambulância para o Hospital de Base do DF (HBDF) já inconsciente. Após enfrentar mais demora, deu entrada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Na terça-feira, dia 29, um médico comunicou à família que Napoleão estava com suspeita de morte cerebral. Sexta-feira confirmaram a morte e no domingo, nós o enterramos;, relata desolada.

Investigação policial

A 15; Delegacia de Polícia (Ceilândia) investiga o caso. A intenção é saber se houve negligência tanto na academia quanto na rede pública de saúde que, segundo o relato dos familiares, não atendeu o paciente adequadamente. ;Queremos que entidades fiscalizem as academias. Que cobrem a formação dos profissionais. Nós procuramos a academia, mas eles nãos se manifestaram. Não foram, sequer, solidários. Soubemos que ele já teve outros desmaios durante treinos, mas ninguém nunca comunicou à família. No HBDF profissionais nos disseram que estava tendo aumento em casos de AVC;s em decorrência de lutas em academias;, revolta-se Maria.

Familiares farão uma manifestação em frente a JFT, na EQNM 7/9, Bloco A, Loja 3, Ceilândia Sul, às 19h30 desta quarta-feira (7/10). ;Hoje, parece que qualquer um pode abrir uma academia, dar aulas. As autoridades competentes tem que ligar para isso. Cadê a supervisão e cadê a orientação? Eu não sei a formação que esses professores tem. Queremos, nesse momento chamar a atenção para o que acontece nas academias e nos hospitais públicos do DF;, afirma.

A assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde do DF confirmou que o lutador deu entrada no HRT no último 26 de setembro, após passar por exames clínicos que constataram traumatismo craniano. Confirmou também que o paciente chegou a ser transferido para o HBDF para tratamento de traumas neurológicos, mas não resistiu aos ferimentos. O órgão acrescentou, no entanto, que ;não há nada que possa caracterizar negligência médica ou mau atendimento;.

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