Cidades

Entre o desencanto e a esperança

Ana Dubeux
postado em 28/08/2016 17:46
Vivemos um momento de desconfiança na política sem precedentes. Não sem razão. A Operação Lava-Jato e seus desdobramentos levaram a classe política a descrédito jamais visto. As provas flagrantes de desvios, tráfico de influência e corrupção foram catalisadoras de um sentimento coletivo de desencanto, independentemente dos matizes ideológicos.

Nesta semana, teremos o desfecho do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff no Senado. Qualquer que seja o resultado, não haverá vencedores nem vencidos. Porque existem sensações mais permanentes do que a de derrota ou de vitória. Por exemplo: a conclusão de que a corrupção é sistêmica, faz parte das instituições brasileiras e não escolhe partido político, também está em todas as dimensões ; federal, estadual, municipal e distrital.

Estamos, por exemplo, acompanhando com olhos esbugalhados o desenrolar de uma investigação sobre um suposto esquema de pagamento de propinas a distritais que destinaram sobras orçamentárias da Câmara Legislativa ao pagamento de dívidas do GDF com hospitais particulares ; e nós aqui, que tivemos senador cassado, governador defenestrado e um escândalo chamado Caixa de Pandora nas costas, achávamos que poderíamos retomar nosso caminho político com menos problemas.

O bom disso tudo é perceber que, ao longo dos últimos anos, o cidadão percebeu um aliado forte: as forças-tarefas formadas pelas polícias Civil e Federal, pelo Ministério Público (do DF e Federal). Juntas, essas potências estão desarticulando esquemas criminosos e instruindo inquéritos robustos em provas para que a Justiça cumpra seu papel de julgar, condenar e punir culpados.

O fato é: se não podemos confiar nos políticos, também não podemos prescindir deles. A política não é apenas necessária, é indispensável. O exercício dela é a base da democracia; também da cidadania. Portanto, não devemos nos enganar, nos iludir, achando que é melhor não haver Câmara Legislativa ou Congresso Nacional. O que precisamos é fortalecer as instituições capazes de fiscalizar cada passo dos políticos e dos gestores a bem do serviço público. Esse ganho, essa blindagem, é que nos levará do desencanto total à esperança de dias melhores.



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