Cidades

Três casos de abuso sexual marcam a semana do Dia Internacional da Mulher

Em um deles, exames de DNA comprovam que suposto pastor é responsável por três estupros no DF

Danilo Queiroz - Especial para o Correio, Walder Galvão*, Deborah Fortuna
postado em 09/03/2017 06:05

Segundo a polícia, Renato Bandeira cometeu os abusos em 2014
Na semana do Dia Internacional da Mulher, atos de violência sexual marcaram a data que deveria ser de comemoração. No primeiro mês de 2017, a Polícia Civil registrou 58 estupros no Distrito Federal. Em janeiro do ano anterior, foram registrados 48 casos. Apenas nos últimos dias, três casos chamaram a atenção na capital do país: um idoso apalpou uma jovem de 20 anos dentro do ônibus, um homem tentou agarrar uma mulher e um pastor foi identificado como autor de vários estupros.

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A Polícia Civil prendeu o líder religioso Renato Bandeira dos Santos, 30 anos, como suspeito de cometer cinco abusos. Os crimes aconteceram em 2014, sendo que três deles foram realizados no intervalo de 19 dias. A investigação chegou ao culpado após a realização de exame de DNA, utilizando material genético encontrado em três vítimas (leia Para saber mais).

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Uma delas disse ao Correio que tinha 36 anos à época do crime. Contou que o acusado portava uma faca no momento da abordagem. ;A sensação é de alívio (pela prisão), porque a gente sabe que ele não vai poder fazer isso com outras pessoas. Mesmo assim, eu continuo assustada. Qualquer pessoa que chega perto de mim eu imagino que vai ser do mesmo jeito. Até porque foi durante o dia;, relata. Outra vítima, atacada aos 46 anos, revelou que o pastor a forçou a entrar no veículo dele. Segundo o relato, a mulher também foi ameaçada com uma faca. O crime ocorreu em Águas Claras, por volta das 5h30, em um estacionamento público.

[SAIBAMAIS]Os policiais só conseguiram apontar Renato como culpado dois anos após os crimes. O perfil genético do sêmen dele foi inserido no Banco Nacional de DNA e coincidiu com o de um autor de estupro preso em flagrante em Belo Horizonte, em junto de 2015. Neste mês, investigadores da 21; Delegacia de Polícia (Taguatinga Sul) o trouxeram para a capital federal. O delegado-chefe da unidade policial, Raimundo Vanderly, descreveu o acusado como bem articulado e inteligente. ;Ele mudava de local e usava artimanhas. Em alguns crimes, utilizou uma faca. Em outros, um carro. Ou, então, abordava na rua. Em 2014, ele estava com 130kg e, atualmente, pesa 70 kg. Isso pode dificultar a identificação por outras vítimas;, lamenta.

Renato se identifica como evangélico e planejava abrir uma igreja em Belo Horizonte. Na capital mineira, mais de 80 mil pessoas compareciam aos shows realizados pelo pastor. Ele negou ter cometido os crimes. ;Eu creio que todos os homens de Deus passaram por isso, quem sou eu para não passar também? Eu vou passar de cabeça erguida, e a vida continua. É complicado você ser acusado de algo que não fez, então, eu vou tentar provar a minha inocência;,diz.

Porém, segundo a polícia, as provas são irrefutáveis. ;Temos os elementos técnicos e o depoimento das testemunhas. Em Belo Horizonte, ele responde por outro estupro;, reforça o delegado Vanderly. Caso haja mais vítimas de Renato, elas podem entrar em contato com a Polícia Civil do DF pelo telefone 197.

Outros casos

Logo no início do Dia Internacional da Mulher, celebrado ontem, a Polícia Militar prendeu um homem por tentar agarrar uma mulher. A vítima, de 28 anos, foi abordada na altura de uma escola, na Estrada Parque Núcleo Bandeirante (EPNB). Ela imaginou que o suspeito, surdo e mudo, pedia ajuda, mas ele pegou uma pedra e escreveu no chão que pagaria R$ 200 por sexo com ela. A mulher tentou correr, mas o homem a agarrou pelo braço. Ela precisou puxar três vezes para conseguir se soltar. Ela correu e encontrou os policiais militares que prenderam o acusado. Ele foi autuado por importunação ofensiva ao pudor e conduzido para a 27; Delegacia de Polícia (Recanto das Emas).

Na tarde de terça-feira, PMs prenderam um homem de 65 anos por passar a mão em uma passageira de 20 anos dentro do ônibus. O coletivo cumpria o trajeto entre o Plano Piloto e o Itapoã. O motorista acionou o farol alto quando passou por uma equipe da PM, e os passageiros acenaram para alertar os policiais. O suspeito, a vítima e uma testemunha foram conduzidos para a Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam).

* Estagiários sob supervisão de Guilherme Goulart

Para saber mais

Capital pioneira

O banco de material genético da Polícia Civil do Distrito Federal foi pioneiro nesse tipo de pesquisa em 1990. Por causa desse trabalho, 92 estupradores em série foram presos. Eles violentaram 152 vítimas em Brasília. Atualmente, 18 unidades da Federação contam com esse tipo de investigação. Segundo o diretor do Instituto de Pesquisa de DNA Forense, Samuel Ferreira, o banco também mostra a importância da denúncia e do exame de corpo de delito. ;O principal é que nós, como peritos, possamos dar essa resposta à sociedade e, sobretudo, às vítimas;, afirma.


Memória
; No início do mês, uma jovem de 19 anos foi assaltada e estuprada enquanto aguardava um ônibus em uma parada da L2 Norte. A vítima estava acompanhada de uma amiga, de 17 anos, também roubada. Elas relataram que ficaram no local durante 40 minutos à espera de um coletivo e, nesse período, um homem parou em uma motocicleta preta. Chovia. O criminoso obrigou a jovem a ir para trás da parada de ônibus e ameaçou matar as duas. Após a violência, o agressor fugiu.

; Em 26 de fevereiro, uma mulher de 62 anos foi estuprada em Ceilândia. Segundo a Polícia Militar, o suspeito arrebentou o muro de tábuas do barraco onde a vítima morava com dois netos. Ele entrou na casa com uma faca e cobriu o rosto da vítima para não ser reconhecido. Familiares chegaram a perseguir o estuprador, que, com medo, pediu ajuda a policiais militares. Estava embriagado e foi preso no local. Segundo a PM, o homem tinha passagem por roubo.


Ação em Ceilândia

Lutando para mudar a realidade de mulheres que sofrem com algum tipo de violência, professores e estudantes do Centro Universitário Iesb se reuniram, na manhã de ontem, no Dia Internacional da Mulher, na Praça da Ceilândia, para uma ação de conscientização contra a violência e a opressão às mulheres. ;A violência contra a mulher não é só física. O abuso ocorre de várias formas. É quando um homem se masturba na rua na frente de uma mulher ou quando alguém passa a mão no corpo da mulher, mesmo não tendo o direito de fazer isso. É quando um pai obriga a filha a se vestir de rosa porque é cor de menina;, afirma a estudante de psicologia Raquel Meneses, 21 anos. O evento contou com atendimento psicológico, social, jurídico e estético às mulheres de forma gratuita. ;Dos atendimentos que fazemos, 80% são para o público feminino. Em média, de 30 a 35% sofreram algum tipo de violência;, pontuou o coordenador do curso de psicologia do Iesb, Roberval Ignácio.


(Gabriella Bertoni/Especial para o Correio)

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