Cidades

PF prende informante de grupo de extermínio formado por PMs do Entorno

Homem é acusado de ajudar sete policiais militares no assassinato de um morador da região e no desaparecimento de outros dois. Agora, investigadores se concentram em levantar provas contra os mandantes

Renato Alves
postado em 24/11/2015 15:15

O foco da investigação são praças e oficiais que trabalhavam em Formosa, cidade goiana distante 70km de Brasília.

Policiais federais prenderam Luciano Rodrigues Machado, acusado de ser o informante de um grupo de extermínio formado por policiais militares que agiam no Entorno do Distrito Federal. Mais conhecido como Luciano Cabelo, é apontado como um dos oito envolvidos no assassinato de Higino Carlos Pereira de Jesus e no desaparecimento de Pedro Nunes da Silva Neto e Cleiton Rodrigues, em 26 de fevereiro de 2010. Os outros sete são PMs de Goiás. Todos estão indiciados no inquérito que passou para a esfera federal após não ter sequer sido transformado em ação penal no âmbito estadual

A mais recente etapa de uma ação conjunta da PF, do Ministério Público Federal e do Ministério Público de Goiás ocorreu na sexta-feira (20/11), mas, até então, era mantida sob sigilo. A PF não fala oficialmente sobre o caso. O acusado morava no Entorno, mas estava foragido.

Leia mais notícias em Cidades.

Higino de Jesus foi assassinado em Alvorada do Norte (GO), tendo desaparecido, no mesmo episódio, Pedro Neto e Cleiton Rodrigues. O trio foi executado a mando de produtores da região, conforme investigação policial. As vítimas eram suspeitas de roubar gado em fazendas, mas nada se provou contra elas, pois sequer houve inquérito.

Agora, investigadores se concentram em levantar provas contra os mandantes. Fontes do MPF afirmam ter os nomes, que são mantidos em sigilo para evitar fuga. Eles esperam apenas a expedição de mandados de busca e apreensão. O grupo investigado é apontado como autor de uma série de assassinatos em todo o estado de Goiás. Todos com características de esquadrão da morte.


Vítima confundida

O foco da investigação são praças e oficiais que trabalhavam em Formosa, cidade goiana distante 70km de Brasília. Crimes atribuídos ao bando foram tema de uma série de reportagens publicada pelo Correio Braziliense desde 2009. Após investigações da Polícia Civil de Goiás em nada resultarem, em alguns casos foram federalizados e passaram para a competência da Polícia Federal.

Em agosto, policiais federais cumpriram um mandado de prisão e mandados de busca e apreensão em Formosa. Eles prenderam um outro homem apontado como informante do grupo encabeçado por PMs. Ele ainda mantinha em casa pássaros silvestres sem autorização legal.

A investigação ainda está em andamento. Apesar dessa e de outras apurações, os PMs suspeitos nunca sofreram sanção por parte da corporação. A maioria, aliás, recebeu promoção, ganhando patente e salário mais alto.

Em 17 de julho, a PF desencadeou uma operação em que prendeu um PM. Federais ainda cumpriram cinco mandados de busca e apreensão e 11 de condução coercitiva (em que a pessoa é lavada para depor e depois liberada).

Os mandados foram cumpridos em cidades da Região Metropolitana de Goiânia. Os crimes investigados ocorreram em junho de 2010. Na ocasião, a vítima fora equivocadamente identificada como sendo responsável por um estupro ocorrido em 21 de junho de 2010, em Trindade (GO).


Crime federalizado

O crime foi federalizado em 2012, em razão de julgamento de incidente de deslocamento de competência, ficando a vítima sob a proteção do Governo Federal.

Impunes na esfera estadual, crimes atribuídos a PMs goianos que atuam ou trabalharam no Entorno foram federalizados em dezembro de 2012. A decisão partiu do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Por unanimidade, ministros da Corte acataram parcialmente o pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) e transferiram quatro processos da Justiça estadual para a Justiça Federal.


Sexto Mandamento

Os casos estão entre os 50 apurados pela Polícia Federal e que culminaram na Operação Sexto Mandamento, em fevereiro de 2011, com a prisão de 19 PMs de Goiás. Entre esses crimes, muitos aconteceram em cidades vizinhas de Brasília, após uma equipe da PM ser transferida de Goiânia ; onde promoveram uma matança em série ; para o Entorno.

A PGR queria que oito casos parados na Justiça goiana fossem repassados para a Justiça Federal, com acompanhamento do MPF e diligências da PF. Com a decisão do STJ, quatro vítimas tiveram os casos federalizados, o restante das ações foi mantida na Justiça de Goiás, mas com recomendação de prioridade.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação