Cidades

Criadouros do Distrito Federal expõem a população ao Aedes

O Correio percorre quatro cidades do Distrito Federal e, em todas, encontra prédios abandonados ou terrenos baldios em situação propícia para a reprodução do transmissor da dengue, zika e chikungunya. Vizinhos dessas áreas estão com medo

Nathália Cardim, Luiz Calcagno
postado em 15/02/2016 06:00

Xavier Rezende mora na QNL 11, em Taguatinga:


A mobilização contra o Aedes aegypti no Distrito Federal esbarra nos mais diversos criadouros a céu aberto ou escondidos. O Correio percorreu ontem quatro cidades da capital ; Taguatinga, Ceilândia, Estrutural e Águas Claras ; e encontrou diversos locais que aparecem como ideais para a reprodução do mosquito. Prédios abandonados e terrenos baldios com água parada, pneu e muito lixo colocam essas localidades na rota de doenças como dengue, zika e chikungunya. Apesar do risco, a Secretaria de Saúde informa que o combate ocorre de forma intensa por parte do governo, com todas as tecnologias existentes. A pasta ressalta que o comprometimento da população é a melhor forma de erradicar o vetor.

Em Águas Claras, esqueletos de edifícios favorecem a proliferação do inseto. A situação é crítica na Rua 34 Sul, onde uma obra abandonada acumula água. A administradora de empresas Telma Castro, 36 anos, mora ao lado da estrutura. Segundo ela, a situação do prédio preocupa há pelo menos um ano. ;O marido de uma amiga minha pegou dengue e morreu em janeiro. Agora, estou com medo. Já encontrei mosquitos no meu apartamento;, afirmou.

Morador da QNL 11, em Taguatinga Norte, o aposentado Xavier Rezende, 66, reclama de um espaço vazio usado por carroceiros para despejar entulho todos os dias. ;O foco (de mosquitos) nesse lugar é grande. Tem muitos pneus, e as pessoas depositam lixo aqui o tempo inteiro. Nós recorremos ao poder público e, por diversas vezes, fizemos queixas. Até quando vamos esperar para que algo seja feito?;, questionou.

Outra preocupação é um terreno baldio localizado na Chácara Santa Luzia, na Estrutural. O local serve como depósito de lixo a céu aberto. A área está tomada por entulho, restos de móveis, garrafas e outros materiais que acumulam água. Lá, a reportagem flagrou crianças brincando com os objetos abandonados. O pedreiro José Augusto dos Passos, 38, e a mulher dele, Eliana dos Santos Azevedo, 24, que está grávida, estão preocupados. ;São muitos casos de dengue registrados. Estamos vivendo um surto da doença. Eu fui diagnosticado no ano passado e agora estou apavorado com a minha mulher ficar doente também. Ela está grávida. Não podemos brincar com isso;, disse.

A reportagem encontrou situação parecida em Ceilândia. Na QNM 23, um terreno abandonado ao lado de uma área residencial abriga lixo. No local, há uma placa que proíbe o descarte, aviso não respeitado pela população.

Esforços

As infecções por dengue aumentaram de um ano para o outro nas quatro cidades visitadas pelo Correio, segundo o último Informativo Epidemiológico de Dengue, Chikungunya e Zika da Secretaria de Saúde do DF. Na Estrutural, houve um crescimento de 766% até a primeira semana de fevereiro de 2016. A estatística passou de três casos para 26. Em Águas Claras, a variação chegou a 575% no período. Foram registrados quatro casos em 2015 contra 27 neste ano. Os números para Ceilândia e Taguatinga tiveram variação de 432% e 354%, respectivamente. O levantamento mostra, ainda, que, apenas neste ano, a quantidade de doentes aumentou 240% no DF.

O quadro delicado obrigou o Executivo local a intensificar os esforços no combate ao mosquito. Em Brazlândia, a região administrativa com o maior número de registros até a primeira semana de fevereiro, um hospital de campanha foi montado para atender a população. A Secretaria de Saúde informou em nota que, desde quinta-feira, os profissionais que atuam na Unidade de Atenção à Dengue atenderam 579 pacientes com suspeita de dengue naquela cidade. Do total, foram confirmados 202 casos da doença. Ainda nesta semana, será inaugurada a segunda unidade de campanha do DF, em São Sebastião.


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