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No pior momento dos últimos 10 anos, hotéis de Brasília fazem promoções

A crise na rede hoteleira do Distrito Federal ficou estampada inclusive em uma pesquisa da multinacional alemã HRS (Global Hotel Solution). Para tentar driblar a dificuldade, estabelecimentos têm investido em ações para atrair hóspedes

Isa Stacciarini
postado em 24/02/2016 13:49
A gerente de operações do SIA Park Hotel, Maria Fabiana Melo, tem apostado em atendimento diferenciado para vencer a crise
O mercado hoteleiro de Brasília nunca esteve tão ruim como nos últimos 10 anos. É o que afirma gestores do setor. Hotéis têm enfrentado baixas ocupações atrelada a crise financeira e o crescimento da oferta de hotéis na capital. Para tentar driblar a dificuldade, estabelecimentos têm investido em ações para atrair hóspedes. Na contramão da dificuldade, eles apostam em preço baixo, promoções e pacotes para seduzir os viajantes. Representantes do ramo garantem que esse é um bom momento para hóspedes aproveitarem as vantagens de hotéis de alto padrão. O preço da diária no fim de semana está 25% menor se comparado a 2015, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Distrito Federal (Abih-DF). Com 42 hotéis filiados de três, quatro e cinco estrelas, a Abih-DF afirma que os valores das diárias no ano passado tiveram uma queda na ordem de 22%.
A expectativa do setor para este ano também não é a das melhores. O diretor da Abih-DF e superintendente da Rede Plaza Hotéis, Hélder Carneiro, explicou que apesar das promoções do fim de semana os estabelecimentos tiveram uma taxa de ocupação de 6% em janeiro. ;A crise e a oferta grande de hotéis são os motivos da dificuldade do setor. Do fim de 2014 até agora abriram novos 1,6 mil quartos de hotéis. Houve uma superoferta e no começo do ano os eventos e congressos que aconteciam sumiram. O carnaval de Brasília nunca atraiu ninguém para a hotelaria. Na verdade, para nós, o ano começa na segunda-feira pós feriado;, revelou.
Nos dois primeiros meses do ano caiu inclusive o movimento de hóspedes ao longo da semana. Segundo Carneiro, terça e quarta-feira são os dias de alta na hotelaria de Brasília em razão do movimento político e empresarial, mas o cenário tem mudado. ;Mesmo assim não existe mais superlotação. Temos cinco dias muito ruins para o setor durante a semana e nunca esteve tão complicado para a atividade econômica. Por outro lado, para os hóspedes é hora de aproveitar, porque vários hotéis de alto padrão têm feito promoções;, destacou.
Pecuarista e diretor de uma empresa mineira, Aloísio Borges Júnior, 46 anos, vem à Brasília pelo menos uma vez por mês e fica até três dias hospedados na capital. Na última viagem ele chegou em 15 de fevereiro e voltou para Uberava dois dias depois. ;Busco conforto, qualidade, atendimento bom e localização adequada. O que eu percebo é que existe uma oferta maior de hotéis, mas há 10 anos me hospedo no mesmo por causa da relação custo-benefício. O preço favorece;, confessou.
Desde 2002 o servidor público Acioli Olivo, 65 anos, é cliente da rede hoteleira de Brasília. Atualmente morando em São José dos Campos (SP), Acioli já se hospedou em vários estabelecimentos da capital. Ele observa que nos primeiros meses do ano a taxa de ocupação é menor em razão das férias do Congresso Nacional. ;Nesse período sempre houve uma redução de preço. Acompanho site de ofertas que sempre dão descontos e pacotes casados com passagens aéreas. Quem procura acha boas ofertas. Observo a oportunidade e como pago do próprio bolso tenho que buscar melhores preços;, contou.
O servidor público Acioli Olivo, 65 anos, acompanha site de ofertas que oferecem descontos e pacotes casados com passagens aéreas para conseguir bom preço

Estudo
A crise na rede hoteleira do Distrito Federal ficou estampada inclusive em uma pesquisa da multinacional alemã HRS (Global Hotel Solution). O levantamento revela que em 2015 Brasília foi a cidade da América Latina que registrou maior queda de preços nas diárias de hotéis. De acordo com o estudo que considerou reservas realizadas no período de 1; de janeiro de 2015 a 31 de dezembro de 2015, a capital teve redução de 72% nos preços. A média caiu de 239 euros em 2014 para 67 euros no ano passado.
Segundo a pesquisa, Rio de Janeiro e São Paulo também diminuíram os valores da diária. Apesar de ser considerado um dos principais destinos turísticos e o mais caro da América Latina, a capital carioca teve uma queda de 10,7% no preço com custo de 151 euros por dia. Em São Paulo a redução chegou a 2%.
Gerente de operações do SIA Park Executive Hotel, Maria Fabiana Melo contou que tem driblado a crise com o diferencial no atendimento. Além disso, a diária que era R$ 309 em 2014 hoje custa R$ 269 (12,9% a menos). ;A hotelaria como um todo tem sofrido com a redução da taxa de ocupação e a diminuição do preço médio da diária. Temos os nossos diferenciais em relação a atendimento e estamos investindo nisso mais do que nunca. Nossos hóspedes também são antigos e a maioria deles fidelizados, mas sentimos a queda na ocupação;, lamentou. ;O momento está muito difícil principalmente em relação a atual situação do Brasil e a entrada de novos quartos no mercado;, acrescentou.

