Cidades

Secretaria de Saúde do DF registra mais de mil casos de dengue

O número de notificações na capital e no Entorno aumentou 435% em relação a janeiro de 2015. Moradores da zona rural estão apreensivos e fiscalização será reforçada

Otávio Augusto
postado em 04/02/2016 06:05
Gideon de Sousa cobra alternativas para combater o mosquito, por exemplo, pesticidas para os locais em que não há como acabar com a água parada
A Secretaria de Saúde do Distrito Federal divulgou, ontem, o mais recente panorama do contágio das doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti. Foram 1.198 casos de dengue notificados este mês ; 125 deles no Entorno ;, aumento de 435% com relação a janeiro de 2015. Além disso, há cinco confirmados de zika vírus e cinco de febre chikungunya. Com o aumento no número de contágios, moradores da zona rural também têm ficado apreensivos. No Distrito Federal, cerca de 20 mil famílias que vivem no campo vão receber, até o fim de março, 18 mutirões para combater o inseto, segundo a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-DF). Em 2016, apenas três ações fizeram o controle em 250 casas nas regiões de produção agrícola da cidade.

A zona rural acumula uma série de fatores que contribuem para a reprodução do Aedes. Ambientes com reservatórios de água e coleta de lixo irregular são alguns deles. Na esperança de manter a epidemia longe, agricultores têm lançado mão até de técnicas antigas. Tudo por conta própria. Raimundo Ferreira da Silva, 35 anos, vive no Incra 8, em Brazlândia, cidade que contabiliza o maior número de infecções da cidade (leia Contaminação). Ele evita deixar água parada e, no fim da tarde, coloca fogo em palha, a fim de espantar os mosquitos com a fumaça. Dentro de casa, usa uma raquete que eletrocuta os insetos. ;A situação está séria e ficamos com medo de ter alguma coisa;, relata.

O agricultor Cristóvão de Sousa Nascimento, 34, diz que o controle é difícil, sobretudo, quando as informações são poucas. ;Fazemos o que vimos na televisão ou nos jornais. Nunca ninguém orientou como agir aqui. É complicado ter um controle eficaz quando não se tem ferramentas para isso;, reclama. Gideon de Sousa Nascimento, 30 anos, irmão de Cristóvão, cobra insumos para combater o Aedes. ;Seria bom a gente ter um veneno para colocar em locais onde é impossível acabar com a água parada. Aqui, tem um poço artificial que só não é mais perigoso porque todos os dias tiramos água para irrigar a lavoura. Mas, no tempo de chuva, o uso é menor e isso pode trazer riscos;, argumenta o agricultor, que trabalha na Colônia Agrícola Alexandre Gusmão.

Combate
O assentamento Oziel Alves, em Planaltina, recebeu uma ação de combate. Técnicos da Emater vistoriaram casas e extinguiram focos do mosquito. ;O DF tem a particularidade de o meio rural estar muito próximo das zonas urbanas, e isso pode ser perigoso. Estamos mapeando a situação nesses locais para sabermos quais são as regiões mais problemáticas. No momento, temos mutirões de limpeza e ações educativas;, detalha Roberto Carneiro, engenheiro agrônomo da gerência agropecuária da Emater, que trabalha no combate ao Aedes no campo, ao explicar que as falhas no recolhimento de lixo contribuem para a expansão de outras doenças e o aumento de roedores.

O diretor da Vigilância Ambiental, Divino Valero Martins, garante que a incidência na zona agrícola é baixa, por isso, justifica que o controle é tímido. Contudo, ele explica que o cenário é monitorado da mesma maneira que na área urbana. ;Do ponto de vista científico, não há possibilidade de uma grande infestação no campo. A preferência do Aedes ainda é a cidade. Mas estamos atentos, acompanhando, e a situação está controlada;, esclarece Divino.

As cidades com maior número de casos registrados no DF são Brazlândia (301), São Sebastião (116), Planaltina (98) e Ceilândia (88), respondendo por 56% das contaminações, segundo Boletim Epidemiológico divulgado pela Secretaria de Saúde do DF. Brazlândia representa 28% do total registrado. A variação em relação ao mesmo período do ano passado na cidade é assustadora: 5.920%. O Executivo local decretou epidemia. Houve, ainda, o registro de 29 casos suspeitos de febre chikungunya, dos quais 22 (76%) residem no DF e 7 (24%) em Santo Antônio do Descoberto (GO). A pasta notificou 41 casos suspeitos de vírus zika, dos quais 36 (88%) residem na capital federal e cinco (12%) em estados.

Ontem, seis casas abandonadas tiveram os portões abertos em Brazlândia. Onze equipes de vigilância epidemiológica se espalharam pela cidade ; onde a incidência de dengue atinge 464 pessoas a cada 100 mil habitantes. A inspeção partiu da Vila São José, onde houve a identificação de um criadouro do mosquito. Outra residência estava com mato muito alto e, para fazer a inspeção, a administração regional será acionada para limpar a área. Serão realizados levantamentos, segundo a Secretaria de Saúde, para identificar outras casas abandonadas.

Em municípios do Entorno, os casos aumentaram 420% em relação a janeiro de 2015. Águas Lindas de Goiás, Luziânia, Padre Bernardo e Santo Antônio do Descoberto são as cidades com maior número de casos. Para conter a crise, o subsecretário de Vigilância à Saúde do DF, Tiago Coelho, se reúne, hoje, com a superintendente do setor em Goiás, Maria Cecília Brito, com a de Política de Atenção Integral à Saúde do estado, Evanilde Gomides, para definir estratégias comuns ao combate do Aedes aegypti. ;É uma discussão técnica de ação, de operação. Vamos definir medidas de combate para DF e Goiás, a fim de debelar o mosquito;, adiantou.
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