Mesmo entendendo como uma necessidade, o oncologista Arturo Santana Otaño, 47 anos, considera a tarefa de ir ao supermercado uma penitência. ;Sou médico e vivo correndo de um lugar para o outro. Esse é um dos momentos em que perco o tempo que poderia usar com a minha família;, justifica. Mas a situação mudou desde o início do ano. Arturo começou a fazer parte do Feira Moderna DF, um grupo de compras coletivas sem fins lucrativos que pretende tornar real algo que qualquer um busca: o barateamento dos gastos com a feira semanal.
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A ideia surgiu de dois amigos: de um lado, uma dona de casa que não aguentava mais ver os preços das compras subindo mês a mês. Do outro, o dono de um restaurante que percebeu que poderia pagar mais barato pelo que usaria em sua cozinha, ao mesmo tempo que conquistava novos clientes. ;Quando ainda estava montando meu negócio, falei que, como compraria no atacado, poderia aumentar a quantidade para distribuir entre os amigos. E dei a ideia para a Bruna;, conta Cristiano Barbosa.
Foi o mote para que a assessora de imprensa Bruna Marques usasse as redes sociais para encontrar os parceiros. Em um primeiro post, perguntou quem estava disposto a participar da ideia. ;Em três horas, mais de 30 pessoas estavam interessadas;, afirma, explicando que a principal motivação foi mesmo os altos gastos mensais. Ela explica que, há três anos, suas compras do mês ficavam em R$ 400. No começo de 2015, já estavam em R$ 800. ;Hoje, não gasto menos que R$ 1.200, para a mesma quantidade de produtos. É pouco tempo para tanto aumento. Assim, qualquer valor a menos faz diferença no fim do mês.;
O processo é simples: para facilitar as escolhas, foram criados quatro kits, cada um com uma quantidade fechada de itens. Pela internet, os participantes escolhem aquele que mais se adequa às necessidades da casa e Cristiano fica responsável por comprar os produtos direto na Central de Abastecimento de Hortifrutigranjeiros (Ceasa). ;Fizemos parcerias com fornecedores, inclusive com o mercado de orgânicos. Não visamos lucro. Só quis que o ponto de coleta fosse o meu restaurante. Até mesmo para que as pessoas pudessem conhecê-lo;, conta Cristiano. Quem não pode ir até lá paga uma taxa de entrega.
A iniciativa revela o quadro de retração financeira que se mantém desde o ano passado. Um levantamento feito pelo aplicativo de organização financeira GuiaBolso apontou que as famílias brasileiras reduziram as idas ao supermercado. A redução na compra de alimentos foi de 7% em 2015. ;Ainda não quantifiquei quanto estou gastando a menos, mas tenho certeza que estou pagando menos do que no supermercado. Além disso, não gasto minha gasolina nem meu tempo;, avisa Arturo.
O Correio comparou o kit inicial do Feira Moderna DF, que custa R$ 34, com produtos de um hipermercado no Plano Piloto: os mesmos itens custariam R$ 39,64. ;Mas é preciso ver além do valor financeiro. Quando você compra no atacado, sabe que o produto chegou naquele dia. Nos supermercados, muitas vezes, eles ficam refrigerados e voltam para a prateleira;, frisa Cristiano.
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