Cidades

Jovens de 16 a 24 anos têm dificuldade de conseguir emprego no DF

Falta de experiência e cenário de crise têm prejudicado esse grupo, principalmente quem tem baixa escolaridade

Isa Stacciarini
postado em 30/11/2015 06:00

Aos 19 anos, Rodrigo Coelho, estudante de design da UnB, está assustado com o cenário de crise:

A cada três jovens entre 16 e 24 anos, um ainda não encontrou a primeira colocação no mercado de trabalho no DF. E o quadro tem piorado nos últimos tempos. Enquanto em setembro o índice de desempregados nessa faixa etária era de 31,3%, em outubro, passou para 31,8% ; variação mensal de 1,6%. Os dados que constam da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan) revelam a dificuldade de quem tenta um posto ainda sem experiência profissional. O desafio aumenta na medida em que diminui o grau de escolaridade. Entre os jovens com ensino fundamental incompleto, quase metade está fora do mercado. Nos últimos seis meses, o desemprego nesse grupo chega a 47%, quase 17 pontos percentuais acima da média de desempregados entre 16 a 24 anos que ficou em 30,1%. Já o índice de jovens com ensino superior completo fora do mercado atinge 17%.

Aluno do 3; semestre de design na Universidade de Brasília (UnB), Rodrigo Coelho, 19 anos, tenta um estágio desde o início do ano, mas não consegue nenhuma oportunidade. ;Nessa crise, as vagas diminuíram. As empresas reduziram as ofertas;, lamenta. Para o universitário, o cenário assusta. ;Essa realidade prejudica muito, porque o estágio é o começo da vida profissional e conta como experiência;, desabafa.

Segundo o presidente da Codeplan, Lúcio Rennó, as causas do alto índice de desemprego entre os jovens podem ser baixa experiência do público que procura trabalho, pequeno grau de escolaridade e falta de qualificação profissional. Rennó destaca que, desde o início do estudo da PED, em 1992, a taxa de desemprego do jovem é superior à da população em geral. Além disso, a falta de ocupação profissional dos jovens que moram em regiões com renda média mais baixa, definida como grupo 3 na pesquisa, é mais alta que em outras de renda maior. Mas a crise piora o quadro.

A pesquisa mostra que 32% das pessoas entre 16 e 24 anos de Brazlândia, Ceilândia, Samambaia, Paranoá, São Sebastião, Santa Maria e Recanto das Emas estão fora do mercado de trabalho. O número é quatro pontos percentuais mais alto do que os jovens desempregados do Plano Piloto, e dos lagos Norte e Sul, que se somam 28,5%.

Para Rennó, alternativas para diminuir essa realidade devem ser atuação governamental que gere empregos e estimule a contratação de jovens, além de programas de capacitação orientados por um mapeamento de mercado de trabalho que poderia auxiliar no processo de capacitação. ;No DF, ocorrem problemas relacionados a incentivo para contratação de jovens. Ainda não existe uma política consolidada que estimule o primeiro emprego. São necessários mecanismos para incentivos fiscais para quem se empregassem mais os jovens, ressalta.

Oportunidades
Aluno do 4; semestre de estatística, Alexandre Teixeira, 19, já deu aulas particulares, mas ainda não conseguiu uma oportunidade formal. ;Em estatística, quando se consegue um estágio é para mexer com planilha de Excel, ou seja, não tem muito a ver com a área. O estagiário é a mão de obra mais barata e, por isso, acaba sendo o ;office boy; ;, lamenta.

O secretário adjunto do Trabalho, Thiago Jarjour, argumenta que tanto o comércio e a indústria como o setor varejista estão em fase de encolhimento e as vagas de emprego começaram a ficar escassas. ;O mercado competitivo começa a ser seletivo. Os empregadores buscam pessoas com mais experiência. Aí é onde o jovem perde;, considera.

Segundo Jarjour, áreas como tecnologia da informação (TI) e comunicação têm uma entrada expressiva do jovem por causa das habilidades. ;Acredito que na época de crise surgem as oportunidades que podem criar uma cultura empreendedora dos jovens;, defende.

Bruna Santos, 23 anos, está prestes a se formar em letras na UnB e começou a se preocupar com o futuro. A universitária não estagiou em razão da grade horária da universidade. Mas ainda está otimista. ;Vou atrás das oportunidades. Independentemente da crise, as pessoas precisam se especializar e um curso de línguas ajuda;, acredita.

Professor do departamento de economia da UnB, Carlos Alberto Ramos explica que em quase todos os países a taxa de desemprego entre jovens é maior do que a da população adulta. Ele esclarece que são muitas as diferenças. ;O público jovem tem dificuldade de transitar entre o universo escolar e o mercado de trabalho. Muitos enfrentam problema de formação e expectativa. Em uma situação de crise como a que o Brasil atravessa, esse problema se acentua;, ressalta.

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