Mas, mesmo diante da dificuldade, em janeiro o SIA Park Executive Hotel manteve 45% da taxa de ocupação. ;No atual momento do setor de hotelaria consideramos um percentual muito bom. Estamos nos desdobrando e fazemos promoções para conseguir manter nossos hóspedes fidelizados para pelo menos ficar com a taxa de ocupação razoável;, destacou.
O diretor da Abih-DF considerou o levantamento da multinacional alemã controverso. Para ele, a pesquisa considerou valores em euro muito elevados em 2014 e 2015. ;Brasília nunca teve preço em euro. Nós estranhamos de onde tiraram a pesquisa. Uma hipótese é que esses valores tenham sido especialmente nos dias da Copa do Mundo;, considera.
O presidente do Sindicato dos Hotéis, Bares e Restaurantes do DF (Sindhobar), Jael Silva, citou três principais motivos para justificar a dificuldade do setor hoteleiro: a queda de hóspedes na cidade, a falta de divulgação do turismo de Brasília com intuito de atrair visitantes e o excesso de oferta. Segundo ele, em 2014 eram 12 mil quartos. O número atual chega a 20 mil. ;Aquelas pessoas que vinham à cidade, principalmente por motivo de negócios, têm reduzido por causa da crise. A queda do preço das diárias também é muito em razão da Copa do Mundo de 2014 quando os hotéis de todo Brasil viram a oportunidade de ter os estabelecimentos cheios e aumentaram a tarifa. Com o passar do tempo, principalmente no ano passado, eles começaram a abaixar o valor;, explicou.
Para ele, uma das alternativas para reverter o cenário é investir em propagandas que estimulem o turismo de Brasília para outros locais do país. ;No período de carnaval, por exemplo, vários hotéis fizeram promoções e redução de tarifa, mas o governo não faz nenhuma divulgação fora do Distrito Federal nesse sentido. Não existe nenhum tipo de investimento;, criticou.
Presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagem do Distrito Federal (Abav-DF), Carlos Alberto Vieira avaliou que o setor de viagens tem sido afetado desde 2015, Para este ano, a expectativa é de maior retração no mercado. ;Muitas empresas estão fechando e não temos um indicador favorável. Brasília tem características políticas e empresariais. Quando não tem negócios a cidade perde muito. Nós dependemos da macroeconomia e quando ela vai mal nosso setor vai pior ainda. Além disso, o turismo da capital não tem divulgação externa. Tudo isso somado dá o resultado que nós vemos;, lamentou.
Vieira ressaltou que o volume de demissões e a redução dos postos de trabalho, além da diminuição dos negócios das empresas, também afetam o setor hoteleiro. ;Viagens é um dos primeiros itens da lista de prioridades dos brasileiros na hora do lazer e as empresas, quando iniciam as atividades, gastam muito expandindo seus negócios e investindo em viagens. A medida em que a situação aperta o primeiro item de corte são as viagens, tanto para as pessoas como para as companhias;, esclareceu.

Tarifas médias de hotéis nos 10 maiores destinos latino-americanos, segundo pesquisa da Global Hotel Solutions (HRS):

Assunção ; Paraguai. Tarifa média em 2015: 87 euros/ Tarifa média em 2014: 98 euros. Comparativo de preços 2014 e 2015: redução de 11,2%

Bogotá ; Colombia. Tarifa média em 2015: 90 euros/ Tarifa média em 2014: 89 euros. Comparativo de preços 2014 e 2015: alta de 1,1%

Brasília ; Brasil. Tarifa média em 2015: 67 euros/ Tarifa média em 2014: 239 euros. Comparativo de preços 2014 e 2015: redução de 72 %

Buenos Aires ; Argentina. Tarifa média em 2015: 104 euros/ Tarifa média em 2014: 92 euros. Comparativo de preços 2014 e 2015: alta de 13%

La Paz ; Bolívia. Tarifa média em 2015: 101 euros/ Tarifa média em 2014: 83 euros. Comparativo de preços 2014 e 2015: alta de 21,7%

Lima ; Peru. Tarifa média em 2015: 112 euros/ Tarifa média em 2014: 82 euros. Comparativo de preços 2014 e 2015: alta de 36,6%

Cidade do México ; México. Tarifa média em 2015: 123 euros/ Tarifa média em 2014: 78 euros. Comparativo de preços 2014 e 2015: alta de 57,7%

Rio de Janeiro ; Brasil. Tarifa média em 2015: 151 euros/ Tarifa média em 2014: 169 euros. Comparativo de preços 2014 e 2015: redução de 10,7%

Santiago ; Chile. Tarifa média em 2015: 122 euros/ Tarifa média em 2014: 114 euros. Comparativo de preços 2014 e 2015: alta de 7%

São Paulo ; Brasil. Tarifa média em 2015: 100 euros/ Tarifa média em 2014: 102 euros. Comparativo de preços 2014 e 2015: redução de 2%

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