Cidades

Opinião: Luzes de dezembro

Gustavo Falleiros
postado em 20/12/2015 17:04
À medida que dezembro avança, algo se agita nas camadas inferiores da consciência. Digamos que seja esperança - uma sensação arisca, mas que se prolonga na presença de pessoas inspiradoras. Na quinta-feira passada, essa roda girou novamente à luz das vivências compartilhadas pela educadora Márcia Acioli. Em um café na Asa Sul, ela resumiu anos de trabalho em poucas palavras: "educação", "direitos humanos" e"escola pública".

Cada um desses eixos conduz a um mundo de ruas não asfaltadas, lar dos meninos e meninas ;em situação complicada;. Márcia forjou a expressão para abarcar os relatos de exploração sexual, trabalho infantil, conflito com a lei e maus-tratos em geral. A "complicação" foi uma escolha deliberada nos tempos em que militava na rede pública. "Se a escola tinha um contexto de violência, a gente ia". Para ver de perto, para tocar a realidade sem anteparos.

O compromisso assumido foi de tal modo que até o trabalho "dentro" do Estado pareceu uma amarra. Márcia deixou de ser servidora e fortaleceu parcerias no terceiro setor. As ações são muitas para serem esmiuçadas aqui, mas o carro-chefe é o projeto Onda: adolescentes protagonistas, que consiste numa série de oficinas e dinâmicas. Atualmente, são contemplados três colégios, uma comunidade quilombola e a unidade de meninas e adolescentes infratoras de Santa Maria.

O último caso me parece o mais impressionante. Por isso, quis saber: "Como acessar essas jovens?" E Márcia veio com esta: "Acho que a palavra mágica é delicadeza. E abertura. São meninas participantes de cenas de violência, mas, quando a gente entra com a disposição de ouvir, sem pressa, elas chegam à gente. A experiência tem sido arrebatadora. Encontrei um universo humano tão bonito que é inacreditável que elas estejam lá"

Nessa hora, compreendi o sentimento vago a que me referi no primeiro parágrafo. É óbvio que a educadora não havia perdido a esperança no ser humano. E isso contagia, sim senhor.

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