Cidades

Em 2015, 76,4 mil atendimentos em hospitais tiveram relação com Alzheimer

O Distrito Federal está cada vez mais velho, e a idade é um fator de risco para o mal. No Brasil, o crescimento foi de 8,7%

Otávio Augusto
postado em 24/07/2016 07:55
Jaqueline cuida da mãe, vítima da doença:
Desorganização do indivíduo. Isso ocorre com o paciente de Alzheimer. O verbo que mais explica a demência é a desaprender. Zélia Coimbra, 84 anos, era professora de inglês e pianista. Vaidosa, não descarta brincos e batom, mas não se lembra de fatos recentes e é incapaz de se situar no tempo. A idosa descobriu a doença em 2009, porém decidiu não contar à família. Durante algum tempo, os sintomas passaram desapercebidos. O esquecimento era tratado como ;normal;. Ainda hoje, ela faz cálculos matemáticos com maestria. Quando está no banco do carona, soma a placa dos veículos com ligeireza. Dona Zélia não está sozinha. No último ano, as internações ligadas ao mal avançaram 8,7% no país, segundo o Ministério da Saúde.

A população da capital federal é composta por 10,9% de idosos ; faixa etária mais acometida pelo Alzheimer. Em alguns locais, como Asa Sul e Lago Norte, a estatística sobe para 20%, segundo pesquisa da Companhia de Planejamento. O principal fator de risco para a doença é a idade. A magnitude do problema, segundo especialistas, é grande. A tendência é avançar nas próximas décadas. A alta expectativa de vida exige políticas públicas que repensem o modelo atual de assistência à saúde. Somente em 2015 houve nove internações e 76,4 mil atendimentos ambulatoriais no DF relacionados ao Alzheimer, de acordo com levantamento do Ministério da Saúde.

;A memória funciona como uma corrente. O paciente de Alzheimer se lembra de alguns elos, esquece outros e cria alguns deles. Por isso, ele perde a capacidade de se colocar no tempo;, explica o geriatra Otávio Castello, vice-presidente da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz). Na última quarta-feira, a reportagem acompanhou uma reunião mensal organizada pelo especialista, focada em parentes e cuidadores de pacientes com o mal. ;A mentalidade da sociedade não percebe o problema. Não estamos nos preparando para o envelhecimento. Falta financiamento, política pública específica, disseminação de conteúdo;, ressalta Otávio.

Histórias

Cerca de 15 pessoas participaram do encontro na Escola Classe 106 Sul. Sentada próxima à porta de saída, a bibliotecária Jaqueline Coimbra, 56, participava da primeira reunião após o afastamento de um ano. Temerosa, aos poucos começou a falar sobre a mãe, Zélia. ;Eu conheço aquela pessoa, mas tenho dificuldade de conviver. Eu não sei o que falar com ela;, explica a moradora da 114 Sul. Durante duas horas, cuidadores, filhos, esposas e netos de pessoas com Alzheimer contam histórias e desabafam. Em comum, a sensação de impotência frente a uma memória que, minuto a minuto, é despedaçada. ;Minha mãe não se lembra de muita coisa. A partir disso, os pequenos momentos ganham uma proporção maior. Esses dias, eu pedi que ela fizesse uma massagem no meu pé. E ela revelou um belo talento;, conta Jaqueline, às lágrimas.

A Academia Brasileira de Neurologia (ABN) estima que o Alzheimer afete 7,2% da população idosa. Em algumas capitais, como Brasília, o índice chega a 14%. ;Aos 60 anos, apenas 2% das pessoas têm a doença. A partir dessa idade, tal prevalência dobra aproximadamente a cada sete anos, a tal ponto que, aos 80 anos, 30% dos indivíduos têm a doença e, aos 90, 50% a desenvolveram;, detalha Norberto Ferreira Frota, coordenador de neurologia cognitiva e do envelhecimento da ABN. ;Há 20 anos, a palavra câncer levava o medo. Hoje, é o Alzheimer. Esse medo é porque a doença não tem cura;, frisa.

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