Cidades

Taxistas se preparam para eleger novos representates do sindicato

Entre reeleição e discursos de renovação, candidatos enfrentam uma das maiores crises da profissão por causa da concorrência com o serviço por aplicativo

Isa Stacciarini
postado em 26/07/2016 06:00
Ponto de táxi na Rodoviária Interestadual: categoria se mostra revoltada e dividida em relação ao futuro da profissão, que sente a pressão de aplicativos como o Uber
Uma das categorias profissionais com grande força política no DF pode sofrer reestruturação nos próximos dias. Com poder de barrar projetos na Câmara Legislativa, fazer o governo recuar em licitações, ter representante no Tribunal de Contas do DF e eleger parlamentares, o grupo à frente do Sindicato dos Permissionários de Táxis e Motoristas Auxiliares do DF (Sinpetaxi) se prepara para a eleição de novos representantes para os próximos quatro anos ; a composição vencedora assume em 5 de setembro.

Em meio à concorrência com o transporte individual de passageiros por aplicativos, como o Uber, e mudanças gradativas no sistema, taxistas reclamam da falta de representatividade e se queixam de vínculos familiares no Sinpetaxi. Na Presidência desde 5 de setembro de 2001, Maria do Bonfim Pereira, a Mariazinha, enfrenta a ameaça de ceder a cadeira que assumiu há quase 15 anos. Três chapas disputam a função. Concorrem Mariazinha; o atual 1; secretário do sindicato, Sérgio Aureliano e Silva; e o presidente da Associação Nacional de Taxistas em âmbito federal (ANTF), Suéd Silvio (veja As chapas).
Existe, ainda, a suposta Chapa 4, encabeçada pelo taxista José Araújo. Apesar de não ser registrada, ela tem atuado em protesto à gestão atual. Para isso, ele organiza um abaixo-assinado, pedindo a anulação do pleito e solicitando nova disputa para que todos os profissionais tenham a chance de votar ; hoje, só os que estão em dia com o sindicato têm esse direito (leia Para saber mais). Segundo José, muitos motoristas aptos a votar não exercem mais a profissão.

O cargo de presidente desperta ambição. Entre os benefícios, há ajuda de custo de R$ 5 mil, estendida a secretário e a tesoureiro, além de motorista à disposição. Apesar de três chapas na disputa, duas delas revelam características de situação. Mariazinha tenta a reeleição pela Chapa 1. E o cunhado dela, Sérgio Aureliano, encabeça a Chapa 2, tendo a mulher dele, irmã de Mariazinha, como candidata a conselheira fiscal ; Maria do Socorro Pereira de Santana e Silva é a atual vice-presidente do Sinpetaxi.

Apesar dos vínculos familiares, Sérgio e Mariazinha garantem ser adversários. ;Seis pessoas compõem o conselho fiscal, e ela (Maria do Socorro) sempre fez parte do sindicato e administrou com transparência. Separamos da chapa da Mariazinha porque não dava mais. Se a Chapa 2 vencer, ela (Mariazinha) estará fora do sindicato definitivamente. E, se a Chapa 1 vencer, eu sairei definitivamente;, garantiu Sérgio.

Mariazinha mantém o irmão como motorista da entidade, assim como um dos advogados é irmão de Sérgio Aureliano. Ela alega que, quando assumiu a Presidência, parte dos familiares exercia funções no sindicato. ;Não fui eu quem colocou. Hoje, a Socorro (irmã) está doente e é contra mim. É a minha adversária n; 1 e não me lembro de ter feito mal algum para isso;, afirmou.

A presidente do Sinpetaxi quer dar continuidade ao trabalho e prometeu lutar para reconstruir um ponto de apoio no aeroporto, criar um aplicativo para garantir passageiros na volta da corrida e implementar Bandeira 2 em dezembro. Negou que o serviço seja caro e defendeu a retirada dos profissionais incompetentes. ;Hoje, para manter o carro é caro. Oitenta por cento da frota está renovada. Como paga prestação de veículo sem renda?;

Líder da Chapa 2, Sérgio Aureliano defendeu uma nova filosofia de trabalho, com experiência e responsabilidade. ;Vamos criar um aplicativo para concorrer com esses novos, propor um fundo de reserva ao taxista, auxílio-funeral e buscar com o governo pontos de táxi;, detalhou. ;Hoje, o Uber está enganando a população, porque não dará conta de sustentar o valor praticado por muito tempo.;

Candidato pela Chapa 3, Suéd quer acabar com o nepotismo. Para ele, é preciso inovar. ;O nosso desafio é preparar a categoria para uma concorrência que os taxistas nunca tiveram. Não é bater nela, mas mostrar um serviço melhor. Vamos criar um aplicativo de corrida, diminuir os insumos e praticar preço de combustível mais em conta para o taxista. Baixar a tarifa diretamente sem dar condições para o profissional tornaria o serviço inviável;, concluiu.

O projeto que regulamenta o uso do aplicativo Uber, aprovado em junho pela Câmara Legislativa, aguarda aval do GDF. O texto está na Secretaria de Mobilidade. Não há data para a conclusão do trabalho, mas a expectativa é de que o decreto do Executivo seja publicado na primeira quinzena de agosto. O secretário da pasta, Marcos Dantas, reafirmou que o Executivo local não interferirá no serviço. ;Não vamos limitar o Uber. Faremos uma avaliação técnica para ver se há alguma inconsistência no projeto. Isso deve ser concluído em breve;, disse.

Divisão
Uma parcela dos taxistas não se sente representada pelo sindicato. É o caso de Marcos Antônio Ribeiro, 48 anos, na profissão há quase 16. Sindicalizado, ele faz questão de votar. ;A categoria está repartida. Quando passa muito tempo na mão de um, a pessoa começa a achar que é dona. Quando vira um negócio de família, a coisa não anda;, avaliou.

Alcides Veras, 39, reforça a falta de sintonia entre os profissionais. ;Na prática, é como se o sindicato não existisse. Ninguém tem proposta de nada que efetivamente nos beneficie;, reclamou.
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