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Momento é de investir em tecnologia, avalia presidente do BRB

Em entrevista ao Correio, Vasco da Cunha Gonçalves comenta o balanço de 2016, que registrou o segundo maior lucro da história da instituição

Adriana Bernardes, Antonio Temóteo
postado em 29/03/2017 06:00
No momento em que o país enfrenta a pior recessão da história e o Governo do Distrito Federal (GDF) tenta equilibrar as contas e pagar os salários em dia, a meta se torna mais ambiciosa
Num cenário de crise na economia do país e do Distrito Federal, o Banco de Brasília (BRB) fechou 2016 com lucro de R$ 200,5 milhões, o segundo maior da história da instituição. O desempenho foi 258,9% maior do que o de 2015. O melhor resultado até então havia ocorrido 2012, quando o valor registrado foi de R$ 215 milhões. Se, por um lado, o momento é de comemorar, por outro, representa um desafio enorme para a banco, que pretende manter ou aumentar a lucratividade.

No momento em que o país enfrenta a pior recessão da história e o Governo do Distrito Federal (GDF) tenta equilibrar as contas e pagar os salários em dia, a meta se torna mais ambiciosa. Para atingir o objetivo, os executivos da instituição apostam na abertura de contas digitais, na oferta de crédito para produtores rurais, nos programas de incentivo ao microcrédito e na retomada das concessões de financiamentos para empresas.
[SAIBAMAIS]O balanço financeiro positivo do BRB em relação ao ano anterior foi apresentado ontem, no Centro Internacional de Convenções do Brasil (CICB). Segundo o presidente do banco, Vasco da Cunha Gonçalves, o resultado é fruto de um conjunto de ações colocadas em prática nos últimos dois anos. A redução de despesas administrativas e com pessoal, a reorganização de produtos oferecidos aos clientes, o investimento em tecnologia e na melhoria do atendimento ao público estão entre as medidas que levaram o banco ao excelente resultado.

O corte de gastos incluiu a redução de 15 para oito no número de diretorias, a extinção das vice-presidências e redução também das superintendências. ;Ficamos com sete diretores e o presidente. O salário da diretoria foi reduzido entre 17% e 20%. Também controlamos melhor as horas extras e fizemos o plano de demissão voluntária com adesão de 130 dos 3,3 mil funcionários;, detalha Vasco Gonçalves.

As despesas também foram cortadas por meio da renegociação e da redução dos contratos de diferentes áreas, como aluguel, licitação e correspondentes bancários. Por outro lado, o investimento em novas tecnologias contribuiu para reduzir custos. O banco ainda aproveitou o processo de reestruturação para revisar as metodologias de cálculo dos limites de crédito e o prazo dos financiamentos.O presidente afirma que, em alguns casos, haverá redução dos limites, mas isso ocorrerá para adequar os valores à capacidade de pagamento dos clientes.

;Antes, a BRB Financeira e a Cartões BRB não entravam no conglomerado. Tinha o limite do cartão e da Financeira. Agora, é considerado o crédito global e isso vai gerar menos riscos;, avalia Gonçalves. No caso dos clientes pessoa física, o banco enfrentou o problema do superendividamento. E os funcionários foram capacitados para renegociar prazos e oferecer linhas de financiamento mais baratas. ;Continuamos crescendo, mas de forma segura e sustentável;, diz.

Gonçalves está confiante de que não será necessário recorrer a aporte financeiro para cumprir as exigências da Basileia 3 ; conjunto de normas que tem como objetivo fortalecer o sistema financeiro, tornando as instituições financeiras capazes de absorver as crises do próprio setor ou das outras áreas da economia. No Brasil, as normas previstas na Basileia 3 estão sendo implementadas desde 2013. Confira os principais pontos da entrevista concedida pelo presidente do BRB ao Correio.


O mercado já dá sinais de recuperação, o Banco Central sinaliza isso com a queda de juros, mas ainda estamos no período de crise. Em que setores da economia o BRB vê oportunidade de bons negócios?

Ainda não estão claros os efeitos dos ajustes econômicos. Olhando a médio e longo prazo, o setor imobiliário terá uma retomada lenta, mas gradual. O setor de serviços foi muito afetado pela crise geral e local, mas também entrará num período de recuperação, ainda mais agora, com o GDF colocando em dia seus contratos. O mesmo acontecerá com o comércio. O cenário também é bom para a pessoa física, diante da redução de juros promovida pelo Banco Central. O alívio da taxa de juros é bom para a economia como um todo. Alguns analistas falam em queda de 1 ponto percentual na Selic na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária). Naturalmente, isso incentivará o empresário a voltar a investir. Neste cenário, o BRB está preparado para a retomada da atividade econômica.

A carteira de crédito do BRB tem inadimplência bem menor do que a de bancos convencionais, porque tem muitos servidores públicos como clientes. O que esse público tem demandado?

