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DF recebe o dobro de vacinas para combater a febre amarela

Repasse das doses pelo governo federal subiu de 25 mil para 50 mil em janeiro. A busca pela imunização, a forma mais segura de prevenção, causou filas nos centros de saúde. Alguns chegaram a esperar mais de duas horas

Otávio Augusto
postado em 21/01/2017 07:00
Receosa de um possível surto da doença, Vânia levou a filha Raíssa para vacinar: única forma de se proteger

Desde o anúncio de uma morte por febre amarela na capital federal, a corrida por vacinas movimentou a maioria dos centros de saúde no DF. Ontem, em alguns endereços, a espera ultrapassou duas horas, e as filas deram o tom. Muitos brasilienses, porém, ainda têm dúvidas, sobretudo no que se refere à imunização (Leia quadro). O repasse de vacinas, insumo disponibilizado pelo Ministério da Saúde, dobrou este mês ; passou de 25 mil para 50 mil doses.

Nem sequer na hora do almoço, período em que as salas de vacinação ficam fechadas, entre o meio-dia e as 13h, o fluxo de gente diminuiu. Mesmo com as portas fechadas, as pessoas se amontoavam em busca de doses e de esclarecimentos. No Centro de Saúde n; 9 do Cruzeiro, por exemplo, a aglomeração misturou moradores de outras duas regiões administrativas: Sudoeste e Octogonal.
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[SAIBAMAIS]Um dos exemplos é o da militar da reserva Vânia Cristina Ramos, 53 anos, e da filha Raíssa Ramos Lisboa, 11. Quando elas chegaram, o intervalo para o almoço ainda estava pela metade, mesmo assim, não desistiram. ;Depois que uma pessoa morreu aqui no DF com febre amarela, vim correndo ao posto de saúde vacinar minha filha;, conta a moradora do Sudoeste. Ela emenda: ;Essa é a única forma de se proteger da febre amarela, que está se espalhando rapidamente;.

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Ela está certa. O coro em prol da vacinação é encorpado pelo especialista em doenças infectocontagiosas Eduardo Espíndola. O médico analisou os índices de imunização na cidade e traçou um panorama. ;A cobertura vacinal é boa, por se tratar de uma cidade que sempre esteve na zona de recomendação do Ministério da Saúde;, explica. Eduardo lembra que o alerta chegou a ser tão incisivo que ônibus de viagem eram parados em postos na divisa do DF. ;Quem se descolou entre 1975 e 1990 deve se lembrar dessa medida;, frisa.

Mais doses
Mensalmente, o Ministério da Saúde repassa ao DF 25 mil frascos de vacina contra febre amarela, sendo que a demanda varia entre 14 mil e 20 mil por mês. A Secretaria de Saúde informou que receberá o reforço de 42 mil doses da vacina, que, somadas às 8 mil já entregues em janeiro, serão 50 mil em estoque. Este ano, mais de 5 mil pessoas receberam a vacina. Até outubro do ano passado, o número chegou a 191 mil.

Repasse das doses pelo governo federal subiu de 25 mil para 50 mil em janeiro. A busca pela imunização, a forma mais segura de prevenção, causou filas nos centros de saúde. Alguns chegaram a esperar mais de duas horasA babá Josenilda Fidelis dos Santos, 56 anos, comemorou a ampliação. Ela tomou uma dose da vacina em 2000 ; naquele ano, houve um surto da doença. Passados dezessete anos, a babá não havia recebido a segunda aplicação para ficar imune definitivamente. ;Como estou com muito medo desta epidemia se espalhar, vim aqui para tomar a dose que falta. Considero que é a medida mais importante para a prevenção e o controle da doença;, destaca. Ela foi vacinada por volta das 14h30, após quase duas horas de espera.

Eduardo Espíndola explica que as duas doses têm de estar comprovadas. Não se pode titubear. ;Na dúvida, se a pessoa perdeu o cartão ou se não tem a informação naquele momento, por precaução, ela deve ser vacinada. Mas é importante que as pessoas procurem seus cartões, já que, idealmente, a vacina é realizada em, no máximo, duas doses ao longo da vida, e um período entre uma vacina e outra de 10 anos;, salienta.

Para entender a doença
1. As fêmeas dos mosquitos Haemagogus e Sabethes são as transmissoras na área rural. Na cidade, o Aedes aegypti (o mesmo da dengue, da zika e da chicungunha) é o vetor.
2. As primeiras manifestações da doença são febre alta, calafrios, cansaço, dor de cabeça, dor muscular, náuseas e vômitos.
3. A manifestação mais grave do mal compromete fígado e rins, provoca icterícia (olhos e peles amarelados), sangramentos e queda de pressão arterial.
4. Não há medicamentos específicos. Analgésicos são usados para controlar a dor e soro, para manter a hidratação.
5. O calendário de vacinação contra a febre amarela passou por alterações no último ano. Agora, a recomendação é de duas doses para a imunização por toda a vida.
6. A primeira dose é aplicada nos bebês aos 9 meses e o reforço, aos 4 anos de idade. Quem receber a primeira dose depois dessa idade deve tomar a segunda após 10 anos.
7. O regime de vacinação adotado no Brasil é diferente daquele defendido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que recomenda apenas uma dose.
8. Idosos acima de 60 anos, grávidas, lactantes, bebês até 6 meses, pessoas com imunodeficiência (como por aids ou em tratamento de alguns tipos de câncer), transplantados e alérgicos a ovo não devem se vacinar.

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