Cidades

Pesquisa mostra que jovens do 9ª ano admitem contato com droga e bullying

Um dos dados mostrou que, em colégios particulares do DF, 25,1% admitiram humilhar ou constranger sistematicamente os colegas

Luiz Calcagno
postado em 27/08/2016 07:10
Maria Cecília, 14 anos, mudou de escola depois de sofrer bullying: apoio da mãe, Maria Inês, e melhora de rendimento escolar
Depois de sofrer bullying, Maria Cecília Nunes Gobbo, 14 anos, mudou de escola. Aluna do 9; ano do ensino fundamental de uma escola privada, ela conseguiu elevar o rendimento ao evitar as agressões. Hoje, ela está entre os primeiros da turma. O cenário vivido pela adolescente ilustra bem os resultados obtidos na Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense) 2015 do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). Um dos dados mostrou que, em colégios particulares do DF, 25,1% admitiram humilhar ou constranger sistematicamente os colegas (veja quadro). O número é maior do que a média nacional, de 19,8%. Para especialistas, a estatística é alarmante, pois, se vários de estudantes admitem abertamente a prática, significa que não compreendem a gravidade do ato.

A mãe de Maria Cecília, Maria Inês Nunes Gobbo, 46, acompanha de perto a rotina da filha e agiu rápido quando soube dos problemas na instituição anterior. ;Eu cobro prova, boletim e sempre pergunto pelas tarefas. Fora da escola, sempre levo e busco. Quando vai para a casa de uma colega, eu converso com a mãe e mando mensagens;, conta. ;Com relação a mim, a minha mãe não teve problemas, pois eu nunca pratiquei o bullying. Desde nova, os meus pais sempre me alertaram sobre esse tipo de situação;, completa a filha.

Em outro caso, as gêmeas Júlia e Lorena Gurgel Rodrigues, 13, saíram da escola particular para a pública. Lá, elas se depararam com uma realidade desconhecida, de colegas do 9; ano que dividem o tempo entre o estudo e os filhos. É outro cenário que corrobora com o levantamento do IBGE. Segundo a pesquisa, dos alunos do 9; ano que tiveram relações sexuais, 40,5% não usaram camisinha na primeira relação. Depois do preservativo, o meio contraceptivo mais usado é o anticoncepcional, com 69,3%.

Álcool e drogas

Especializada nos ensinos fundamental e médio, a pesquisadora da Universidade Católica de Brasília (UCB) Leda Gonçalves comenta os números apresentados. Sobre o bullying, ela explicou que a facilidade em admitir a prática é motivo de alerta. ;É um constrangimento, uma humilhação. Como se sentem à vontade para dizer? Se não mudam essa prática, que sociedade estamos formando?;, questiona. Ela alerta que o dever de transformar o comportamento é dos pais, da escola e da mídia. O mesmo vale para o uso do preservativo. ;É responsabilidade de todos educarem os jovens para a vida sexual. O efeito de não usar camisinha é o risco de doença sexualmente transmissível e a gravidez na adolescência, que impacta a vida da mãe e da criança;, destaca.

Chama a atenção, ainda, os dados sobre o uso de cigarro, álcool e drogas ilícitas. Um total de 23,7% dos estudantes afirmam terem fumado. A porcentagem é maior na rede pública. A quantidade dos que admitem terem bebido é ainda maior: 59,8%. Desses, 61,1% são de estabelecimentos de ensino do governo. Além disso, 17,8% dos que frequentam o 9; ano no DF admitem ter usado drogas proibidas, sendo 43% matriculados em instituições privadas. A maconha é a droga mais popular ;44% admitem terem usado pelo menos uma vez. Embora considerada baixa, preocupa, ainda, a taxa de estudantes que admitem terem usado crack: 0,8% do total. Desses, 1,3% é do sexo masculino e 1% de colégio público.

Abusos

O IBGE incluiu no Pense 2015 o número de estudantes do 9; ano que tiveram relação sexual forçada. No DF, 3,6% sofreram abusos. A porcentagem é mais alta entre meninas ; 3,7% ; e nas escolas privadas (4,2%). Os maiores agressores são familiares que não o pai e a mãe, seguidos por namorados ou ex-namorados. Especialista em política educacional, a professora aposentada da Universidade de Brasília (UnB) Stella Maris Bortoni destaca que os números são um guia para orientar o governo nas políticas públicas e alertar os pais.

Ela alerta que é preciso entender a relação dos riscos que o adolescente sofre com o tipo de lar onde vive, com a região em que reside e com a condição financeira da família. ;Os dados trazem mais perguntas e exigem estudos. Chegam em boa hora para mostrar à sociedade brasileira quais são os problemas a que estão submetidos os nossos jovens. Como país, estamos atrás em testes internacionais de intelectualidade para estudantes, e os adolescentes, sujeitos a mazelas que afetam diretamente o desenvolvimento. Os problemas são graves e extensos;, alerta.

O subsecretário de Planejamento, Acompanhamento e Avaliação da Secretaria de Educação, Fábio Pereira de Sousa, afirma que o governo está atento. ;É uma pesquisa importante para dirigir políticas públicas e ver onde precisamos corrigir as nossas falhas. Temos melhorado as nossas condições. Os dados são melhores que do restante do país em sua grande maioria. Fizemos convênios com a Secretaria de Segurança Pública para oferecer cursos e palestras e mostrar os riscos das drogas, por exemplo, e com a Secretaria de Saúde, para capacitar os nossos professores. Lembrando que as nossas escolas atendem a uma população diversa, o que não é o caso da rede privada. Além disso, trabalhamos para reformar e revitalizar as 681 escolas do DF;, garante.
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