A maior demanda é pelo crédito consignado. É o produto mais barato e a inadimplência é de 0,6% a 0,8% ao mês, e facilmente recuperado depois. Mas não atuamos só no Distrito Federal e temos consignado de outros estados, por meio da Financeira do BRB. De uma carteira de R$ 8 bilhões da pessoa física, R$ 1,3 bilhão vem do consignado da Financeira. Em Brasília, a renda per capita é alta e temos essa vantagem.


O BRB precisará de um aporte do controlador para cumprir as normas de Basileia 3?

O banco sempre sobreviveu com a incorporação de resultados ao longo do tempo. Faz-se a distribuição do que é previsto e o restante é incorporado ao patrimônio. Nós temos um patrimônio nível 1, bastante adequado. Já estamos praticamente adequados às normas de Basileia. Não há necessidade de aporte do controlador nos próximos três anos. Nunca tivemos aporte dos acionistas e temos a possibilidade de distribuir mais resultados.


O BRB fechou o ano com um resultado expressivo, o segundo melhor de sua história, com lucro líquido de R$ 200,5 milhões. Como será a distribuição dos dividendos?

A proposta é distribuir 25% dos resultados ao longo do ano entre os acionistas, fazer a reserva legal, e, o restante, reinvestir no patrimônio. A assembleia está marcada para 28 de abril.


Qual foi o desafio do banco nesses últimos dois anos e que ajudou a levar a esse resultado?

Conceder linhas de financiamento mais adequadas às necessidades dos clientes. Antes, tínhamos, em uma mesma linha, oferta para capital de giro e para investimento. Separamos. No caso da pessoa física, refinanciamento e renegociação também eram juntos. Separamos para deixar claro o que era cada produto. Investimos em treinamento para mostrar como deve ser o atendimento e promovemos a renegociação dos superendividados. Percebemos que tínhamos que fazer diferente.


Há dois anos, quando o senhor assumiu o comando do banco, anunciou investimento em tecnologia, como estão esses projetos?

Estamos num processo de migração de mainframe. O BRB talvez seja um único banco do Brasil, talvez da América Latina, a usar computadores Unisys. Compramos equipamentos da IBM e estamos fazendo a transferência de dados para esse computador central, mais moderno. Esse processo deve ser concluído no fim do primeiro semestre de 2018. Demos continuidade à integração dos dados e processos da empresa em um único sistema por meio do SAP (software de gestão que aumenta o nível de governança, transparência e controle). Entre a última semana de dezembro e a primeira de janeiro deste ano, nenhum dos diretores saiu de férias. Estávamos todos focados nesse processo. Foi tenso, mas deu tudo certo. O processo terá continuidade ao longo deste ano. No projeto multicanal, primeiro ofertamos o mobile. Já atualizamos a versão para um modelo mais moderno. Implantamos uma versão do home bank completamente nova. No passado, empresas deixaram de trabalhar conosco porque não tínhamos ferramentas adequadas. Vamos concluir, em abril, a troca de todas as máquinas de autoatendimento. Tínhamos algumas com prazo de validade vencendo. As novas são mais seguras e reforçadas e já vêm com o sistema de biometria. E o BRB é sócio da Global Payments. Temos 10% da empresa e essa é uma parceria bastante importante e com resultado na linha de pagamento. Teremos como ofertar condições diferenciadas para os empresários.

O BRB está satisfeito com a capilaridade do banco ou o tamanho atual está bom?

Pensamos em expandir a presença do BRB, mas de outra forma. Não com a presença física, mas com o banco digital, com menos custos, seguindo a tendência do que está acontecendo no mercado. A Financeira do BRB está trabalhando fortemente nisso. Então, devemos investir em uma agência física que centralizará todo o público e servirá de base para a expansão do banco digital. Estamos participando de todos os fóruns de discussão sobre o assunto e avaliando qual a melhor forma para fazer a expansão e ter retorno. O investimento nos meios de pagamento é um caminho, por meio da Global Payments. No passado, ela teve alguns problemas com tecnologia, mas estão sendo superados. Em breve, passará todos os cartões e não somente o Visa e o Master. Temos uma carteira na área rural e estamos preparados para crescer. Nossa carteira é de R$ 400 milhões. Este ano, vamos ampliar a oferta de crédito em R$ 100 milhões e, para 2018, mais R$ 100 milhões. Em uma parceria com a Secretaria de Trabalho, teremos, a partir de abril, R$ 10 milhões para oferecer microcrédito para pequenas comunidades, fomentando o desenvolvimento delas.


Com um resultado histórico como esse, o desafio para 2018 é imenso. Qual é a perspectiva, levando em conta que o país ainda está em crise?

Apresentamos os resultados e dissemos que é daqui para cima. Vamos trabalhar para manter ou superar os resultados. As arrumações dos últimos dois anos permitiram chegar a essa marca histórica. O objetivo do BRB é crescer com segurança e sustentabilidade, ganhando mercado, atuando em novas frentes, com operações seguras. Por isso temos projetos importantes e os resultados foram positivos.

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