Cidades

Surgem cerca de 300 casos de câncer de colo de útero por ano no DF

Exames regulares e imunização de meninas contra o HPV são medidas essenciais

Otávio Augusto
postado em 25/06/2016 06:05

O câncer do colo do útero é o terceiro mais comum em mulheres na capital federal, fica atrás apenas do da mama e do intestino grosso. Por ano, são 300 novos casos e uma média de 90 mortes, segundo estatísticas da Secretaria de Saúde. Pesquisa inédita do Instituto Datafolha, encomendada pelo laboratório Roche, mostra que 70% das 208 mulheres que participaram do levantamento disseram fazer o exame de papanicolau ; sendo que 46% recorrem ao Sistema Único de Saúde (SUS). Desse total, 22% se submetem ao teste, preventivo da doença, apenas quando há uma recomendação médica. Outras 9% das entrevistadas realizam somente quando sentem algum sintoma diferente. Para especialistas, é essencial fomentar a prevenção e o tratamento precoce.

Além da vacina contra o papilomavírus humano (HPV), o cuidado contra esse tipo de câncer continua a envolver o exame papanicolau. Ele identifica possíveis lesões precursoras do câncer, que, se tratadas precocemente, evitam o desenvolvimento da doença. A empresária Joelma Figueiredo dos Santos Torres, 47 anos, sabe da importância do diagnóstico precoce. Em 2011, a moradora de Taguatinga, identificou um pré-câncer e passou por uma cirurgia. Este ano, ela teve um sangramento e descobriu que estava com câncer de colo do útero em estágio avançado, com metástase na vagina, no reto e na bexiga. ;Meu jeito de conduzir o tratamento é não falando sobre a doença. Não parei minha vida por causa disso;, conta.

Joelma realizou 11 aplicações de quimioterapia na primeira parte do tratamento. Atualmente, ela está na nona sessão do segundo ciclo. No início, teve diminuição de 80% do câncer e curou a lesão externa. Entretanto, houve aumento na ferida interna do útero. ;Abriu uma fístula na bexiga e tive dificuldades para conter a urina, mas não deixei de viajar e de trabalhar;, detalha.

Daniele Assad, oncologista do Hospital Sírio-libanês, explica que a expectativa de cura é ligada ao estágio da doença quando é detectada. ;Nos últimos cinco anos, o rastreamento está mais ativo. Mas, ainda assim, é insuficiente. A cobertura não está adequada. Esse serviço é muito importante porque descobrimos a doença num estágio que ainda não se formou o câncer, apenas a infecção das células;, esclarece.

Ao todo, 7% das mulheres que tiveram câncer do colo do útero desenvolveram doenças psicoemocionais. Acompanhado do diagnóstico vem o abandono. Larissa Bezerra da Silva é pedagoga da Rede Feminina de Combate ao Câncer e acompanha o tratamento de cerca de 400 mulheres no Hospital de Base (HBDF). ;As pacientes precisam de acolhimento. Passar pela doença as deixam muito abaladas. Elas se sentem sozinhas e acham que o tratamento não vai dar certo;, conta

Larissa ressalta que há um índice grande de maridos que largam as mulheres quando descobrem a doença. ;O câncer de útero é agressivo e muito doloroso. Algumas perdem sua identidade como mulher e sofrem dilemas com relações sexuais. Os esposos vão embora. Não é uma característica apenas dos menos abastados. Isso ocorre, sobretudo, nas classes mais altas;, completa.

Vacinação
O papilomavírus humano (HPV) é a principal causa do câncer de colo do útero. Para garantir a eficácia da vacina, são necessárias três doses. A meta da Secretaria de Saúde é imunizar 80% do público-alvo ; cerca de 21 mil garotas de 9 a 13 anos. Em 2015, foram aplicadas 15.218 doses da vacina, sendo em 8.343 dos casos para as crianças de 9 anos ; o número representa 36,2% das meninas dessa faixa.

Atualmente, existem mais de 100 tipos de HPV, alguns deles causadores de câncer, principalmente no colo do útero e no ânus. Não se conhece o tempo em que o HPV pode permanecer sem sintomas e quais são os fatores responsáveis pelo desenvolvimento de lesões. Na pesquisa, 27% dos entrevistas do DF disseram não conhecer a vacina contra o microrganismo.

O Ministério da Saúde estuda a ampliação do público-alvo para a vacinação contra o HPV. Hoje, meninas de 9 a 13 anos e mulheres com HIV até os 26 anos são vacinadas na rede pública. O grupo de trabalho, que reúne técnicos do ministério, representantes de sociedades médicas e pesquisadores, define até o fim do ano quem serão os próximos beneficiários. A equipe revisará resultados de estudos sobre o impacto da vacinação em meninos, homens com HIV e pacientes imunodeprimidos. Em 2013, o Distrito Federal foi pioneiro na aplicação da vacina para crianças de 11 a 13 anos.

Cláudio Ferrari, integrante da Sociedade Brasileira de Oncologia (SBO), acredita que a intenção do governo deve ser ;erradicar; a doença. ;Temos que apostar na vacinação. A vacina é capaz de impedir a infecção do HPV, com eficácia de 95%;, explica (leia Três perguntas para). A contaminação da mulher acontece quando o material genético do vírus é incorporado ao tecido do colo uterino para desenvolver o câncer.

A matéria completa está disponívelaqui, para assinantes. Para assinar, clique

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação