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Resolução prevê racionamento de água no DF quando reservatório atingir 20%

Na sexta, o Descoberto chegou a 28,88%. Para especialistas, o risco é iminente, se não este ano, no próximo

postado em 16/10/2016 07:00


Em 35 anos vivendo em Sobradinho I, é claro que o comerciante Orlando Jacobina de Sousa, 59 anos, já ficou sem água nas torneiras. Porém, sempre por questões técnicas, como uma melhoria no sistema de armazenamento ou o conserto de uma adutora. ;Nunca tinha sido cortada por causa de pouca água. As chuvas estão mal concentradas e eu temo que a gente possa ter, sim, um racionamento.; Essa inquietação surgiu não apenas porque ele vive em uma das seis regiões administrativas que tiveram o abastecimento interrompido em setembro devido à maior crise hídrica da história do Distrito Federal. Mas, principalmente, porque o racionamento é uma realidade cada vez mais próxima. Resolução da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento do DF (Adasa) prevê que, caso um dos reservatórios que abastecem a capital chegue a 20%, períodos de interrupção da água que abastece os quase 3 milhões de habitantes começam a vigorar. Na sexta-feira, o índice da Barragem do Descoberto atingiu sua menor marca: 28,88%.

[SAIBAMAIS]A tarifa de contingência, taxa que será cobrada na conta de água de todos os consumidores que gastem mais que 10 mil litros d;água, já começa a valer assim que esse percentual chegar a 25%, mas há muitos especialistas que acreditam que ela será cobrada tarde demais e não vai trazer o efeito desejado: uma redução de 15% no consumo dos brasilienses. Para Henrique Marinho Leite Chaves, professor de manejo de bacias hidrográficas da Universidade de Brasília (UnB), a possibilidade de o aumento na conta não ser suficiente pode causar, ainda, uma revolta nos consumidores. ;Como ela está sendo cobrada com muito atraso, há ainda o risco do racionamento. Isso pode levar a um descrédito da população, que vai ter pagado mais caro e, mesmo assim, ficará sem água;, avalia.

Para o especialista, a cobrança pode ser considerada retardada porque os avisos vêm sendo dados desde o início de 2016. ;Esse doente já chegou ao hospital muito debilitado. O governo deveria ter começado esse debate desde maio, quando ficou provado que o regime de chuvas não tinha sido satisfatório.; Porém, o professor lembra: racionar água não é sinal de calamidade. ;Isso faz parte do elenco de medidas que os gestores hídricos têm para gerir o bem. Não pode ser considerada calamidade. Calamitoso é o desabastecimento completo.;



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A Adasa e a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) trabalham, atualmente, em um plano de ação para definir quais restrições serão feitas no caso de um dos reservatórios chegar a 20% da sua capacidade, percentual que a agência estipula para determinar estado de racionamento. Coordenador de Estudos Econômicos da Adasa, Cássio Cossenzo explica que a expectativa é que o DF não viverá essa situação em 2016. ;Se todos começarem a reduzir o consumo desde agora, podemos evitar. A meta de redução de consumo foi estabelecida em 15%. Agora, é incentivarmos os usuários.; Mesmo assim, ele explica que, no caso de um racionamento, várias medidas podem ser adotadas: cortes em determinados períodos do dia, alternância de abastecimento entre dias, revezamento de áreas abastecidas, entre outras. ;São Paulo, por exemplo, chegou a ficar três dias sem água e um com. Tudo vai depender dos níveis dos reservatórios.;

Cássio Cossenzo, porém, admite: mesmo que na Resolução n; 14, de 27 de outubro de 2011, fique determinado que ;toda unidade usuária deverá contar com reservação de volume mínimo correspondente ao consumo médio diário;, nem todas as residências contam com caixa d;água. ;As pessoas mais humildes serão as mais prejudicadas. Ainda mais se elas tiverem um volume médio de consumo alto ; algo que é comum no DF. Se não houver um regime maior de chuvas e mais investimentos na captação, esse problema pode se repetir. Essa realidade é nova para o brasiliense e para a Adasa, mas estamos trabalhando para minimizar os seus efeitos;, completa.

O presidente da Caesb, Maurício Luduvice, afirma que há medidas previstas, mas espera que elas não sejam necessárias. ;Apresentamos um plano de racionamento, mas esperamos que não venha a ocorrer. Ele só ocorre quando o nível do reservatório chega a 20%. Nesse caso, uma das estratégias é fechar algumas das redes, e determinadas regiões ficarão 24 horas sem água;, explica.

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