Cidades

Contos de Natal brasilienses: conheça histórias de acolhimento

Nas últimas reportagens da série de contos de Natal, o Correio traz relatos de quem descobriu novas perspectivas no apadrinhamento de menores e no voluntariado

Roberta Pinheiro - Especial para o Correio
postado em 25/12/2016 08:00
O afilhado de Patrícia Gerard vai passar o Natal e o ano-novo com a família que o acolheuPoucas palavras marcaram o primeiro encontro. De um lado, um casal cheio de perguntas. Do outro, João*, um adolescente de 13 anos, calado. Era a primeira vez que a pedagoga e orientadora educacional da Secretaria de Educação do DF Patrícia Gerard, 58 anos, e o marido, o militar da reserva Luiz Augusto de Oliveira, 62, conheciam o menino que, a partir daquele momento, se tornaria um afilhado. O estranhamento durou pouco. Em poucos meses, as falas se estreitaram e os encontros ficaram recheados de pipoca, sorvete, refrigerante e ;só mais um mergulho de piscina;, como João costuma pedir.



Os três se conheceram na Casa de Ismael, um lar de crianças na Asa Norte. Patrícia decidiu apadrinhar um adolescente motivada por uma experiência no trabalho (leia Para saber mais). Ela atua na área de direitos humanos e diversidade e auxiliou, por um tempo, escolas dentro de unidades de internação de jovens infratores. ;Quando entrei pela primeira vez foi muito impactante. Encontrei meninos chamando a gente de tia. Fiquei pensando como a vida nem deu tempo para eles conhecerem algo além da marginalidade;, relembra. Aquele incômodo se instalou no coração da pedagoga. Em um outro momento, surgiu mais um desconforto. Ela via nas redes sociais campanhas e comentários cheios de emoção sobre a adoção de animais. ;E as crianças?, eu me perguntei.;.

[SAIBAMAIS]Uma pesquisa na internet levou Patrícia para a instituição Aconchego, uma organização que trabalha em prol da convivência familiar e comunitária de crianças e adolescentes em acolhimento institucional. Ela e o marido participaram de palestras e encontros até o dia em que conheceram João. ;Quando a psicóloga do lar me disse o nome dele, não tive dúvidas de que daria certo. É o mesmo nome do meu pai;, conta ela. Aos poucos, entre conversas e saídas para o cinema, o shopping e o parque de diversões, o adolescente e o casal diminuíram a distância. João lembra dos detalhes de cada momento. ;A primeira vez que fui para a casa dos meus padrinhos foi o mesmo dia do meu batizado. Nadamos na piscina e depois fomos ver uma corrida de rua;, relata.
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Toalha no chão do quarto, horário para estudo, livros do personagem Harry Potter e uma paixão por Cúmplices de um resgate, uma novela sobre o universo jovem, voltaram a fazer parte da rotina do casal, que tem duas filhas. ;O João me trouxe alegria e trabalho. Estou revivendo o que é ter criança em casa. Vi outras perspectivas e descobri outros objetivos. Claro que com muita responsabilidade;, afirma Patrícia. Apadrinhar um adolescente é muito mais do que momentos de abraços e carinhos. Ao se tornar uma madrinha, a pedagoga sabia que começava a construir um vínculo afetivo com João e que, a partir daquele momento, os dois compartilhariam uma história juntos.

;Tem gente que fala que o João preencheu a minha vida, mas ela nunca esteve vazia. Sou realizada profissional e pessoalmente, tenho duas filhas, tenho a minha casa e o meu trabalho. Ele veio para mexer com tudo. Desorganizar o que estava muito organizado;, brinca a pedagoga e orientadora educacional. Neste Natal, nada de ficar na instituição. João e o irmão de 9 anos compraram roupas novas para celebrar a data e o ano-novo com os padrinhos. ;Conhecê-los me trouxe tudo de bom. Uma família nova;, conta o adolescente. As férias também estão garantidas com muito banho de piscina, sorvete, refrigerante e filmes. ;Mas temos um combinado. Todos os dias temos que estudar uma hora e meia por dia;, complementa.


Confiança

Entre madrinha e afilhado, o clima é de descontração e confiança. João, apesar do jeito mais calado e tímido, deixa escapar um riso com as brincadeiras de Patrícia. Os dois esquecem por um momento que estão sendo entrevistados e começam a conversar sobre momentos juntos, segredos e descobertas. Se um dia a conversa entre eles foi de poucas palavras, hoje sobram troca de olhares, sorrisos e planos. ;O João é um menino muito tranquilo, educado, obediente. Notamos que ele tem um desejo grande de aproveitar essa convivência e todas as oportunidades. Tenho certeza que ele saberá usufruir disso muito bem;, afirma a pedagoga.
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