Cidades

Brasilienses acumulam 1,6 milhão de multas por excesso de velocidade

O número refere-se ao ano passado, com aumento de 38% de infrações em relação a 2012 nas ruas do DF. Segundo especialista, a impunidade contribui para o comportamento agressivo do motorista e cobra mais investimento na educação

Adriana Bernardes
postado em 28/04/2016 06:00
Há dois anos, mãe e filha morreram em acidente em Águas Claras, depois de o carro no qual elas estavam ser atingido por outro veículo em alta velocidade

Dirigir no limite da via definitivamente não é a prioridade para uma parcela considerável de condutores do Distrito Federal. Os flagrantes por excesso de velocidade aumentaram 38% em 2015, comparado com 2012. Os equipamentos registraram 1.650.999 casos, média diária de 4.523 multas. Há três anos, o número era bem mais baixo: 3.274 por dia. O ponto fora da curva só ocorreu em 2014. A velocidade das ruas não é definida ao bel-prazer do gestor público. Estudos levam em consideração critérios técnicos, como fluxo de pedestres e de carros; visibilidade; retas, subidas e descidas, entre outros. O conjunto desses fatores ampara a definição da máxima permitida em cada local, o queimplica em mais segurança.

Ao ignorar a sinalização, os motoristas ampliam as chances de acidentes, e as consequências vão além dos prejuízos financeiros. As perdas mais significativas não podem ser medidas por nenhuma moeda do mundo: as vidas. Recentemente, a Justiça decidiu mandar a Júri Popular o condutor Rafael Sadite. Ele dirigia acima da velocidade da via e estava alcoolizado quando bateu no carro da família Oliveira, pouco antes de um viaduto do Setor de Mansões Park Way, em Águas Claras, em 14 de maio de 2014. A jornalista Alessandra Tibau Trino Oliveira morreu na hora. A filha dela, Júlia Trino, no hospital. O único sobrevivente foi o pai da menina, Gabriel Faria de Oliveira. Além do posicionamento judicial, o GDF fez modificações na pista para diminuir o perigo no local.

Leia mais em Cidades

Na avaliação de Hartmut Gunther, professor da Universidade de Brasília e doutor em psicologia social, vários fatores contribuem para o comportamento mais agressivo do motorista no trânsito. Todos eles têm um ponto em comum: a impunidade ou demora na aplicação da lei. ;Tenho notado uma grande quantidade de pardais desligados. Também não faz sentido o intervalo grande entre a prática da infração e o recebimento da notificação. Deveria chegar em uma semana, no máximo;, defende. O Detran não confirma a inatividade dos aparelhos.

Demora
Um caso emblemático da demora na punição marcou de forma trágica a ponte JK. Na madrugada de 24 de janeiro, Rodolpho Félix Grande Ladeira, que, segundo a acusação, trafegava a 165km/h, bateu no veículo conduzido pelo advogado Francisco Augusto Nora Teixeira, que não resistiu aos ferimentos. Foi o primeiro acidente fatal da ponte. Rodolpho só foi preso pelo crime uma década mais tarde, em 2014.

A demora não é a única causa para o crescente desrespeito à velocidade. Gunther critica os descontos concedidos no pagamento de multas. Para ele, o correto seria cobrar o valor em dobro, caso o motorista não pague no dia estipulado. E o órgão de trânsito deveria realmente punir aqueles que extrapolam os 20 pontos com a suspensão ou cassação do direito de dirigir. ;Nos Estados Unidos, a seguradora cobra mais caro o pagamento de quem tem muitas infrações de trânsito;, cita.

A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique aqui.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação