Cidades

Obra na Ponte do Braghetto deixará ciclistas de fora

A ONG Rodas da Paz apresentou ao DER-DF um relatório que mostra que o projeto visa a ampliação da capacidade rodoviária somente para o fluxo livre de veículos motorizados

postado em 02/12/2015 19:19

O operário da construção civil Paulo Henrique Martins garante: a sensação é de que um veículo pode atingi-lo a qualquer momento.

A obra de implantação do Trevo de Triagem Norte (TTN), que vai garantir, entre outros pontos, o reforço estrutural da Ponte do Braghetto, está em processo de captação de recursos, de acordo com o Departamento de Estradas de Rodagem (DER-DF). Porém, como a reparação foi licitada em 2009, antes do Plano Diretor de Ordenamento Territorial do Distrito Federal (PDOT/DF) e do Plano Diretor de Transporte Urbano e Mobilidade do DF e Entorno (PDTU/DF), especialistas garantem que ela não contempla a mobilidade de pedestres e ciclistas em primeiro lugar, prioridade visada nas leis.

A ONG Rodas da Paz apresentou ao DER-DF, na última semana, um relatório no qual conclui que o projeto do TTN visa a ampliação da capacidade rodoviária, direcionada principalmente ao fluxo livre de veículos motorizados. Mesmo que haja previsão de ciclovias, o texto aponta que o trecho percorrido por quem usa bicicleta será 78% maior que o de carros. ;Além disso, não há nenhum desenho de calçada. Essas ciclovias devem ser compartilhadas, o que, na prática, quer dizer que falta caminho para os pedestres;, explica o engenheiro Rafael Stucchi da Silva, responsável pela avaliação.

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O especialista garante que o ideal era que o projeto fosse refeito, dando prioridade aos meios de transporte não motorizados e coletivos. ;É evidente a priorização do transporte individual. A ciclovia foi desenhada de qualquer jeito, e é preciso humanizar esse espaço.; Para o diretor-geral do DER-DF, Henrique Luduvice, um novo texto está fora de cogitação, já que a liberação dos R$ 159 milhões necessários à conclusão da obra estão sendo viabilizados junto ao Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES). ;A alteração ensejada pode causar um retardamento no alcance desse financiamento;, justifica.

De acordo com Luduvice, estudos são realizados para que, durante a obra, sejam feitas reduções nas diferenças entre os trajetos percorridos pelos carros e pelas bicicletas. ;O DF precisa desses recursos, e estamos em diálogo permanente para que essas mudanças ocorram. A projeto é da administração anterior.;

Perigo

Apesar de a discussão envolver uma reparação que nem tem previsão de início, a penitência é diária para os ciclistas e pedestres que usam a Ponte do Braguetto. Ainda segundo a análise feita pelo Rodas da Paz, entre 2010 e 2015, o número de pessoas que atravessam a ponte de bicicleta ficou 147% maior. ;Se um carro vier na nossa direção, ou a gente é atropelado ou se joga dentro do lago;, ironiza o jardineiro Walterson Ferreira, 51 anos, que passa pelo local diariamente, a pé, para trabalhar. Ele reclama que, mesmo que exista uma passagem, ela não só é bem menor que as seis faixas direcionadas aos carros, como é dividida com os ciclistas. ;Sempre passo apreensivo porque o espaço é muito pequeno.;

Os que estão sobre duas rodas também reclamam. O operário da construção civil Paulo Henrique Martins, 30 anos, garante a sensação é de que um veículo pode atingi-lo a qualquer momento. ;Ainda bem que nada aconteceu até hoje, mas atrapalha demais nossa concentração.;

Renata Florentino, coordenadora Geral da Rodas da Paz, atenta para a necessidade de que os próximos projetos de mobilidade urbana sigam as diretrizes do PDOT/DF e do PDTU/DF no que toca à circulação competente e segura de pedestres e ciclistas. ;Conhecer a legislação é o mínimo que esperamos. Como o TTN está em vias de receber os recursos, a adaptação é menor. Mas é preciso parar de reproduzir modelos de mobilidade que funcionavam há 100 anos. É preciso pensar nas inovações dos desenhos urbanos.;

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